Foi bonita a festa, pá: o congresso socialista em cinco pontos


O partido-almirante da frota da esquerda que sustenta o governo não teve uma palavra para os desempregados. Não teve uma única palavra para aqueles que mais sofrem com as desigualdades no país


1. “Prometemos, cumprimos…”, nem sempre, e às vezes por muito poucochinho. Confiante, António Costa subiu ao palanque empunhando o programa de governo, o cardápio de reversões e reposições. Coisas a que o PS chama “promessas cumpridas”. Dei por falta de outros papéis com que o PS se apresentou a eleições há meia dúzia de meses. Como a pomposa “Agenda para a Década”, onde o PS propunha a descida da TSU para patrões e trabalhadores. Ou o Cenário Macroeconómico, um conjunto de medidas dos sábios do PS com as quais Costa dizia “poder acabar com a austeridade”. O PS garantia aos portugueses um festim de crescimento do PIB: 2,4% para 2016, 3,1% em 2017. Tanto quanto sabemos, nas previsões do governo, o comportamento do produto anda pelos modestos 1,8% – o que até é considerado excesso de otimismo por todos os organismos independentes, nacionais e estrangeiros. Mas se olharmos para a evolução do primeiro trimestre, casando essa análise com as previsões das instituições internacionais, então percebemos que a economia do país está a ser arrastada para valores que são menos de metade dos que foram prometidos por Costa. Pior: a viragem da página da austeridade, com os pozinhos de perlimpimpim de Costa, teve como resultado o país estar a criar menos riqueza do que no final da anterior legislatura. O PS vai ensaiando a desculpa do “contexto internacional” para esse fiasco monumental que é liderar um governo de esquerda responsável por taxas de crescimento mais baixas do que um demoníaco executivo que intitularam de neoliberal. Mas o Eurostat não alinha nas narrativas socialistas. Os dados ontem conhecidos mostram que a Europa está a crescer três vezes mais do que Portugal. Costa está em incumprimento. A fórmula económica do governo está a dar buraco. Não há como esconder. “Este é o maior falhanço de um governo desde o 25 de abril”, palavra de socialista (Ricardo Gonçalves).

2. O desemprego, a desigualdade e as empresas. Coisas que não interessaram ao congresso PS. O partido-almirante da frota da esquerda que sustenta o governo não teve uma palavra para os desempregados. Não teve uma única palavra para aqueles que mais sofrem com as desigualdades no país. E não teve uma ideia para estimular a confiança dos investidores e das empresas. Não teve e não podia ter. Não teve porque o PS esteve mais preocupado com a análise da legitimidade do governo (um sinal de que esse problema está mal resolvido) do que com o governo do país. Não podia ter porque este glorioso governo de esquerda, autoproclamado defensor dos desempregados, é responsável pela destruição de 60 mil postos de trabalho num semestre. Este governo cheio de igualdade no verbo só está preocupado em repor rendimentos a quem tem alguma coisa, não se ocupando de criar rendimentos para quem nada tem. Este governo do “tempo novo” só tem ideias gastas para a economia, provocando a retração do investimento das empresas, a perda de postos de trabalho e o agravamento das desigualdades sociais. Mas no partido de Costa nada disto é problema. Tudo se resolve com um otimismo narcótico, como se a realidade mudasse por se acreditar com mais força nos sound bites lançados a partir do púlpito da FIL. O PS foi muito pouco partido de governo e mais partido de trincheira.

3. PSexit. Como quase tudo neste PS, que é sempre uma coisa e o seu contrário, também o secretário-geral apareceu como radical de esquerda na sexta-feira e estadista de centro no domingo. Quem seguiu o conclave não pode deixar de notar a radicalização generalizada no tom do partido, que funciona como espelho do Bloco. É um PS a afastar-se do socialismo democrático. É um PS a afastar-se da sua família política na Europa. Não é possível iludir um discurso eurocético das bases socialistas, por mais que Costa moderasse o tom na intervenção final. Temos PSexit para juntar ao Brexit e ao Grexit. Bruxelas pode bem viver com isso. Portugal é que não. O PS, todo, foi federado por Costa neste novo alinhamento politico. Mais do que no passado, o PS é completamente conivente com os resultados que a governação vier a apresentar.

4. Ricardo Gonçalves em contramão. Na missa que celebrou o casamento do PS com o BE e o PCP, Ricardo Gonçalves precisou de apenas seis minutos para desmascarar de forma certeira as vacas que voam. Depois não digam que não foram avisados.

5. As saudades que eles já tinham. O mais estranho de tudo é um partido vaiar Francisco Assis e aplaudir e aclamar, por mais de uma vez, o pai da bancarrota, o homem que nos trouxe a austeridade e, com ela, o sofrimento de milhões de portugueses. Mas como alguém dizia, “à política o que é da política, à justiça o que é da justiça”.


Foi bonita a festa, pá: o congresso socialista em cinco pontos


O partido-almirante da frota da esquerda que sustenta o governo não teve uma palavra para os desempregados. Não teve uma única palavra para aqueles que mais sofrem com as desigualdades no país


1. “Prometemos, cumprimos…”, nem sempre, e às vezes por muito poucochinho. Confiante, António Costa subiu ao palanque empunhando o programa de governo, o cardápio de reversões e reposições. Coisas a que o PS chama “promessas cumpridas”. Dei por falta de outros papéis com que o PS se apresentou a eleições há meia dúzia de meses. Como a pomposa “Agenda para a Década”, onde o PS propunha a descida da TSU para patrões e trabalhadores. Ou o Cenário Macroeconómico, um conjunto de medidas dos sábios do PS com as quais Costa dizia “poder acabar com a austeridade”. O PS garantia aos portugueses um festim de crescimento do PIB: 2,4% para 2016, 3,1% em 2017. Tanto quanto sabemos, nas previsões do governo, o comportamento do produto anda pelos modestos 1,8% – o que até é considerado excesso de otimismo por todos os organismos independentes, nacionais e estrangeiros. Mas se olharmos para a evolução do primeiro trimestre, casando essa análise com as previsões das instituições internacionais, então percebemos que a economia do país está a ser arrastada para valores que são menos de metade dos que foram prometidos por Costa. Pior: a viragem da página da austeridade, com os pozinhos de perlimpimpim de Costa, teve como resultado o país estar a criar menos riqueza do que no final da anterior legislatura. O PS vai ensaiando a desculpa do “contexto internacional” para esse fiasco monumental que é liderar um governo de esquerda responsável por taxas de crescimento mais baixas do que um demoníaco executivo que intitularam de neoliberal. Mas o Eurostat não alinha nas narrativas socialistas. Os dados ontem conhecidos mostram que a Europa está a crescer três vezes mais do que Portugal. Costa está em incumprimento. A fórmula económica do governo está a dar buraco. Não há como esconder. “Este é o maior falhanço de um governo desde o 25 de abril”, palavra de socialista (Ricardo Gonçalves).

2. O desemprego, a desigualdade e as empresas. Coisas que não interessaram ao congresso PS. O partido-almirante da frota da esquerda que sustenta o governo não teve uma palavra para os desempregados. Não teve uma única palavra para aqueles que mais sofrem com as desigualdades no país. E não teve uma ideia para estimular a confiança dos investidores e das empresas. Não teve e não podia ter. Não teve porque o PS esteve mais preocupado com a análise da legitimidade do governo (um sinal de que esse problema está mal resolvido) do que com o governo do país. Não podia ter porque este glorioso governo de esquerda, autoproclamado defensor dos desempregados, é responsável pela destruição de 60 mil postos de trabalho num semestre. Este governo cheio de igualdade no verbo só está preocupado em repor rendimentos a quem tem alguma coisa, não se ocupando de criar rendimentos para quem nada tem. Este governo do “tempo novo” só tem ideias gastas para a economia, provocando a retração do investimento das empresas, a perda de postos de trabalho e o agravamento das desigualdades sociais. Mas no partido de Costa nada disto é problema. Tudo se resolve com um otimismo narcótico, como se a realidade mudasse por se acreditar com mais força nos sound bites lançados a partir do púlpito da FIL. O PS foi muito pouco partido de governo e mais partido de trincheira.

3. PSexit. Como quase tudo neste PS, que é sempre uma coisa e o seu contrário, também o secretário-geral apareceu como radical de esquerda na sexta-feira e estadista de centro no domingo. Quem seguiu o conclave não pode deixar de notar a radicalização generalizada no tom do partido, que funciona como espelho do Bloco. É um PS a afastar-se do socialismo democrático. É um PS a afastar-se da sua família política na Europa. Não é possível iludir um discurso eurocético das bases socialistas, por mais que Costa moderasse o tom na intervenção final. Temos PSexit para juntar ao Brexit e ao Grexit. Bruxelas pode bem viver com isso. Portugal é que não. O PS, todo, foi federado por Costa neste novo alinhamento politico. Mais do que no passado, o PS é completamente conivente com os resultados que a governação vier a apresentar.

4. Ricardo Gonçalves em contramão. Na missa que celebrou o casamento do PS com o BE e o PCP, Ricardo Gonçalves precisou de apenas seis minutos para desmascarar de forma certeira as vacas que voam. Depois não digam que não foram avisados.

5. As saudades que eles já tinham. O mais estranho de tudo é um partido vaiar Francisco Assis e aplaudir e aclamar, por mais de uma vez, o pai da bancarrota, o homem que nos trouxe a austeridade e, com ela, o sofrimento de milhões de portugueses. Mas como alguém dizia, “à política o que é da política, à justiça o que é da justiça”.