Vacinas salvam cem crianças por ano em Portugal

Vacinas salvam cem crianças por ano em Portugal


Depois da erradicação da varíola, a vacina da tuberculose é a primeira a ser retirada do Programa Nacional de Vacinação. Diretor-geral da Saúde nega que se trate de uma medida economicista: as novidades no PNV vão custar mais 5 milhões por ano.


Por ano as vacinas salvam a vida de 100 crianças. O balanço foi feito ontem pelo diretor-geral de Saúde Francisco George, na apresentação do novo Programa Nacional de Vacinação, que entra em vigor a 1 de Janeiro de 2017. O responsável recusou que a retirada da vacina da tuberculose (BCG) do programa seja uma medida economicista, uma vez que as alterações introduzidas – como o reforço da vacina contra a tosse convulsa alargando-a a grávidas ou o reforço da vacinação do tétano – vão traduzir-se numa subida dos custos do programa em 5 milhões de euros.

No global, o Estado gasta em vacinação 30 milhões ao ano, valor que em 2017 aumenta para 35 milhões. É um investimento de 400 euros por cada criança que nasce, sublinhou Francisco George, lembrando o impacto do programa iniciado em 1965 na Direção-Geral da Saúde. “Ainda me lembro de ver um caso de paralisia infantil, em que as mães deitavam a criança e no dia seguinte a criança caía sem forças”, disse o diretor-geral, referindo-se à poliomielite, cujo último caso se registou em Portugal em 1986.

Em relação ao sarampo, que tem vindo a registar um aumento de surtos na Europa já ligado a campanhas antivacinação, o responsável lembrou que, antes de a doença ser eliminada em Portugal, um em cada 28 casos eram fatais. Apesar da rejeição das vacinas por parte das famílias não ser um fenómeno expressivo em Portugal, George salientou que a prevenção não pode ser descurada.  “Hoje as mães nascidas depois de 1974 não conhecem o sarampo. É dos casos em que o sucesso da vacina é o maior inimigo da imunização.”

Tosse convulsa e tétano ainda matam em PortugalEntre 1956 e 1965, na década anterior ao arranque do programa nacional de vacinação com imunizações, contaram-se em Portugal 40 175 casos de doenças preveníveis com vacinas e 5271 mortes.

Na última década, entre 2006 e 2015, subsistem apenas os casos de tosse convulsa e tétano, que apesar de uma redução muito acentuada ainda foram a causa de morte de 23 pessoas neste período (oito vítimas de tosse convulsa e 23 de tétano).

Se a exclusão da vacina da BCG já vinha a ser discutida nos últimos meses – é recomendada para países onde há maiores taxas de incidência desta doença e em Portugal o panorama tem estado a melhorar – o facto de no ano passado terem morrido dois recém-nascidos com pouco mais de um mês de vida com tosse convulsa foi um dos motivos que levou os peritos a reforçar a prevenção nesta área.

A vacina da tosse convulsa só é feita aos dois meses de idade. Para proteger os recém-nascidos, e estando demonstrado que em alguns casos os anticorpos passados pela mãe não chegam (pode ou não ter sido vacinada), vai passar a ser dada uma vacina em dose reduzida às mulheres grávidas, que visa aumentar a memória imunitária e proteger os primeiros dias do bebé. “Como a vacina não pode ser feita antes dos dois meses na criança, muitos países europeus estão a seguir este caminho de imunizar a mãe”.

Já no tétano, a opção foi tornar mais clara a importância de manter a vacinação ao longo da vida, ajudando o programa a memorizar as idades-chaves para a vacinação que antes se dizia ser de dez em dez anos ao longo da vida. Deve-se fazer a vacina contra o tétano aos 10, 25, 45 e 65 anos e, desta idade em diante, de dez em dez anos.

Vacinas complementaresA apresentação do programa foi feita na Maternidade Alfredo da Costa. Gonçalo Cordeiro Ferreira, responsável pela área de saúde da criança e da mulher deste centro hospitalar, salientou que atualmente o nível de rendimento das famílias ainda dita o acesso a algumas vacinas que não estão cobertas pelo PNV.

Francisco George sublinhou que essa realidade tem estado a ser alterada. Aconteceu com a vacina contra o Streptococus pneumoniae (a Prevenar que protege do pneumococo), pela qual as famílias pagavam quase 60 euros por dose. A vacina está disponível gratuitamente a crianças nascidas a partir de 1 de Janeiro de 2015 mas também a crianças e adultos de grupos de risco. Agora será instituída a vacinação contra o Meningococo B, que também causa sépsis e meningite. Será só gratuita para grupos de risco, como crianças com défice de imunidade.

As sociedades médicas já alertaram para a necessidade de alagar esta vacina a todas as crianças e alargar a vacina do papiloma humano a rapazes, já que foi ligado a casos de cancro anal ou oral. “Os peritos consideram que não há uma necessidade imediata de incorporar essas propostas”, disse George.