Kelela. Para quem nos partiu o coração

Kelela. Para quem nos partiu o coração


Melhor dizer só assim, há palavras que não devem ser usadas em títulos. Kelela fechou a sua digressão em Lisboa com um concerto que foi sem dúvida um dos melhores desta edição do Super Bock Super Rock.


Não sabemos bem de onde veio essa ideia de que os festivais não podem ser lugares de baladas. Kelela acha que podem, e Kelela pode tudo. É que, desculpem lá, mas "se não gostam de baladas então não gostam de R&B e se não gostam de R&B não estão comigo", diz, e é um bocado isto. Com Kelela estaremos sempre, se tínhamos dúvidas elas desfizeram-se depois dos 50 minutos de eletrónica R&B que veio dar-nos a Lisboa, a encerrar esta sua digressão.

Foi sem dúvida da eletrónica R&B de Kelela um dos melhores concertos desta edição do Super Bock Super Rock. Não houve pala que distorcesse isto, esta voz cheia de tudo que vem mesmo de dentro, amor-às-vezes-raiva a poder tudo, pena ser ainda dia e a entrada não estar fácil neste final de tarde do dia de Kendrick Lamar.

"A minha rave favorita é aquela em que estamos mesmo tristes, oh fuck my life, that's what it is", desabafa como introdução para "A Message", suposições sobre "e se eu fosse tua ex-namorada" escritas em colaboração com o produtor Arca (que já trabalhou com Björk, FKA Twigs e Kanye West), num destilar de qualquer coisa que há de explicar: "Escrevi esta para o mesmo cabrão que me partiu o coração." 

Estamos todos com ela, totalmente com ela, nesta coisa cheia de amor (e de sexo) que já esperávamos se soubéssemos o que é "Hallucinogen", o aclamado EP que editou em 2015. Podíamos não saber. "Para aqueles que não fazem a puta da ideia de quem sou, o meu nome é Kelela", dissera no início, antes de "Floor Show", retirada de "Cut 4 Me", primeiro LP. "E estou aqui para cantar umas canções, basicamente." 

O espírito mantém-se até ao fim, montanha russa entre a emoção e o pé de dançar, até contar que em criança o seu pai a punha em cima de uma mesa e como nunca imaginou que isto se tornasse possível. "Nunca imaginei estar em Lisboa a cantar estas canções de R&B para vocês, amo-vos." Deixa perfeita para "Rewind", mais uma volta na montanha russa de que falávamos, "se não fosse castanha estava a corar, obrigada por tornarem o último concerto da minha tour tão incrível." Obrigada nós.