FuckUp Nights. A noite em que falhar é palavra de ordem

FuckUp Nights. A noite em que falhar é palavra de ordem


Nos últimos tempos parece que todos os empreendedores conseguem montar negócios de sucesso. E quando corre mal? É disso que se fala nas FuckUp Nights. 


Se estivéssemos numa roda feita de cadeiras, poderíamos começar com uma espécie de confissão. “Olá, eu sou a Marta e falhei.” Do lado de quem me ouve poderia ter um “olá, Marta” e a partir daí estava dado o mote para contar uma história digna de série de televisão.

Mas a verdade é que nesta noite, apesar do “FuckUp” do título, o ambiente está mais para a comédia, e daquela bem sarcástica. Afinal, o Salão Nobre da Faculdade de Economia da Universidade Nova está cheio de gente que veio de propósito para ouvir falar de fracassos. Isso mesmo, fracassos, daqueles que levaram ao fecho de empresas e a mudanças de carreira.

As FuckUp Nights nasceram no México quando um grupo de amigos, cansados da palavra “empreendedorismo” apregoada aos quatro ventos, decidiu procurar os casos de quem criou um negócio que acabou por correr mal. O conceito teve tal sucesso que, em quatro anos, já foi replicado em mais de 150 cidades, com Lisboa a ter honras de ser a mais recente anfitriã.

Numa hora e meia são quatro os empreendedores com espaço para sete minutos de apresentação, a que se juntam outros dez para responder a perguntas de um público ávido de conhecer os erros dos outros, para que não voltem a repetir-se.

1. Nuno Baltazar criou a primeira empresa aos 23 anos

Tirou Biologia Marinha para poder nadar com golfinhos, começa por dizer, num misto de ironia e ar sério que deixa a dúvida no ar. O certo é que foi rápido a perceber que a paciência que a ciência exige não era para si. “Tenho de ter o controlo sobre aquilo que faço”, conta, e por isso virou-se para os negócios.

Aos 23 anos juntou-se a mais sete pessoas que conheceu num encontro de empreendedores e juntos decidiram criar a Urbity, um serviço de levar pessoas embriagadas a casa no seu próprio carro. “Correu tudo mal”, resume, depois de explicar que, apesar dos ótimos currículos, nenhum dos membros da equipa sabia como executar a ideia.

Além disso, todos trabalhavam noutras empresas, o que deixava pouco tempo para um negócio que estava a nascer e precisava de dedicação total. A empresa não durou, mas não foi por isso que teve menos importância na sua carreira.

“Devíamos eliminar a palavra ‘falhanço’ do dicionário e trocar por desvio”, refere. Para Nuno, o passado serve de lição para que hoje em dia tenha em mãos uma guest house na Praça das Flores, em Lisboa, um negócio ainda sem desvios.

2. João Carreiro criou a primeira empresa aos 18 anos

Apresenta-se como um “empreendedor em série”, como se de um crime se tratasse. Começou aos 18 anos com uma empresa ligada a computadores e acabou rapidamente por entrar na área da investigação criminal, com a criação de GPS e câmaras em miniatura, “muito ao estilo James Bond”, conta ao i.

Tinha tudo para ser um negócio de sucesso e até estava a começar a crescer em vendas quando tudo desabou. “Não digo que não tenha cometido erros no percurso, mas a grande falha foi a dos investidores”, conta.

João e o parceiro de negócio começaram a ver as reuniões adiadas, os contratos por assinar e o dinheiro a não chegar. Acabaram por comprar a parte dos investidores por um euro e declararam a insolvência da empresa.

Numa espécie de luto, fez questão de tirar uns meses para si. “Fiz muito desporto, joguei muita PlayStation e aproveitei para ver todos os ‘Star Wars’.” Agora, já recuperado, está pronto para avançar com aquele que considera ser o seu projeto de sonho: criar uma câmara exclusiva para streaming.

3. Nuno Simões criou a primeira empresa aos 17 anos

Para Nuno, o dinheiro sempre foi um problema. “Ou tinha a ideia mas não tinha capital, ou tinha dinheiro e faltava-me a ideia certa.” Entre falhanços, sobre os quais ainda não lhe é fácil falar, esteve à frente de empresas de explicações, trabalhou em fotografia e até em empresas de peças de automóveis.

“Às vezes parece que o universo conspira para que te tornes empreendedor”, conta ao i. A empresa de explicações de Matemática, Química, Física e Economia ficou para trás quando surgiu uma outra oportunidade.

“Não foi bem um falhanço, foi um aproveitar de certas boleias”, explica, “mas a verdade é que nunca se sai de um projeto de ânimo leve, fica-se sempre a pensar que se podia ter feito mais.”

4. Diogo Alves criou a primeira empresa aos 21 anos

Já viveu em Inglaterra, França, Angola, Hong Kong, Malásia, Alemanha e República Dominicana. Tudo isto com apenas 27 anos. “Viajar abre a mente e talvez por isso, para mim, seja natural falar de algo constrangedor como são os falhanços”, refere ao i. 

Apesar de todos os negócios que criou se manterem ativos, as alterações a que tiveram que ser sujeitos leva Diogo a usar a palavra falhanço.

Por exemplo, quando criou uma empresa de impressões online com três amigos, não pensou que o facto de serem todos homens de negócio pudesse ser um entrave. “Ninguém sabia nada de tecnologia.”

Já quando criou a Me Gusta, uma espécie de Grupon da República Dominicana, falharam os investimentos. Diogo conclui a apresentação com um rol de conselhos para os que aí vêm: “Para abrir uma empresa tem de haver mercado para isso, tem de se estar rodeado das pessoas certas e – muito importante, atenção – tem de ser a nossa paixão.”