Não bastou muito para que as televisões, através da maioria dos seus comentadores, indicassem, nas primeiras horas, que poderíamos estar perante mais um atentado do grupo radical islâmico Daesh/EI.
Talvez bastasse perceber o étimo da palavra Ali, que remonta ao primo e genro de Maomé apontado como seu sucessor e fundador de uma das principais correntes do islamismo: os xiitas.
Ora o Daesh/EI é uma organização fundamentalista wahhabita, ou seja, ultraconservadora, do islamismo sunita. Como tal, era difícil, talvez impossível, que um dos seus operacionais atuasse com nome de nascimento xiita.
Claro que tudo o que envolve oriundos ou descendentes de países islâmicos sofre do mal da generalização. Nós, europeus, temos essa trágica tendência para tomar a parte pelo todo e hoje, neste caso em particular, podemos começar a inferir que muito provavelmente foi essa forma de lidar com as coisas que esteve na base deste surto psicótico do jovem Ali, vítima de bullying na escola que, à medida que disparava, gritava “eu sou alemão!”.
Vivemos tempos de ansiedade coletiva. Temos razões para isso. Mas a linha que separa a ansiedade da desinformação e da generalização é muito ténue e pode provocar efeitos sobejamente indesejáveis.
O Daesh/EI atacou, sim. No dia seguinte em Cabul, contra xiitas que se manifestavam pacificamente. Matou mais 80 pessoas. Mas isso continuamos a ignorar. Como se costuma dizer, “longe da vista, longe do coração”, mas não encarar os atentados fora do espaço europeu como atentados contra nós é meio caminho andado para não vencer o terrorismo.