Vamos partir do princípio de que o PS não está acorrentado à ideologia do Bloco e não é usado para implementar algumas medidas dessa ideologia a troco de uma manutenção fugaz no poder. Vamos partir do princípio de que o PS não mudou. Que não se radicalizou à mercê dos Galambas, das Moreiras e dos Nunos Santos desta vida. Que não se deixa cavalgar pela extrema-esquerda precursora de um neo-socialismo capaz de debelar todos os limites.
Se partirmos deste princípio, então é muito grave que o PS tenha aplaudido com entusiasmo a receita prescrita por Mariana Mortágua na sua rentrée. “Perder a vergonha e ir buscar a quem está a acumular dinheiro” é a receita espiritual para a redução das desigualdades sociais. Sacar a quem tem dinheiro e quem o acumulou. Esbulhar quem acumulou riqueza, ou seja, quem poupou por via do seu trabalho já tão amplamente tributado.
Que Mortágua entenda que a aspiração à riqueza seja ilegítima, nós até compreendemos. Essa tem sido a sua doutrina político-familiar e, portanto, não pode ser recebida com espanto. Claro que hoje as armas são outras, mas o objetivo é o mesmo.
Já o PS, é outra conversa. O PS, que se acobardou na aprovação do combate ao enriquecimento ilícito e que se viu obrigado a criar um mecanismo de autorregulação para evitar que o seu governo caísse em tentação, vir agora alinhar num saque ao património de quem trabalhou uma vida é revelador da farsa em que estamos metidos.
Mas a situação piora e o nosso inefável PM faz por isso. A intenção de democratização da vida privada com o acesso aos saldos bancários é a nova medida de combate à “opacidade” da vida privada dos cidadãos, mesmo quando isso põe em causa direitos fundamentais evidentes. É a política do vale-tudo a imperar.