Munique: desinformação e ansiedade coletiva


Naquela tarde de sexta-feira, as noticias apontavam para mais um ataque terrorista em solo europeu. Desta vez, um tiroteio meio atabalhoado e sem grandes indícios de planificação levado a cabo por um jovem germano-iraniano de seu nome Ali David Sonboly.


Não bastou muito para que as televisões, através da maioria dos seus comentadores, indicassem, nas primeiras horas, que poderíamos estar perante mais um atentado do grupo radical islâmico Daesh/EI. 

Talvez bastasse perceber o étimo da palavra Ali, que remonta ao primo e genro de Maomé apontado como seu sucessor e fundador de uma das principais correntes do islamismo: os xiitas.

Ora o Daesh/EI é uma organização fundamentalista wahhabita, ou seja, ultraconservadora, do islamismo sunita. Como tal, era difícil, talvez impossível, que um dos seus operacionais atuasse com nome de nascimento xiita. 

Claro que tudo o que envolve oriundos ou descendentes de países islâmicos sofre do mal da generalização. Nós, europeus, temos essa trágica tendência para tomar a parte pelo todo e hoje, neste caso em particular, podemos começar a inferir que muito provavelmente foi essa forma de lidar com as coisas que esteve na base deste surto psicótico do jovem Ali, vítima de bullying na escola que, à medida que disparava, gritava “eu sou alemão!”.

Vivemos tempos de ansiedade coletiva. Temos razões para isso. Mas a linha que separa a ansiedade da desinformação e da generalização é muito ténue e pode provocar efeitos sobejamente indesejáveis. 

O Daesh/EI atacou, sim. No dia seguinte em Cabul, contra xiitas que se manifestavam pacificamente. Matou mais 80 pessoas. Mas isso continuamos a ignorar. Como se costuma dizer, “longe da vista, longe do coração”, mas não encarar os atentados fora do espaço europeu como atentados contra nós é meio caminho andado para não vencer o terrorismo.


Munique: desinformação e ansiedade coletiva


Naquela tarde de sexta-feira, as noticias apontavam para mais um ataque terrorista em solo europeu. Desta vez, um tiroteio meio atabalhoado e sem grandes indícios de planificação levado a cabo por um jovem germano-iraniano de seu nome Ali David Sonboly.


Não bastou muito para que as televisões, através da maioria dos seus comentadores, indicassem, nas primeiras horas, que poderíamos estar perante mais um atentado do grupo radical islâmico Daesh/EI. 

Talvez bastasse perceber o étimo da palavra Ali, que remonta ao primo e genro de Maomé apontado como seu sucessor e fundador de uma das principais correntes do islamismo: os xiitas.

Ora o Daesh/EI é uma organização fundamentalista wahhabita, ou seja, ultraconservadora, do islamismo sunita. Como tal, era difícil, talvez impossível, que um dos seus operacionais atuasse com nome de nascimento xiita. 

Claro que tudo o que envolve oriundos ou descendentes de países islâmicos sofre do mal da generalização. Nós, europeus, temos essa trágica tendência para tomar a parte pelo todo e hoje, neste caso em particular, podemos começar a inferir que muito provavelmente foi essa forma de lidar com as coisas que esteve na base deste surto psicótico do jovem Ali, vítima de bullying na escola que, à medida que disparava, gritava “eu sou alemão!”.

Vivemos tempos de ansiedade coletiva. Temos razões para isso. Mas a linha que separa a ansiedade da desinformação e da generalização é muito ténue e pode provocar efeitos sobejamente indesejáveis. 

O Daesh/EI atacou, sim. No dia seguinte em Cabul, contra xiitas que se manifestavam pacificamente. Matou mais 80 pessoas. Mas isso continuamos a ignorar. Como se costuma dizer, “longe da vista, longe do coração”, mas não encarar os atentados fora do espaço europeu como atentados contra nós é meio caminho andado para não vencer o terrorismo.