Ficção. Praxe, uma tradição que salva os jovens


Devemos muito à praxe. Se não fosse a praxe, os estudantes estavam sempre a protestar e a chatearem-nos com os seus planos para a paz no mundo, salvar golfinhos, etc. Enquanto estão na praxe, não chateiam. Além disso, a praxe salvou-nos de inúmeras bandas alternativas 


A praxe é das tradições que mais tem feito pelos jovens deste país. Quando um jovem de 17 e 18 anos chega ao ensino superior é um ser imaturo, irresponsável, que acha que tem sempre razão e que acredita que pode mudar o mundo. É aí que surge a praxe, para estes jovens radicais serem postos no lugar pelos seus colegas mais velhos.
É muito importante a influência conservadora dos colegas mais velhos, que dizem aos caloiros: “Mudar o mundo? Olha-me este. Tu aqui não és ninguém, puto. És um bicho. Coloca estas orelhas de burro, olha para o chão e grita aquilo que eu mando. Porque estou vestido de negro e sei mais do mundo que tu. E se não me obedeces ficas de quatro.”

A praxe serve para acalmar o ímpeto revolucionário dos jovens e dá-lhes uma preciosa lição para a vida. Se querem ser alguém, têm de obedecer e ouvir os mais velhos. A rebeldia não os leva a lado nenhum. A praxe é aquela chapada de realismo pragmático e humildade de que os adolescentes precisam. É o antídoto contra o veneno do radicalismo. A melhor maneira de lidarmos com radicais é colocarmo-lhes orelhas de burro na cabeça, porque é uma excelente descrição visual daquilo que eles são na realidade.

Devemos muito à praxe. Se não fosse a praxe, os estudantes estavam sempre a protestar e a chatearem-nos com os seus planos para a paz no mundo, salvar golfinhos, etc. Enquanto estão na praxe, não chateiam. Além disso, a praxe salvou-nos de inúmeras bandas alternativas. Se querem fazer música, vão para a tuna cantar música boa e alegre que sobreviveu ao teste do tempo. Não precisam de ser os próximos Radiohead. Já há bandas alternativas que cheguem. Não precisamos de mais música depressiva. Trocava todo o reportório dos Radiohead pela “Mulher Gorda” e pela “Madalena.”

Se não houvesse praxe não havia integração e amizade entre os jovens. Os jovens são solitários e gostam de estar cada um para seu lado a brincar com o telemóvel. A praxe obriga-os a juntarem-se e, como são maltratados pelos “Doutores”, criam uma ligação entre eles que, em circunstâncias normais, nunca criariam. Enquanto estão no chão de 4 e a serem humilhados, os caloiros unem-se através do sofrimento. É muito bonito e, se funciona no exército ou em campos de concentração, também funciona nas Universidades. O exército prepara soldados para cenários de guerra. A Universidade prepara pessoas para a competitiva guerra do mundo do trabalho, que é bem pior do que muitas guerras reais. Acham que é difícil viver na Síria? Experimentem passar uma semana comigo no Goldman Sachs.

Na praxe, os estudantes aprendem a respeitar quem manda e a obedecer a quem sabe mais, o que são competências fundamentais para triunfar nos dias de hoje. O mercado do trabalho não precisa de rebeldes, precisa de profissionais competentes que saibam obedecer sem protestar e que façam aquela milha extra para agradar a quem manda. A praxe integra os estudantes mas, sobretudo, cria profissionais de sucesso.
Se há problema na praxe é começar tarde demais. Os estudantes deviam começar a ser praxados no secundário, mesmo antes de escolherem o seu curso. É nesta fase que os estudantes mais precisam de levar uma chapada de realidade, que lhes mostre que a vida não é um mar de rosas e que o mercado do trabalho não trata bem pessoas irresponsáveis. Isto salvaria muitos estudantes da irresponsabilidade de escolher entrar em Sociologia, hipotecando as suas hipóteses de um futuro decente.

Não consigo respeitar cursos que podiam muito bem ser ações de formação do IEFP de 25 horas. Gerar doutores em Sociologia é olear a máquina da subsídio-dependência.

Querer ser sociólogo não é querer ter uma profissão, é querer ser um pacman da FCT. Um sociólogo não produz riqueza, desproduz riqueza. Quem é que quer contratar um sociólogo?

– Boa tarde, o senhor sabe criar macros em Excel?

– Não, mas sei analisar as etnias presentes na sua empresa para concluir que o senhor é racista.

O problema é que a praxe só surge quando já é demasiado tarde para não se ir para Sociologia.


Ficção. Praxe, uma tradição que salva os jovens


Devemos muito à praxe. Se não fosse a praxe, os estudantes estavam sempre a protestar e a chatearem-nos com os seus planos para a paz no mundo, salvar golfinhos, etc. Enquanto estão na praxe, não chateiam. Além disso, a praxe salvou-nos de inúmeras bandas alternativas 


A praxe é das tradições que mais tem feito pelos jovens deste país. Quando um jovem de 17 e 18 anos chega ao ensino superior é um ser imaturo, irresponsável, que acha que tem sempre razão e que acredita que pode mudar o mundo. É aí que surge a praxe, para estes jovens radicais serem postos no lugar pelos seus colegas mais velhos.
É muito importante a influência conservadora dos colegas mais velhos, que dizem aos caloiros: “Mudar o mundo? Olha-me este. Tu aqui não és ninguém, puto. És um bicho. Coloca estas orelhas de burro, olha para o chão e grita aquilo que eu mando. Porque estou vestido de negro e sei mais do mundo que tu. E se não me obedeces ficas de quatro.”

A praxe serve para acalmar o ímpeto revolucionário dos jovens e dá-lhes uma preciosa lição para a vida. Se querem ser alguém, têm de obedecer e ouvir os mais velhos. A rebeldia não os leva a lado nenhum. A praxe é aquela chapada de realismo pragmático e humildade de que os adolescentes precisam. É o antídoto contra o veneno do radicalismo. A melhor maneira de lidarmos com radicais é colocarmo-lhes orelhas de burro na cabeça, porque é uma excelente descrição visual daquilo que eles são na realidade.

Devemos muito à praxe. Se não fosse a praxe, os estudantes estavam sempre a protestar e a chatearem-nos com os seus planos para a paz no mundo, salvar golfinhos, etc. Enquanto estão na praxe, não chateiam. Além disso, a praxe salvou-nos de inúmeras bandas alternativas. Se querem fazer música, vão para a tuna cantar música boa e alegre que sobreviveu ao teste do tempo. Não precisam de ser os próximos Radiohead. Já há bandas alternativas que cheguem. Não precisamos de mais música depressiva. Trocava todo o reportório dos Radiohead pela “Mulher Gorda” e pela “Madalena.”

Se não houvesse praxe não havia integração e amizade entre os jovens. Os jovens são solitários e gostam de estar cada um para seu lado a brincar com o telemóvel. A praxe obriga-os a juntarem-se e, como são maltratados pelos “Doutores”, criam uma ligação entre eles que, em circunstâncias normais, nunca criariam. Enquanto estão no chão de 4 e a serem humilhados, os caloiros unem-se através do sofrimento. É muito bonito e, se funciona no exército ou em campos de concentração, também funciona nas Universidades. O exército prepara soldados para cenários de guerra. A Universidade prepara pessoas para a competitiva guerra do mundo do trabalho, que é bem pior do que muitas guerras reais. Acham que é difícil viver na Síria? Experimentem passar uma semana comigo no Goldman Sachs.

Na praxe, os estudantes aprendem a respeitar quem manda e a obedecer a quem sabe mais, o que são competências fundamentais para triunfar nos dias de hoje. O mercado do trabalho não precisa de rebeldes, precisa de profissionais competentes que saibam obedecer sem protestar e que façam aquela milha extra para agradar a quem manda. A praxe integra os estudantes mas, sobretudo, cria profissionais de sucesso.
Se há problema na praxe é começar tarde demais. Os estudantes deviam começar a ser praxados no secundário, mesmo antes de escolherem o seu curso. É nesta fase que os estudantes mais precisam de levar uma chapada de realidade, que lhes mostre que a vida não é um mar de rosas e que o mercado do trabalho não trata bem pessoas irresponsáveis. Isto salvaria muitos estudantes da irresponsabilidade de escolher entrar em Sociologia, hipotecando as suas hipóteses de um futuro decente.

Não consigo respeitar cursos que podiam muito bem ser ações de formação do IEFP de 25 horas. Gerar doutores em Sociologia é olear a máquina da subsídio-dependência.

Querer ser sociólogo não é querer ter uma profissão, é querer ser um pacman da FCT. Um sociólogo não produz riqueza, desproduz riqueza. Quem é que quer contratar um sociólogo?

– Boa tarde, o senhor sabe criar macros em Excel?

– Não, mas sei analisar as etnias presentes na sua empresa para concluir que o senhor é racista.

O problema é que a praxe só surge quando já é demasiado tarde para não se ir para Sociologia.