Há duas semanas, depois de demitir o treinador Mihajlovic e contratar Brocchi, o presidente do Milan Silvio Berlusconi foi para o Facebook dizer que a equipa nunca jogou tão mal. O clube vai falhar a Liga dos Campeões pelo terceiro ano seguido e está agora na sexta posição, o que quer dizer que nem à Liga Europa vai conseguir ir para o próximo ano. É uma das maiores crises do Milan desde que Il Cavaliere pegou nos destinos do emblema há 30 anos (a 20 de fevereiro de 1986). Mas não é só no futebol que o clube que divide o estádio em San Siro com o Inter está mal – as finanças estão um descalabro (em 2015 teve perdas de 116 milhões) e a venda é o único caminho viável para salvar os rossoneri, detentores de sete Champions.
Berlusconi está a refletir sobre a proposta apreentada por Jack Ma, propietário de Alibaba, do Facebook chinês (Weibo) e da equipa de futebol pentacampeã chinesa Guangzhou Evergrande, treinada por Scolar. Ma ofereceu algo irrecusável, 700 milhões de euros para ficar com 70% do clube e ainda o compromisso de ficar com os outros 30% em 2017.
A palavra “reflexão” é do jornal italiano “Gazzetta dello Sport”, que diz que Berlusconi deverá aceitar a oferta nos próximos dias. Silvio Berlusconi – que se autodefiniu como o “Jesus Cristo da política, ungido pelo Senhor” em novembro de 1994, no primeiro dos seus três mandatos como primeiro-ministro de Itália – já tinha aceitado em 2014 vender 48% do clube ao empresário tailandês Bee Taechaubol, do grupo privado Thai Prime, mas o negócio acabou por não se concretizar. Desta vez parece difícil dizer não, perante um dos homens mais ricos do mundo (com uma fortuna avaliada em 31 mil milhões), que investiu esta época no Guangzhou 69 milhões (o ex-portista Jackson Martínez custou 42 milhões).
A chegada de Jack Ma ao Milan pode querer dizer também a entrada de Marcello Lippi no clube. O ex-selecionador campeão mundial com a Itália em 2006 é o atual diretor deportivo do Guangzhou e, segundo a imprensa italiana, é ele o homem por detrás da operação e é ele quem irá comandar as operações desportivas do Milan, curiosamente dos poucos clubes que não treinou em Itália (esteve na Juventus, Inter, Nápoles e na Nazionale). Jack Ma é também o ponto final de Berlusconi em Itália como homem do poder. Os negócios como empresário estão a fracassar, o grupo Mediaset, do qual é acionista principal, está com perdas depois do vários negócios ruinosos, e isso reflete-se na política. O partido de que é líder, o Forza Italia (FI), perdeu a hegemonía no centro-direita do país, com apenas 12% segundo uma última sondagem, ultrapassado pela Liga Norte, do xenófobo Matteo Salvini. É um fim penoso, que chega agora ao plano desportivo com venda do Milan, um clube que ergueu da Séríe B e levou à conquista de 5 Ligas dos Campeões, 5 Supertaças da Europa, 8 scudetti, e 3 Mundiais de Clubes. Finito.