O estado do Rio de Janeiro, pela primeira vez na sua história, viu-se obrigado a decretar o estado de calamidade pública para conseguir assegurar a realização dos Jogos Olímpicos no seu território. Começa a ser evidente para todos o mau negócio que foi para o Brasil aceitar realizar dois grandes eventos desportivos separados apenas pelo prazo de dois anos. Na verdade, não só o Brasil teve imensos problemas para organizar o Mundial de futebol, sendo confrontado com inúmeros protestos da população, como também ameaça ter ainda mais para organizar os Jogos Olímpicos. O país vive mergulhado numa crise financeira colossal, a que se associou recentemente uma crise política praticamente sem precedentes no regime democrático. Trata-se da pior altura para qualquer país realizar um grande evento desportivo, e o simples bom senso deveria levar ao seu cancelamento.
Os grandes eventos desportivos costumam ser apresentados como oportunidades para dar projeção internacional ao país e renovar o tecido urbano. Na verdade, não representam nada disso. Em relação à projeção internacional, ou o país já a tem, e por isso não precisa do evento, ou não a tem, e o evento só vai servir para expor as suas fragilidades internas. E quanto à renovação do tecido urbano, que por norma acontece efetivamente, a mesma traduz-se habitualmente na construção de uma série de elefantes brancos que não têm qualquer utilidade quando o evento termina. Em Portugal, o Euro 2004 deixou-nos apenas dez estádios completamente novos, a maior parte dos quais sem qualquer aproveitamento e que hoje estão ao abandono.
Razão teve a Colômbia quando, tendo-lhe sido atribuída a organização do Mundial de futebol em 1986, se recusou a fazê-lo quando percebeu os custos astronómicos que a FIFA lhe exigia que suportasse. Na altura, o seu presidente referiu que havia uma regra de ouro, que era a de que o Mundial tinha de ser proveitoso para a Colômbia e não o inverso. É pena que tantos países aceitem organizar grandes eventos desportivos sem garantir esse pressuposto elementar.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira