Sendo certo que é prematura uma avaliação das consequências reais do resultado do referendo no Reino Unido, quer pela indefinição do processo negocial que se segue, quer pela possibilidade, e já há nota disso, de novo referendo, é facto que podemos assacar deste processo uma enorme chamada de atenção à Europa e ao seu funcionamento.
Se há denominador cada vez mais comum por essa Europa fora, e que ficou bem patente no resultado do referendo britânico, é o sentimento de necessidade de uma reforma profunda das instituições europeias que, sob os auspícios de um diktat financeiro, tenderam a desumanizar-se, colocando de lado, em muitas ocasiões, a sua matriz fundadora.
A tecnocracia de Bruxelas levou um abanão. Da pior maneira. Basta ouvir o sr. Schulz dizer “que esta não é uma crise europeia” para se perceber que as instituições estão, em certa medida, dominadas por um autismo irrepreensível no que toca às respostas às necessidades e anseios dos cidadãos, esquecendo-se que é com eles (e não apenas para eles) que se funda o projeto europeu.
Ora, se os britânicos – que em bom rigor nunca estiveram completamente com os dois pés na construção europeia, tendo, por isso, também eles muita responsabilidade nos insucessos que sentimos – terão inevitáveis consequências, a Europa não ficará atrás.
Elas existirão e mudarão inquestionavelmente, se houver humildade e inteligência para isso, a realidade europeia. Há uma Europa antes do referendo e outra depois, como disse e bem o Presidente português, mas isso deve constituir uma oportunidade para aqueles que depositam confiança e acreditam no sucesso de uma Europa unida. Resta saber se haverá clarividência política para isso.
Escreve à segunda-feira