Os 30 são os novos 20?

Os 30 são os novos 20?


Ronaldo atingiu o topo com 31 anos, campeão europeu de clubes e na seleção (como ele Pepe, com 33 anos). Ibrahimovic decidiu o seu futuro entre dois dos maiores colossos do futebol à beira dos 35 anos. Agora são os trintões que mandam.


Zlatan Ibrahimovic chegou a Paris como um rei e saiu como uma lenda. A frase é do sueco, cheio de pompa. A circunstância foi dele, que decidiu deixar o PSG. Com 34 anos (faz 35 em outubro) é ele quem decide o seu futuro. Não só decide como aterra diretamente num dos maiores clubes do mundo, Manchester United, acabadinho de assinar contrato com um dos mais carnívoros treinadores que é José Mourinho – ou seja, com uma idade que há uns anos seria considerado acabado, Zlatan não só é dono e senhor da camisola 9 (e Martial ficou muito chateado com isso) como mostra estar no auge das suas capacidades. O que mudou então para os 30 anos já não serem a meta, mas sim um ponto de partida para a segunda parte da carreira desportiva, mais fortes mentalmente e com a experiência emocional controlada?

Eusébio sempre destacou a importância de uma vida regrada: “Para se ser um futebolista de dimensão internacional não basta ter talento. É preciso uma vida regrada e fugir dos vícios”. Ele que jogou sempre ao mais alto nível no Benfica, entre 1960 e 1975, mas aqui terá valido mais o portentoso e excepcional físico do avançado do que propriamente os cuidados que hoje existem. As excepções nunca são a norma portanto, como a senhora Josie Silo, a irlandesa que chegou esta semana aos 100 anos, nunca fez desporto e o segredo, conta, é “apreciar os prazeres simples da vida”. Isso e ir à missa e não fumar.

Voltando à alta competição, Zlatan – que alcançou um recorde de 50 golos em todas as competições a época passada – é um exemplo de como as coisas no futebol mudaram. Carlo Ancelotti, o seu treinador nos tempos do PSG (2012-13), lembra que não há razões a temer pela sua quebra física. “Jogadores diferentes operam de diferentes maneiras e Ibra sabe guardar-se para os grandes momentos”, escreveu o italiano, agora técnico do Bayern, na sua coluna no “Daily Telegraph”. “Eu sei que ele tem 34 anos mas qualquer pessoa que tenha trabalhado de perto com futebolistas – e saiba uma coisa ou duas acerca de fitness e endurance – consegue ver que Ibra não é o tipo normal de 34 anos”.

Além das rigorosas dietas, depois de cada jogo a recuperação consiste agora em banhos de gelo e roupas de compressão, roupas que são feitas especialmente moldadas para promover a circulação sanguínea, aumentar o fluxo de oxigénio dos músculos e que ajudam a espalhar o suor. 

Pegámos nas perguntas (algumas são elas próprias respostas) do treinador João Carlos Pereira quando na sua opinião no “Público” se questionava acerca da renovação de contrato de Ryan Giggs quando este tinha acabado de fazer 40 anos. “Como pode um jogador manter-se no topo até aos 40 anos de idade? Será que outros futebolistas poderiam igualmente ter chegado a esta marca com o treinador adequado? O que leva um clube com a dimensão do United a manter um atleta nestas condições? O que pode ele dar ao clube e à equipa? Como deve um treinador gerir um futebolista nestas circunstâncias? Após a sua retirada, não há dúvidas que vai acontecer um dia, como pode o seu capital de experiência acumulada ser aproveitado num clube?”. Agora é cada vez mais comum os futebolistas ultrapassarem os 30 anos – essa idade barreira no futebol – e, antes de estarem em declínio, estão no auge da forma como Messi (29 anos) ou Cristiano Ronaldo (31).

O argentino e o português estão intocáveis no seu duopólio mundial, dividem o poder entre os dois e não se vislumbra ninguém que lhes possa fazer frente. Messi está perto dos 30 anos mas longe de se reformar, enquanto CR acabou de ganhar um título pela seleção de Portugal (inédito na história do futebol português) com a conquista do Campeonato da Europa, um mês depois de ter vencido a Liga dos Campeões – feito que só sete jogadores tinham conseguido antes. Agora, só ele e Pepe: o luso-brasileiro tem ainda mais dois anos que o madeirense, 33 anos. Segundo Carlos Pereira, “são muito fortes mentalmente, treinam nos limites e sabem que o descanso é parte integrante e complementar do treino”. Os 30 são os novos 20, pronto.