O governo resolveu relançar o Simplex, um programa que existe há dez anos, não constituindo novidade nenhuma. Por isso mesmo, a ministra da Modernização Administrativa disse apenas que “o Simplex voltou em estilo mais”, reconhecendo que estamos perante um mero upgrade de um programa há muito existente. Mas António Costa quis transformar esse anúncio de coisa nenhuma num momento mágico, pelo que resolveu oferecer à sua ministra uma vaca com asas para ela perceber que não há impossíveis. Aliás, segundo referiu, guardava cuidadosamente consigo essa vaca há dez anos, ou seja, desde o início do Simplex.
A oferta é, de facto, de enorme simbolismo. “As Vacas Não Voam” é precisamente um livro para crianças de David Milgrim que conta a história de um menino que quis desenhar vacas no céu. O pai explicou-lhe que assim era estranho, que era mais lógico que o filho desenhasse passarinhos, mas a criança insistia. E como o vento arrastou os desenhos pelo ar, lá a criança se convenceu de que as suas vacas poderiam mesmo voar. O pai explicava-lhe que não era possível, que as vacas não tinham asas, mas a criança continuava convencida. E na escola até se recusou a aprender a teoria da gravidade, que punha em causa essa possibilidade de as vacas voarem. E, no fim, o menino ficou convencido de que, se as suas vacas voavam, ele próprio poderia voar.
Na semana da vaca voadora ficámos a saber que o desemprego disparou, que os bancos se recusam a pagar ao Fundo de Resolução, que a CGD precisa de mais 4 mil milhões do dinheiro dos contribuintes e que o preço do petróleo sobe, mas o imposto só desce um cêntimo. Mas António Costa, da mesma forma que o menino da história, reapresenta–nos o Simplex e garante a capacidade voadora das vacas. Com o país mergulhado numa crise colossal, precisávamos era de um primeiro–ministro com os pés bem assentes no chão.
Professor da Faculdade
de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira