Elisa Ferreira. Uma economista anti-austeridade no Banco de Portugal

Elisa Ferreira. Uma economista anti-austeridade no Banco de Portugal


Ex-eurodeputada socialista foi hoje apresentada oficialmente como vice-governadora


Elisa Ferreira foi hoje apresentada hoje como a nova vice-governadora do Banco de Portugal (BdP), numa cerimónia no Ministério das Finanças que também nomeou Máximo dos Santos para a administração do regulador bancário.

A primeira mulher doutorada da Universidade do Porto torna-se num dos raros administradores com o género feminino no cartão de cidadão. Tal como na generalidade do sistema financeiro, a história do BdP mostra um organismo dominado por homens. Nunca houve uma mulher no cargo de topo e os elementos femininos na administração são quase tão raros como o cometa Halley.

Teodora Cardoso, atual presidente do Conselho das Finanças Públicas, foi durante anos administradora do BdP, mas a nomeação de Elisa acaba por ser um passo mais vincado. Não só vai ocupar o segundo cargo na hierarquia como terá a pasta da supervisão bancária, uma das mais complexas e com mais visibilidade dentro do BdP. Na audição parlamentar antes da nomeação para o BdP, a economista admitiu que “assumir competências na supervisão é capitanear um navio que atravessa águas muito agitadas”.

O próprio perfil da economista é interventivo. Com 60 anos, Elisa Ferreira foi ministra do Ambiente no primeiro governo de Guterres e transitou no segundo mandato para a pasta do Planeamento. Em 2009 chegou a ser candidata à Câmara do Porto, perdendo para Rui Rio.

Nos últimos anos, no Parlamento Europeu, defendeu políticas económicas europeias de sentido contrário às que defendeu o BdP. Enquanto o regulador alinhou sempre pela necessidade de contenção orçamental no país e do “ajustamento estrutural” do programa de assistência financeira, a antiga eurodeputada do PS foi um dos principais rostos europeus nas críticas à troika e à política de austeridade. “O caso de Portugal é a gota de água que fez entornar o copo da austeridade, ilustra a exaustão do modelo de resposta que tem sido seguido pela União Europeia”, chegou a afirmar. Para a economista, a moeda única criou “um pequeno grupo de ganhadores, a Alemanha e poucos mais, e um grande grupo de perdedores, em especial toda a Europa do sul”.

Quando as intervenções conjuntas do FMI, do BCE e da Comissão Europeia foram alvo de um inquérito do Parlamento Europeu, o relatório final concluiu pela sua falta de transparência e democracia destas missões conjuntas, recomendando que fossem extintas. Elisa Ferreira participou no inquérito e na elaboração do relatório.

Conhecimento da banca Mas, apesar de terem posições divergentes em termos de políticas económicas, o profundo conhecimento do funcionamento do sistema bancário une a economista ao BdP. No PE, foi membro de uma das estruturas mais relevantes em Estrasburgo, a Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários.

Liderou a equipa de eurodeputados que chegou a entendimento com os governos da União Europeia sobre as regras da união bancária e as novas formas de lidar com bancos em dificuldades.

Foi a relatora da proposta de regulamento do Parlamento e do Conselho Europeu que estabeleceu as regras de resolução das instituições de crédito no quadro do mecanismo único de resolução. Agora, vai ter de aplicar as regras que ajudou a criar.