BCP. Ações regressam às quedas e perdem 25% numa semana

BCP. Ações regressam às quedas e perdem 25% numa semana


Fantasma de aumento de capital continua a atormentar os investidores, mesmo com Nuno Amado a afastar essa hipótese. Eventual interesse na compra do Novo Banco está a penalizar os títulos do banco. Recuperação de terça foi feita à custa da proibição da venda a descoberto das ações


A valorização das ações do BCP parece ter sido sol de pouca dura. Depois de ter fechado a sessão de terça-feira a ganhar mais de 15% depois de oito sessões de forte pressão, no que foi a maior subida desde 1 de julho de 2014, os títulos do banco de Nuno Amado acabaram por encerrar a sessão de ontem a perder mais de 8%, a valerem pouco mais de dois cêntimos por ação e depois de terem sido transacionadas quase 743 milhões de ações.

Desde o início do ano, o BCP já perdeu 51,5% do seu valor, estando atualmente avaliado em 1399,2 milhões de euros. E desde o início do mês, a cotação do banco já desvalorizou cerca de 25%.

A verdade é que esta oscilação não surpreende os analistas. Contactado pelo i, o gestor da corretora XTB José Correia lembra que “não é expectável que se mantenham recuperações de 20% de forma recorrente e será sempre maior a probabilidade de quedas face às valorizações”.

O gestor diz ainda que a recuperação de terça-feira se deveu a uma correção de preço habitual depois de fortes quedas dos títulos, uma vez que os investidores encontraram uma janela para beneficiar de valorizações no curto prazo. Ainda assim, José Correia acredita que a tendência de queda mantém-se, “sendo que o principal fator desta recuperação assenta no facto de a CMVM ter decretado a proibição de ‘short-selling’ do ativo, e também devido à notícia sobre a possível aquisição do Novo Banco, o que incentivou o movimento ascendente de ontem”.

Interesse no Novo Banco Mas o que está provocar receio nos investidores? O fantasma de um aumento de capital e o possível interesse na compra do Novo Banco da Cunha têm vindo a assombrar a negociações bolsistas do BCP. Aliás, o anúncio do presidente da instituição financeira, Nuno Amado, de não ter intenção de avançar com qualquer aumento de capital relacionado com o Novo Banco, veio tranquilizar o mercado – pelo menos temporariamente. “Sempre disse que iria analisar a venda do Novo Banco, mas apenas porque, pela sua dimensão relativa no sistema, não cabia outra alternativa senão perceber quais as vias possíveis”, revelou, em entrevista à “Reuters”.

Para os acionistas do banco deixou uma mensagem: “Podem estar tranquilos pois o BCP não está a considerar uma operação ou quaisquer operações que impliquem aumentos de capital.”

De acordo com o banqueiro, o banco vai manter uma estratégia focada e disciplinada e, como tal, “não há nenhuma intenção de pedir capital aos acionistas, nem para fazer uma fusão por fusão, que até acho que não é um caminho viável, para ser sincero”, sublinhou.

Mas o sentimento de incerteza no mercado fala mais alto. Houve dois aumentos de capital na banca europeia nos últimos 15 dias – do Banco Popular, em Espanha, e do Banco Popolare, em Itália -, o que de alguma maneira, poderá estar a provocar algum receio aos investidores.

Por outro lado, o banco tem ainda de pagar 750 milhões ao Estado por via do capital contingente que foi aplicado na instituição (os chamados CoCo’s) . A penalizar o título tem estado ainda a possibilidade de ser criado um “banco mau” para agregar ativos de risco que estão contabilizados nos balanços de vários bancos, num valor superior ao do crédito concedido ou das provisões entretanto constituídas.

Vendas a descoberto A suspensão da venda a descoberto das ações (short-selling), medida imposta pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), acabou por ajudar a diminuir a volatilidade na cotação do BCP. Esta decisão é vista pelo gestor da XTB como uma resposta à atual conjuntura do sistema financeiro português. “Este é periclitante e urge garantir estabilidade ao setor. As medidas implementadas estão a possibilitar uma valorização ligeira do título, mas para efetivar uma recuperação mais consolidada será necessário um ajuste ao contexto político-económico por forma a melhorar o dinamismo do setor financeiro em Portugal”, salienta ao i José Correia.

Esta decisão de suspensão manteve-se até ontem, depois de a entidade reguladora ter admitido que “a flutuação do preço das ações em causa não pode excluir a ocorrência de um fenómeno de especulação com impacto negativo”.

 A medida do órgão regulador foi avançada numa altura em que se soube que o BCP tinha deixado de estar presente no índice europeu MSCI Global e que a instituição portuguesa apareceu na lista elaborada pelo Goldman Sachs relativamente aos bancos europeus mais “voláteis”. O banco de Nuno Amado também tinha admitido entretanto que tinha concluído o processo de avaliação dos “vários cenários estratégicos para valorização” do banco online do grupo, o ActivoBank, que se manterá “no perímetro do grupo BCP em função da sua capacidade de geração de valor no contexto da evolução esperada para o modelo de negócio bancário do BCP”.