As novas tecnologias mudaram completamente a vida das pessoas. Hoje em dia, muitos trabalhos que eram feitos por humanos são executados por robôs. Por exemplo, noutros tempos as caixas Multibanco consistiam em pessoas que nos davam o dinheiro que pedíamos.
Hoje, aquele boneco verde substituiu todas as pessoas que faziam o trabalho de Caixa Multibanco. Em pouco tempo, muitos outros trabalhos serão substituídos por bonecos verdes e robôs, o que aumentará o desemprego. Isto é bom porque vai obrigar as pessoas a serem empreendedoras e a criarem o seu próprio emprego, em vez de se acomodarem a trabalhos que podem ser feitos por robôs. No entanto, é óbvio que existirão sempre pessoas que vão manter-se desempregadas. Afinal, são incompetentes que só conseguiram arranjar trabalhos que podem ser feitos por robôs e nunca serão empreendedores de sucesso.
Felizmente, as novas tecnologias também conseguirão resolver esse problema. Uma solução poderá ser o recurso à criogenação. Ora vejamos, se uma pessoa que perde o emprego for imediatamente congelada, não precisará de passar um único dia desempregada. Em vez de ir para casa deprimir, fica num armazém e só é descongelada quando o robô que ficou encarregado de enviar CVs por ela arranjar alguma coisa. O que pode demorar um ano ou 1 milhão de anos, mas eventualmente vai acontecer porque, ao contrário dos humanos, os robôs não falham. A criogenação também pode resolver os problemas da Segurança Social.
Com o envelhecimento da população a Segurança Social tornou-se insustentável. Não há gente suficiente a trabalhar para pagar as reformas. Para agravar, hoje em dia os velhos vivem muito mais tempo. Uma solução para este problema poderia ser congelá-los. Não para sempre, claro. Seriam descongelados periodicamente em dias à sua escolha. Podiam ser só descongelados no Natal ou aos domingos.
Assim, a Segurança Social só precisava de pagar as reformas equivalentes aos dias em que os velhos estavam descongelados. É uma solução que seria vantajosa para toda a gente: para os velhos, visto que a vida deles é maçadora e, assim, podiam escolher os seus dias preferidos para viver; para as famílias porque não tinham de lidar com os seus idosos a fazerem-nos sentir-se culpados por não telefonarem e para o Estado, que não precisava de despender tanto dinheiro em pessoas que não trabalham. Sobretudo era interessante porque os velhos acabavam por durar muito mais tempo e as pessoas poderiam conhecer os seus antepassados mais longínquos. A criogenação permitiria ter 10 gerações a celebrarem o Natal, por exemplo.
Domingo poderia ser o dia de descongelar os idosos. As pessoas punham-nos a descongelar no Sábado à noite e passavam o Domingo com eles. Eles iam à missa, almoçavam com a família, viam a bola e ao fim do dia eram congelados de novo. Haverá vida melhor para um idoso do que uma vida em que todos os dias são Domingo ou o dia em que o seu clube é campeão? Os idosos andam a perder tempo precioso a viver durante dias em que não se passa nada, quando podiam estar a viver a felicidade pura. Numa altura de crise, congelar as pessoas que, por incompetência ou idade, não podem dar a mesma contribuição de pessoas úteis como eu ou o leitor, pode ser uma solução para todos os nossos problemas de produtividade. É complicado para nós, estarmos a trabalhar em prol da economia e termos de estar constantemente a aturar as lamúrias de desempregados ou de velhos que acham que nós temos tempo para falar com eles todos os dias. Se estiverem enfiados numa câmara frigorífica, nós podemos trabalhar à vontade na construção de um Mundo melhor para os dias em que eles estão descongelados.
Espero que esta crónica incentive os cientistas a apressarem as suas investigações sobre a criogenação. O filme “2001 Odisseia no Espaço” já saiu em 1968, 2001 já foi há 15 anos e ainda não vi progressos nenhuns na área da criogenação de humanos. Uma pessoa sabe que os cientistas andam a trabalhar mal quando são ultrapassados pela ficção científica.