Pode parecer que esta história que vamos contar tem mais de 100 anos, mas não. Em Portugal, há 35 anos, quando se pedia uma assinatura de telefone estava-se pelo menos 34 meses à espera. São estes os dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Mas isto era na melhor das hipóteses e dependia da zona do país. Agostinho Pinto, que trabalhou vários anos na área, garante que “nos anos 80 e 90 havia pessoas em Aveiro que chegavam a esperar quase 12 anos para ter telefone porque não havia vagas telefónicas. Nessa altura, o que as pessoas faziam era recorrer aos postos públicos”. Por isso, era recorrente ver numa aldeia um café onde era instalado um telefone. Como recorda Agostinho, “nos anos 80 é quando se dá a evolução dos telefones públicos. Telefones de moeda e telefones de cartão”, e é “com a inauguração das redes públicas que surgem também as primeiras Estações de Chamadas, precursoras dos postos públicos. A crescente adesão dos utilizadores estimulou o alargamento dos postos públicos a diversos estabelecimentos comerciais e ao interior de edifícios com grande afluência de público”.
As cunhas e os subornos Para encurtar o tempo de espera para ter telefone havia subornos e cunhas. Assim como também se faziam verdadeiras festas nas aldeias quando se instalavam os telefones. “Havia zonas em que, por telefone, matava-se um leitão. Era uma altura em que se chegava a pagar 15 escudos por impulso. E cada impulso podia ser três minutos, dependia das zonas”, recorda.
Em 1970, os correios passaram a empresa pública, CTT – Correios e Telecomunicações de Portugal, que nesta época englobava, além do serviço postal, a atividade telefónica.
Nessa época, esta era a terceira maior empresa do país em volume de vendas e a maior empregadora nacional, com mais de 45 mil colaboradores, entre eles telefonistas.
Para ligar de Lisboa para uma qualquer aldeia que tivesse telefone, houve uma altura em que era preciso fazer a chamada para uma determinada zona e só depois era feita a ligação para o número em questão. E quem tem memória desta altura recorda-se de ser frequente ouvir do outro lado uma voz que não podia ser mais familiar: “Sim, menino, como está? Vou tentar passar a chamada, mas penso que os seus pais a esta hora não devem estar em casa.” Afinal, era por elas, telefonistas, que todas as chamadas passavam e, por isso, conheciam as rotinas, as vozes e as pessoas.
Agostinho Pinto, do museu dos telefones, recorda alguns pontos da evolução deste tipo de comunicação e garante que “durante algum tempo, foi feito um grande investimento por parte dos CTT”.
Ainda hoje sem telefone Pode parecer impossível aos olhos de alguns, mas nas aldeias, hoje em dia, ainda há quem não tenha telefone. Um exemplo é Várzea da Serra, distrito de Viseu, onde, como noutras aldeias, ainda há quem não tenha telefone em casa. Nesta zona, a primeira cabina pública apareceu apenas em agosto do ano passado.
Na época balnear eram instalados nas praias postos públicos sazonais. As rulotes eram colocadas em determinadas zonas em junho e só eram tiradas em setembro. Estavam equipadas com cabinas telefónicas por dentro e chegavam a atrair tantas pessoas nas zonas de praia que se faziam verdadeiras filas de espera por um telefone. Agostinho Pinto explica que “nesta altura, as pessoas não tinham telemóvel e, quando iam para a praia, não tinham como falar com ninguém. Por isso foi encontrada esta solução”.
Nos anos 90, a praia da Torreira, no concelho de Murtosa, Aveiro, era um exemplo do tipo de locais (na foto) que no verão ganhavam novo movimento, não apenas por causa dos banhistas, mas também, muitas vezes, pela espera para conseguir um lugar dentro da rulote para fazer uma chamada.
Este tipo de aposta multiplicou-se por todo o país e só começou a desaparecer com a massificação do telemóvel.
Tânia, que cresceu com o hábito de passar férias com os pais no Algarve, explica ao i que é uma das imagens que guarda. “Lembro-me muito bem das rulotes. As pessoas iam de férias e a forma mais rápida de ligar para quem quer que fosse era usar este serviço.”