Britney Spears. Oops!… She  (finally) did it again

Britney Spears. Oops!… She (finally) did it again


Aos 34 anos, a cantora regressou com “Glory”, um álbum que prova que a princesa da pop, afinal, ainda não está disposta a atirar a toalha ao chão.Mas a atuação nos VMA, da MTV, esteve longe de ser unânime


Não deve ser fácil ser Britney Spears. Mulher a quem simultaneamente exigem que continue a ser a princesa adolescente e cobram que não cresça; cantora que marcou uma geração que ainda hoje não resiste a trautear temas como “Baby One More Time”, “Oops!… I Did It Again”, “Toxic” e “Gimme More”, mas a quem, ao mesmo tempo, há muito se vaticina a decadência criativa.

Mais, não deve ser fácil ser tudo isto, ser falível, ser humana, ter uma depressão e meltdowns públicos que incluem rapar o cabelo e conduzir com um filho bebé ao colo, sair de casa a deambular apenas com um fato de treino, ser apanhada em playback frequentemente… Ser tudo isto, mas assumi-lo. E assumi-lo num mercado tão cruel como o da música. Mas assim é Britney Spears. E, aos 34 anos, quando já se pensava que não haveria forma de contrariar um percurso mais próximo da decadência do que da genialidade, a cantora lança “Glory”, e consegue o aplauso da crítica e dos fãs de uma assentada só. “É muito diferente. Não é nada do que as pessoas possam esperar”, disse, em março, à “V Magazine”, a propósito do trabalho que se preparava para lançar. E não mentiu. “Glory”, o seu nono álbum de estúdio, chega quase a ser uma chapada na cara daqueles que já tinham encomendado os pregos para o seu caixão.

“Glory” chega três anos depois de  “Britney Jean”, álbum apresentado pela própria Britney Spears como o seu trabalho “mais pessoal de sempre”, mas que acabou por se revelar como um dos maiores fracassos do seu percurso e levar a um (consequente?) retiro das lides dos discos e tournées, assumindo uma residência em Las Vegas, no Planet Hollywood Resort & Casino, com o espetáculo “Britney: Piece of Me”.

A mudança para o recreio dos adultos, vista para tantos outros artistas como uma espécie de reforma dourada, forma de arrecadar dólares numa carreira já sem espaço para continuar, revelou-se afinal um passo acertado. Quando, a 4 de fevereiro, Britney Spears chegar ao fim desta residência em Las Vegas, depois de uma série de 199 concertos, sairá da cidade do jogo mais forte como artista e com um álbum que, apesar de ter sido editado há apenas três dias, é já considerado um dos melhores álbuns do seu percurso artístico, juntamente com “Blackout” (2007), “In the Zone” (2003) e, claro, o incontornável “Baby One More Time”. 

“Glory” não é mais um álbum da teenager considerada a princesa da pop, não é o álbum de alguém que quer replicar fórmulas que já se provaram bem sucedidas, não é o álbum da jovem mulher que sentiu que tinha de fazer um mea culpa em forma de álbum. Tão pouco é um álbum de alguém que desistiu. É, isso sim, um álbum de alguém que quer gritar bem alto que ainda está viva, que ainda tem algo a dizer. E que quer marcar a diferença. É um álbum de pop, mas também de hip hop e r&b. É um álbum que intenta várias sonoridades, explora várias abordagens, e inclusive revela diversas formas de cantar e várias personas de Britney Spears. É isto que a pop contemporânea deve ser. E se restam dúvidas é ouvir temas como “Invitation”, “Make Me”, “Man on the Moon”, “Do You Wanna Come Over” e “Hard to Forget Ya”.

De repente, a cantora percebeu que tem perto de 20 anos de carreira – “Baby One More Time”, o seu primeiro álbum, foi editado em janeiro de 1999 – e que já não quer ser nem só a menina de totós, camisa branca e saia de pregas, nem só a sensualona de lingerie e serpente ao pescoço. Britney Spears quer ser o que lhe apetecer. Quando lhe apetecer. Como lhe apetecer. Ao longo das 17 canções que compõem este álbum (na versão deluxe), fica claro que a cantora decidiu que estava na hora de tomar as rédeas da sua vida artística – da sua vida pessoal já o tinha feito, deixando para trás dois casamentos falhados (um dos quais que durou apenas dois dias) e guerras pela custódia dos filhos – e escolher o seu rumo artístico.

Para tal escolheu os compositores Júlia Michaels e Justin Tranter. Mas foi sobretudo a parceria com a cantora Karen Kwak, que assina a produção executiva deste álbum e foi a responsável por convencer Britney Spears a escolher apenas jovens produtores que quisessem experimentar novas sonoridades. “Obrigada por me lembrares de que o que eu faço é um sonho, é arte e não um trabalho”, escreveu no álbum, reconhecendo a importância de Kwak na redescoberta do entusiasmo pela sua carreira. E sobretudo no libertar de algumas amarras, como se vê na presença no “Carpool Karaoke”, de James Corden, onde Britney Spears aparece serena e divertida, com ar de quem quer recuperar o tempo perdido, sem no entanto estar excessivamente sôfrega nessa busca. Mas o que também ficou claro, dias depois, quando este fim de semana Britney Spears subiu ao palco dos VMA, prémios da MTV – onde não atuava desde 2007, quando cantou “Gimme More”, numa atuação marcada pela decadência – é que a cantora ainda não se sente totalmente confortável nos palcos, a apresentar este “Glory”. E que continua a fazer playback.