A administração da TAP enfrenta um novo braço-de-ferro, desta vez com os tripulantes de cabina, que não estão satisfeitos com a “qualidade do descanso” dos novos aviões que a Azul, companhia aérea brasileira de David Neeleman, cedeu à TAP – uma situação que pode pôr em risco algumas das operações pensadas já para este verão.
Um dos aviões já chegou e o outro deverá chegar em breve, com o objetivo de reforçar as rotas da América do Norte. No entanto, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) assegura que, embora o verão esteja já a bater à porta, ainda não foi encontrada nenhuma solução por parte da companhia aérea nacional.
“A entrada em operação, na frota da TAP Portugal, de dois Airbus A330, provenientes da Azul Linhas Aéreas, também propriedade do novo acionista da TAP, sr. David Neeleman, pode estar comprometida por estes aviões não cumprirem com as especificidades técnicas constantes do Acordo de Empresa dos Tripulantes de Cabina, vigente desde 2006”, explica o sindicato em comunicado, acrescentando que, “na realidade, independentemente do que é alegado pela administração, constatamos que este negócio é muito vantajoso para a Azul, que tinha estes aviões estacionados como consequência da forte redução operacional que sofreu no mercado aéreo brasileiro.”
Os tripulantes acusam ainda os acionistas da TAP David Neeleman e Humberto Pedrosa de serem intransigentes “na apresentação de soluções para a resolução deste problema” e, por isso, “não foi alcançado ainda nenhum acordo”: “Não pode o SNPVAC aceitar que o ónus de eventuais transtornos na operação, na vida dos passageiros e da empresa, decorrentes da situação atual, seja mais uma vez atribuído aos tripulantes de cabina, pois esta situação é da total responsabilidade dos atuais gestores da TAP.”
Mudanças beneficiam Azul Já em janeiro tinha sido noticiado que a reestruturação da TAP iria ajudar o negócio da Azul, a companhia aérea brasileira detida por David Neeleman – com dupla nacionalidade, brasileira e norte-americana –, que ganhou a privatização da companhia portuguesa num consórcio com Humberto Pedrosa.
Em junho de 2015, as contas da Azul entraram no vermelho, com um prejuízo semestral de aproximadamente 53 milhões de euros. Mas o arranque da TAP Express, o novo serviço que substitui o que era assegurado pela Portugália, tinha tudo para permitir um novo fôlego à empresa brasileira.
Para toda esta operação foi anunciada uma frota de 17 novos aviões fornecidos pela Azul, em regime de leasing, numa operação que está avaliada em 400 milhões de euros.
Por esta altura, Fernando Pinto assegurava, na apresentação que fez à imprensa, que a Azul tinha “uma frota enorme destes aviões e tinha disponibilidade de mercado para cedê-los”.
Mas apesar de estarem com pouca atividade no Brasil, os aviões foram disponibilizados a preço de mercado, o que levantou interrogações dentro da própria transportadora aérea. “A preço de custo, a Azul já ganhava, quanto mais a preço de mercado. Com o problema de não ter tanta procura como oferta, a Azul acaba por ter interesse neste acordo com a TAP. Estes aviões não estavam a ser usados na sua plenitude”, disse ao i uma fonte ligada à TAP que pediu para não ser identificada.
Ataque ao negócio da China Em março deste ano, Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, apresentou o livro sobre a TAP e a “polémica estratégia de abandono do aeroporto do Porto”. Em 250 páginas, “TAP – Caixa Negra” abre a porta dos “bastidores” da “guerra” do autarca contra a companhia aérea. E nesta altura, David Neeleman era o principal alvo das críticas: “Com ou sem chineses, o empresário americano fez um negócio da China.”
Chineses fazem check-in A Azul está a ser financiada pelo grupo chinês HNA. E como é acionista da Azul, este grupo passa a ser um acionista indireto da TAP, com base em ações que podem depois ser convertidas em capital – algo que David Neeleman sublinhou no início de março.
Recorde-se que, em novembro do ano passado, o grupo tornou–se o maior acionista individual da Azul. O investimento de 450 milhões de dólares na transportadora, por uma participação de 23,7%, permitiu indicar um membro do conselho de administração.
Nesta altura, o grupo fez saber que o negócio era de extrema importância por permitir o de-senvolvimento de novas rotas e ligações em code share, um acordo de cooperação pelo qual uma companhia aérea transporta passageiros cujos bilhetes tenham sido emitidos por outra. A entrada de capital chinês aconteceu logo após a compra da portuguesa TAP pelo consórcio Atlantic Gateway, de Humberto Pedrosa e David Neeleman. Na TAP, os chineses terão entre 10% a 13%, através da Azul.
O i tentou, sem sucesso, contactar a TAP.