Desde meados de 2015 que se tem assistido a uma sucessiva revisão em baixa das perspetivas de crescimento para as economias avançadas, mais nítida nos EUA, embora a zona do euro tenha vindo a revelar perspetivas mais fracas.
Os valores de maio revelaram nova deterioração na economia americana, com ligeira recuperação na zona do euro, embora as perspetivas sobre a inflação no euro (de 0,3% para 0,2%) continuem a revelar uma impotência do BCE para conseguir afastar o espetro da deflação.
Recordemos que o BCE tem estado sempre atrasado nas suas intervenções: conseguiu a proeza de subir as taxas de juro no verão de 2008, quase um ano depois do início da crise do subprime e nas vésperas do colapso iniciado naquele ano; quando a crise se instalou, agiu sempre menos e mais tarde do que a Reserva Federal dos EUA.
Este banco continua a dizer que tem instrumentos para evitar a deflação, o que é quase falso e errado. Quase falso porque não se imagina o que possa ainda o BCE tirar da cartola: taxas de juro ainda mais negativas ou programa de compras de mais dívida pública? Será apenas mais do mesmo.
Mas, acima de tudo, a atitude do BCE está profundamente errada porque a política monetária atua com um elevadíssimo desfasamento: cerca de 3 a 4 trimestres sobre o PIB e cerca de 6 a 8 trimestres sobre a inflação. Dado este desfasamento brutal, qual é a lógica de estar à espera que a calamidade se instale para então tomar medidas?
Na verdade, o BCE já não tem praticamente nenhum instrumento monetário para aplicar, mas sobra-lhe ainda um dos instrumentos mais potentes ao dispor dos banqueiros centrais: a palavra.
Infelizmente, também aqui, o BCE agiu com atraso e falta de convicção. A Alemanha tem apresentado um superávite externo elevadíssimo (mais de 7% do PIB), tão grande como o da China (em valores absolutos), o que é um dos principais obstáculos à recuperação económica da zona do euro e também da economia mundial.
Este superávite está a debilitar a economia da zona do euro e a fazer com que o euro tenha uma cotação muito mais forte do que teria caso ele não existisse. Ambos estes efeitos são claramente responsáveis pelos níveis perigosamente baixos da inflação na zona do euro.
Por tudo isto, já há muito tempo que o BCE deveria pressionar a Alemanha, primeiro em privado e depois em público, para diminuir aquele superávite. Em vez disso, o presidente do BCE apenas referiu estes factos em resposta a acusações totalmente infundadas do ministro das Finanças alemão. Estas palavras de Draghi, apenas como reação e não como clara posição de princípio, não tiveram nem deverão ter qualquer impacto.
Entretanto, em Portugal, o PIB do 1.o trimestre deverá ser conhecido hoje e revelar um valor fraco. No entanto, só no dia 31 deste mês poderemos conhecer os detalhes do PIB e é muito provável que se confirmem as suspeitas de forte e preocupante deterioração do investimento. É evidente que estes fracos resultados terão de ser assacados a este governo.
Para além disso, dados do Ministério do Trabalho indicam que 20% dos trabalhadores recebem o salário mínimo e que nas novas contratações, em 2016, esse peso já é de 36%. Esta evolução é altamente preocupante e reforça a convicção de que este referencial tem sido aumentado muito acima dos ganhos de produtividade e já está a gerar desemprego. Convém que se pondere muito bem qualquer nova subida do salário mínimo e que se dê preferência à criação de um escalão negativo no IRS, como, aliás, constava do programa eleitoral do PS.