A espera adivinhava-se longa, mas foi Andrea Leadsom – a menos votada das candidatas eleitas para a final – a decidir que o Reino Unido “necessita imediatamente de uma liderança forte”. Leadsom, que era vista como a opção populista na corrida conservadora pela sucessão de David Cameron, abriu assim a porta à eleição imediata de Theresa May. E Cameron não perdeu tempo: “Na quarta–feira chefiarei o meu último conselho de ministros. Depois irei à Câmara dos Comuns responder às perguntas da oposição. E depois espero ir ao palácio apresentar a minha demissão, para que na quarta-feira à noite já tenhamos um novo primeiro-ministro.”
Aliás, pela primeira vez desde que John Major substituiu Margaret Thatcher, em novembro de 1990, uma nova primeira–ministra. Theresa May, a até aqui ministra do Interior. que até apoiou Cameron na campanha pela permanência europeia, diz–se “honrada” por ter sido escolhida para liderar uma fase decisiva para a nova etapa que o país escolheu viver – fora da UE.
BREXIT É BREXIT E deixa já uma garantia: “Brexit significa Brexit. Não haverá tentativas de ficar dentro da UE, nem tentativas de voltar pela porta das traseiras, nem segundo referendo. O país votou para sair da UE e, como primeira-ministra, vou garantir que saímos da UE.”
“E vamos fazer do Brexit um sucesso”, disse a mulher que a partir de quinta-feira começa a dirigir os destinos do país. Mas apesar de toda a determinação, o precipitar de uma eleição que estava agendada apenas para 9 de setembro não significa que se vão iniciar já as negociações entre Londres e a UE sobre a forma de concretizar a separação. Antes de saber que Leadsom abandonava a corrida, May deixara clara a sua posição em entrevista ao “Telegraph”.
“Não devemos ativar já”, disse em referência ao artigo 50 do Tratado de Lisboa – aquele que inicia o processo de saída de um Estado-membro. “Penso que não deve ser antes do final do ano, pois temos de estabelecer a nossa estratégia de negociação”, afirmou a futura inquilina do n.o 10 de Downing Street, lembrando que “assim” que o artigo for ativado, “inicia-se o processo na UE, com um prazo de dois anos”, que só poderá ser alargado por acordo entre todas as partes.
May, que na semana passada disser ser “uma mulher muito difícil” e garantiu que isso é algo que Jean-Claude Juncker “perceberá em breve”, considera que mais do que uma saída rápida, o Reino Unido precisa de “um bom acordo”. “E isso significa um acordo que nos dê garantias de poder controlar a livre circulação, mas também garantias que se alcança o melhor acordo possível em termos de comércio de bens e serviços.”
BORIS NO GOVERNO Mais rápidas serão as mudanças internas, com a esperada remodelação governamental que May liderará ao chegar à chefia do governo. E na lista que circulava ontem pelos principais meios de comunicação britânicos, onde se especula com os nomes que poderão sair e entrar no governo, o destaque é para a sobrevivência de Michael Gove. Apesar de ser acusado de ter traído primeiro David Cameron – ao anunciar à última hora o apoio ao Brexit – e depois Boris Johnson – anunciando a candidatura horas antes do então aliado -, Gove continuará com a pasta da Justiça, mesmo depois de ter sido copiosamente derrotado por Leadsom e May nas primeiras rondas da votação interna.
A confirmar-se a veracidade da lista avançada pelo “Independent”, Boris consegue um cargo ministerial, assumindo a pasta da Cultura, Media e Desporto, enquanto Andrea Leadsom assume o Ambiente. Já George Osborne, o ministro das Finanças que se manteve fiel a Cameron, deverá passar a liderar os Negócios Estrangeiros, ficando a sua antiga pasta a cargo de Philip Hammond.