Ser jornalista não é assim tão difícil. A prova disso é que o Dr. José Rodrigues dos Santos (JRS) consegue conciliar o seu part-time como melhor jornalista de todos os tempos com a sua profissão de melhor escritor português da atualidade. Eu não sei se os livros dele são bons ou não porque não perco tempo com atividades não produtivas como ler. Digo que é o melhor porque é aquele que vende mais e esse é o único critério objetivo e justo para avaliar a qualidade da literatura. Se as pessoas compram os livros é porque são bons. Ponto.
A principal mais-valia do Dr. JRS como escritor é que as pessoas o conhecem da televisão. As pessoas não leem muito, em geral, mas quando compram livros escolhem aqueles que têm o nome de alguém que conhecem e respeitam na capa.
Se o Dr. JRS é um escritor de sucesso é porque aparece muitas vezes na televisão, de gravata, a dizer coisas importantes. Nem precisa de pedir diretamente às pessoas para comprarem os livros, basta-lhe aparecer e dizer “boa noite” para vender exemplares que nem pãezinhos quentes. Mas para continuar a aparecer, a sua credibilidade como jornalista tem de ser inatacável. A sua reputação é o seu bem mais precioso, na medida em que é a única coisa que lhe permite triunfar no mercado da literatura. É normal que ele a defenda com unhas e dentes, como tem feito nos últimos tempos.
Esta semana deu uma entrevista a este jornal em que se queixava da pressão inadmissível que a esquerda está a exercer sobre ele. Tudo isto porque, segundo esta, demonstrou demasiada excitação quando estava a apresentar os valores da dívida pública, por comparação com a cara de póquer que apresentava quando falava sobre a dívida nos tempos do anterior governo. É verdade que a dívida pública está tão alta como nos tempos do anterior governo mas, pelo menos, nessa altura tínhamos adultos responsáveis a tomar conta do assunto. Por isso, é legítimo que o Dr. JRS tenha entrado em pânico desta vez!
Os socialistas acusam-no de falta de imparcialidade. A questão é que, para eles, ser imparcial significa apresentar o telejornal com uma T-shirt do Che Guevara, enquanto se fuma ganza e grita “incha porco” sempre que o António Costa faz um comentário jocoso sobre o Dr. Passos Coelho. Quando ele começar a fazer isso, vão dizer que merece um Pulitzer. Até lá, vão continuar a pressioná-lo.
É uma estupidez. A verdade é que, hoje em dia, não é necessário pressionar jornalistas porque os jornalistas não são necessários. Qualquer pessoa vai ao Google e procura aquilo que quer saber sem precisar de intermediários.
Por isso, temos de acarinhar os poucos jornalistas que acrescentam valor às notícias, como o Dr. JRS, e não o deveríamos chatear só por ele reagir genuinamente em relação a um assunto grave. Reparem, no meio do stresse do seu dia-a-dia de escritor, a única altura que ele tem para desabafar com as pessoas sobre os seus sentimentos é quando está em frente à câmara. Estar no estúdio é o escape dele, aquele tempinho sagrado que ele tem para estar sentado numa cadeira, a ler as notícias pela primeira vez. Quando lhe apresentam um gráfico gigante a mostrar a escalada da dívida pública, é normal que fique revoltado. Está ele, descansado da vida, no tempo que tem para relaxar e dizem–lhe que a economia está a colapsar? Não lhe podemos pedir que fique impávido e sereno!
Este método de não saber as notícias antes de as ler no estúdio é excelente para os telespetadores, porque torna o jornalismo mais dinâmico: é que estamos a receber as notícias ao mesmo tempo que a pessoa que nos está a dá-las. É um método interativo. Acho que o Dr. JRS devia assumir publicamente que é isso que faz. Porque não há mal nenhum! As pessoas percebem que ele tem mais que fazer do que andar informado e até o encorajam a isso, comprando os livros dele em massa. No fundo, elas são as culpadas por ele não ter tempo para o jornalismo. Por isso, não se podem queixar.