Devo começar por dizer que é enorme o meu orgulho pelos jovens futebolistas portugueses da seleção de sub-19 que chegaram à meia-final do recente campeonato da Europa dessa categoria enfrentando a seleção congénere francesa que, nesse confronto, conseguiu passar à final.
Chegar a uma meia-final de uma competição europeia é um feito só ao alcance de quatro, ou seja, é estar entre os quatro melhores que nesse ano competiram nessa modalidade. O que é sempre muito bom. Mas nunca incomparável, mesmo quando falamos de gente muito especial.
Às vezes temos a tentação de nivelar tudo, de pôr tudo ao mesmo nível, seja num nível superior seja num nível inferior. Nada mais errado para a nossa vontade de nos superarmos. Pior ainda, nada mais tentador para inventarmos a competição onde julgamos ser mais fortes: um campeonato europeu, naturalmente inexistente, de jogos tradicionais portugueses.
Num idealizado campeonato assim, não haveria Islândia, Croácia, Itália, França ou qualquer outro dos mais pintados países do mundo que nos batesse. Em todos os Europeus dessas modalidades seríamos sempre os melhores do mundo. E talvez até reclamássemos reconhecimentos públicos e nacionais nunca inferiores aos concedidos a outros cujas competições foram bem mais reais e difíceis.
O mês de julho foi muito bom para o nosso ego de portugueses. Ouvimos o nosso hino em vários momentos de glória do nosso desporto. Habituamo-nos de tal maneira que sonhamos – talvez até exigimos – que essa onda continue por agosto, o mês dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, onde também estamos com uma forte presença olímpica.
Muitos ainda recordam a medalha de Carlos Lopes, a primeira em ouro ganha por um português nuns Jogos Olímpicos, ou a de Rosa Mota, na emotiva maratona de Seul em 1988, vista em direto pela televisão a altas horas da madrugada por força da enorme diferença horária. Como se nós, portugueses, fossemos todos, nesses Jogos, campeões olímpicos.
E fomos. Sem o esforço da enorme preparação que entrar numa maratona exige, enorme esforço diferente do tam bém enorme esforço despendido pelos futebolistas que são chamados a formar uma seleção nacional, ou dos hoquistas, ou dos velejadores, ou dos remadores, com mais ou menos de 19 anos.
Com naturalidade, sem aqueles nivelamentos absurdos, devemos saber comparar o que é comparável e negarmo--nos a estabelecer uma bitola única para as glórias, como se os esforços que despendemos para as alcançar, em função até do universo da própria competição, não fossem muito diferentes.
Um T0 para alojamento local não é igual a um estúdio para habitação permanente nem deve ser classificado ou premiado da mesma forma. Uma moradia devoluta numa cidade pequena do interior não pode ser avaliada da mesma forma que uma moradia devoluta no centro histórico de uma cidade do litoral.
Será mais popular pensar o contrário mas não é, necessariamente, mais correto ou adequado. Eis um rigor que se exige a tudo, economia e política incluídas.
Presidente da APEMIP