Dr. Tony Carreira, o melhor artista português


Só vamos na segunda geração de Carreiras. É uma dinastia que ainda está no início. Daqui a 50 anos teremos cerca de 500 Carreiras a dominar todo o establishment cultural português


Há um músico português que paira acima de todos os outros, não pela música terrível que faz, mas porque conseguiu triunfar no mercado da música como um self-made man que conseguiu tornar-se o maior artista português vivo. Falo do Dr. Tony Carreira, como é óbvio.

O Dr. Tony Carreira está para a música como o Dr. Pedro Chagas Freitas está para a literatura. Nem um nem outro têm grande talento, mas são excelentes empreendedores com uma excelente visão de mercado que, no fundo, é o mais importante na arte. Eles analisaram o mercado e perceberam que há um conjunto de senhoras com necessidades emocionais. Os seus maridos não estão para as aturar e preferem ficar em casa a beber cerveja. Por isso pagam ao Dr. Pedro Chagas Freitas e ao Dr. Tony Carreira para serem homens sensíveis para as suas esposas, no lugar deles. Assim podem ver futebol à vontade enquanto as mulheres estão na cozinha a trabalhar para eles e a suspirar pelos artistas fofinhos. Deitar essa responsabilidade para cima do Dr. Tony Carreira é uma jogada muito inteligente dos maridos pouco sensíveis destas senhoras que lhes permite salvarem o seu casamento, mantendo a posição confortável de não terem de lidar com as emoções das suas esposas. Porque, por mais sensível que seja, o Dr. Tony Carreira nunca vai dormir com todas as fãs e, enquanto elas estão obcecadas por ele, não prestam atenção a potenciais amantes reais com quem se cruzam no dia-a-dia.

É claro que o Dr. Tony Carreira ganha muito mais do que o Dr. Pedro Chagas Freitas, porque é muito mais fácil ouvir uma música de três minutos do que ler um livro inteiro. Até porque um livro do Dr. Pedro Chagas Freitas consiste apenas num parágrafo que ele repete de várias maneiras, que se lê como um SMS de milhares de carateres de um adolescente com as hormonas aos saltos.

A genialidade do Dr. Tony Carreira, ao explorar este mercado feminino de mulheres com problemas emocionais, levou a que se tornasse um colosso empresarial. Ao ponto de o Continente, para poder vender pepinos, esfregonas e produtos de limpeza a essas senhoras, ter decidido associar-se a ele. Um dia, o Dr. Tony Carreira ainda vai tornar-se CEO da Sonae. Consegue vender mais produtos a donas de casa do que qualquer outra pessoa. Até eu olho para o Dr. Tony Carreira e fico com vontade de comprar couve-galega, bacalhau e um cachecol da seleção.

O Dr. Tony Carreira nem precisa de escrever músicas originais. Ele só tem de copiar uma xaropada mexicana qualquer e fazer um ar de homem sensível, que as suas fãs vão sempre comprar. A música é secundária. O Dr. Tony Carreira podia lançar um álbum em que repetia mil vezes a palavra “pinheiro” que era um sucesso.

O Dr. Tony Carreira, analisando o seu sucesso, tomou a decisão de criar um franchise do seu nome. Produziu dois clones e colocou-os a render no mundo da música, para diferentes targets. O primeiro, o Dr. Mickael, canta música para aquelas senhoras que gostam de música latina, mas não o suficiente para se darem ao trabalho de ouvir alguém a cantar em castelhano. O Dr. David Carreira produz música para um público mais urbano, com as suas ligações ao mundo do gangsta rap norte-americano, tendo até colaborado com o Dr. Snoopy Dog. A única coisa que os três têm em comum é que a música deles é intemporal: é uma porcaria hoje e será uma porcaria até ao final dos tempos. Mas isso não importa.
Só vamos na segunda geração de Carreiras. É uma dinastia que ainda está no início. Daqui a 50 anos teremos cerca de 500 Carreiras a dominar todo o establishment cultural português. A continuar assim, os únicos intelectuais do país vão ser da família Carreira. Mas a culpa não é deles. Se chegaram a esse nível é porque mereceram e não estiveram parados à espera de subsídios para executarem a sua arte. Encontraram uma necessidade e triunfaram no mercado. Continuará a haver hipóteses para artistas de fora da família Carreira, desde que triunfem no mercado. Mas não vai ser fácil.

Dificilmente alguém conseguirá ser tão bom como eles.


Dr. Tony Carreira, o melhor artista português


Só vamos na segunda geração de Carreiras. É uma dinastia que ainda está no início. Daqui a 50 anos teremos cerca de 500 Carreiras a dominar todo o establishment cultural português


Há um músico português que paira acima de todos os outros, não pela música terrível que faz, mas porque conseguiu triunfar no mercado da música como um self-made man que conseguiu tornar-se o maior artista português vivo. Falo do Dr. Tony Carreira, como é óbvio.

O Dr. Tony Carreira está para a música como o Dr. Pedro Chagas Freitas está para a literatura. Nem um nem outro têm grande talento, mas são excelentes empreendedores com uma excelente visão de mercado que, no fundo, é o mais importante na arte. Eles analisaram o mercado e perceberam que há um conjunto de senhoras com necessidades emocionais. Os seus maridos não estão para as aturar e preferem ficar em casa a beber cerveja. Por isso pagam ao Dr. Pedro Chagas Freitas e ao Dr. Tony Carreira para serem homens sensíveis para as suas esposas, no lugar deles. Assim podem ver futebol à vontade enquanto as mulheres estão na cozinha a trabalhar para eles e a suspirar pelos artistas fofinhos. Deitar essa responsabilidade para cima do Dr. Tony Carreira é uma jogada muito inteligente dos maridos pouco sensíveis destas senhoras que lhes permite salvarem o seu casamento, mantendo a posição confortável de não terem de lidar com as emoções das suas esposas. Porque, por mais sensível que seja, o Dr. Tony Carreira nunca vai dormir com todas as fãs e, enquanto elas estão obcecadas por ele, não prestam atenção a potenciais amantes reais com quem se cruzam no dia-a-dia.

É claro que o Dr. Tony Carreira ganha muito mais do que o Dr. Pedro Chagas Freitas, porque é muito mais fácil ouvir uma música de três minutos do que ler um livro inteiro. Até porque um livro do Dr. Pedro Chagas Freitas consiste apenas num parágrafo que ele repete de várias maneiras, que se lê como um SMS de milhares de carateres de um adolescente com as hormonas aos saltos.

A genialidade do Dr. Tony Carreira, ao explorar este mercado feminino de mulheres com problemas emocionais, levou a que se tornasse um colosso empresarial. Ao ponto de o Continente, para poder vender pepinos, esfregonas e produtos de limpeza a essas senhoras, ter decidido associar-se a ele. Um dia, o Dr. Tony Carreira ainda vai tornar-se CEO da Sonae. Consegue vender mais produtos a donas de casa do que qualquer outra pessoa. Até eu olho para o Dr. Tony Carreira e fico com vontade de comprar couve-galega, bacalhau e um cachecol da seleção.

O Dr. Tony Carreira nem precisa de escrever músicas originais. Ele só tem de copiar uma xaropada mexicana qualquer e fazer um ar de homem sensível, que as suas fãs vão sempre comprar. A música é secundária. O Dr. Tony Carreira podia lançar um álbum em que repetia mil vezes a palavra “pinheiro” que era um sucesso.

O Dr. Tony Carreira, analisando o seu sucesso, tomou a decisão de criar um franchise do seu nome. Produziu dois clones e colocou-os a render no mundo da música, para diferentes targets. O primeiro, o Dr. Mickael, canta música para aquelas senhoras que gostam de música latina, mas não o suficiente para se darem ao trabalho de ouvir alguém a cantar em castelhano. O Dr. David Carreira produz música para um público mais urbano, com as suas ligações ao mundo do gangsta rap norte-americano, tendo até colaborado com o Dr. Snoopy Dog. A única coisa que os três têm em comum é que a música deles é intemporal: é uma porcaria hoje e será uma porcaria até ao final dos tempos. Mas isso não importa.
Só vamos na segunda geração de Carreiras. É uma dinastia que ainda está no início. Daqui a 50 anos teremos cerca de 500 Carreiras a dominar todo o establishment cultural português. A continuar assim, os únicos intelectuais do país vão ser da família Carreira. Mas a culpa não é deles. Se chegaram a esse nível é porque mereceram e não estiveram parados à espera de subsídios para executarem a sua arte. Encontraram uma necessidade e triunfaram no mercado. Continuará a haver hipóteses para artistas de fora da família Carreira, desde que triunfem no mercado. Mas não vai ser fácil.

Dificilmente alguém conseguirá ser tão bom como eles.