São momentos decisivos para a realizadora Jodie Foster, duas vezes vencedora do Óscar para melhor atriz, que faz os últimos retoques no seu mais recente filme, “Money Monster”. “Nunca trabalhei assim tão no limite”, assume, agora que se encontra na reta final do trabalho de edição. “Estou muito cansada”, diz, ao mesmo tempo que se ri, quando lhe perguntamos como se sente, durante uma conversa nohotel Four Seasons, em Los Angeles, cerca de dois meses antes da estreia mundial de “Money Monster”, que teve lugar ontem.
As apostas são altas para aquele que é um dos filmes mais antecipados deste ano, e que conta com George Clooney e Julia Roberts nos papéis do apresentador Lee Gates e da sua produtora/ realizadora Patty Fenn. A dupla acaba numa situação limite quando o jovem Kyle Budwell, interpretado por Jack O’Connell, invade o estúdio com uma arma e uma bomba, revoltado por ter perdido todo o seu dinheiro ao seguir os conselhos financeiros do apresentador. Ao vivo para milhões de espetadores, com Lee e Kyle em estúdio, e Patty na régie, a tensão não pára de crescer numa corrida contra o tempo.
“Money Monster” é a quarta longa-metragem realizada por Jodie Foster, que deu os primeiros passos como atriz ainda criança, com seis anos, mas que ultimamente parece mais interessada na sua carreira como realizadora.
Como nasceu este projeto?
Os produtores, Dan Dubiecki e Lara Alameddine, uma equipa de marido e mulher, desenvolveram o argumento… E depois passámos muito tempo a ajustar tudo, isto sem qualquer tipo de financiamento. Esperámos pelo momento certo e pela equipa certa, apesar de haver muita pressão para não esperarmos, para avançarmos logo, com um elenco qualquer. Mas esperámos mais de um ano, quase dois. O primeiro ator a quem mostrámos o argumento foi ao George Clooney. Ele aceitou e a partir daí foi tudo muito rápido.
O que é que a cativou nesta história?
Gostei da ideia de coletivo, de perceber como diferentes pessoas lidam com o fracasso. Este foi o tema que sucessivamente me perseguiu. Estes três homens – um fulano de um fundo de investimento, interpretado por Dominic West, o miúdo que aparece com uma arma e uma bomba, interpretado por Jack O’Connell e ainda a personagem do George Clooney – têm algo em comum: são todos homens sem fé em si próprios, que medem o seu valor através do dinheiro e que, de certa maneira, têm os seus maiores falhanços aos olhos de mulheres fortes. Este tipo de disfunção interessou-me. Claro que também é um filme que tem equipas SWAT e helicópteros, e todo o tipo de entretenimento pipoca. É um thriller com grandes estrelas de cinema. Mas nada disto interessa. O que realmente interessa é o coração do filme, o resto são extras.
Mas que história é esta?
George Clooney é um apresentador de um talk show sobre finanças que recomenda uma ação que diz que não pode perder. Um jovem investe nessa empresa e em nove minutos perde tudo o que tem.A própria empresa perde 800 milhões de dólares. Nesta sequência, o miúdo entra no estúdio onde acontece o programa com uma arma e uma bomba e faz o apresentador refém. Ele quer respostas, quer saber onde está o seu dinheiro. Mas ninguém lhe sabe responder. O resto deste filme é esta espécie de bomba-relógio sobre o que será que o miúdo vai fazer e como será possível encontrar as respostas que ele procura.
Como chegou ao nome de Jack O’Connell para o papel desse miúdo, Kyle Budwell?
O Jack é de Derby, Inglaterra, e é um jovem ator incrível. Vi-o num filme que fez em 2013, chamado “Starred Up”. Também já tinha feito, ainda criança, uma série inglesa chamada “Skins”. Além disto, também o vi no filme da Angelina Jolie, “Unbroken”, no papel de Louis Zamperini, e achei que estava maravilhoso. Testámos centenas de pessoas, mas a audição dele conquistou toda a equipa.
E foi capaz de se aguentar ao lado de George Clooney?
Completamente. Eles contracenam durante todo o filme. Este é basicamente um filme a dois atores. Eles estão trancados um com o outro durante todo o filme.
Mas como foi a relação dele com Clooney, durante as filmagens? Sentiu-se intimidado?
Acho que não. São atores muito diferentes. O George anda nisto há muito, muito tempo e tem uma forma muito clooniana de abordar as coisas. É divertido, brinca com as pessoas. Mas decora o seu texto, filma as cenas e vai para casa. Gosto disso, tem uma abordagem ao cinema que é própria de um soldado. Já o Jack é intenso. Está dentro da personagem e trabalha muito, é daqueles atores que vive e respira isto. Foi maravilhoso assistir à forma como o George se relacionou com o Jack e o Jack com o George, apesar de serem dois tipos de atores muito diferentes. Apoiaram-se muito e realmente preocuparam-se um com o outro.
Do elenco também consta Julia Roberts, que foi outro golpe de sorte.
Eu sei! Quando a consegui até me belisquei, não acreditei que fosse verdade. Até fiz uma pequena dança da vitória. O George e a Julia têm interpretações verdadeiramente substanciais neste filme.
Qual foi o maior desafio que enfrentou para fazer este filme?
Seria de pensar que as maiores dificuldades tivessem a ver com as cenas que envolveram centenas de pessoas ou as que tinham a equipa SWAT. Mas o que foi realmente difícil, o mais difícil de tudo, foi filmar a Julia na régie. Foi quase impossível. Isso foi definitivamente a parte mais difícil do filme.
Porquê?
Porque temos 40 ecrãs à frente dela e cada um tem uma coisa diferente. E ela tem de se relacionar com todos eles. Ela teve de cronometrar o seu diálogo com aquelas imagens. Foi complicado!
Deparei-me com vários sites que já colocam “Money Monster” na corrida aos Óscares de 2017. Segundo a revista “Variety” só o trailer somou mais de dois milhões de visualizações no YouTube, logo na primeira semana.
Pois… Não sei. Fiz o que me pareceu certo.Depois é esperar que tenha acertado.