Billy Paul. O homem que deu voz à confissão de infidelidade

Billy Paul. O homem que deu voz à confissão de infidelidade


O autor e cantor do tema “Me and Mrs Jones” morreu ontem, em Nova Jersey, vítima de um cancro no pâncreas. Tinha 80 anos


Parece já não haver grande espaço para dúvidas: 2016 está a ser um ano negro para a cultura mundial, sobretudo para a música. Billy Paul morreu em casa, em Blackwood, Nova Jersey, depois de ter sido recentemente diagnosticado com um cancro no pâncreas. Tinha 80 anos e continuava a atuar regularmente, tendo mesmo vários espetáculos agendados.

Segundo o comunicado publicado pela dupla de letristas e produtores musicais, cofundadores da Philadelphia International Records, Kenneth Gamble e Leon Huff, a voz de Billy Paul transformou-o num “dos maiores artistas a sair de Filadélfia e a ser mundialmente celebrado.  O momento de que mais nos orgulhamos de ter vivido com ele foi a gravação de ‘Me and Mrs Jones’. Do nosso ponto de vista, é uma das maiores canções de amor que alguma vez foi gravada”. Curiosamente, em 2000, um litigio com esta mesma dupla sobre direitos de autor, condenou-os a pagarem um milhão de dólares ao cantor.

Sempre com os seus gigantescos óculos, barba e chapéu, Billy Paul não foi um homem de um sucesso só, no entanto, acabou por se ver definido por apenas um tema, que eclipsou todos os seus outros sucessos, como “Let ‘Em In”, “Let’s  Make a Baby” e “Only The Strong Survive”. Lançado em 1972, “Me and Mrs Jones” foi número um dos tops norte-americanos, vencedora de um Grammy e é ainda hoje um tema mundialmente reconhecido. Considerada uma típica produção Gamble & Huff, os arranjos musicais reforçaram a voz sexy de Billy Paul. E de repente, uma confissão de infidelidade passou a ser algo sedutor. Curiosamente, Billy Paul foi casado com a mesma mulher durante décadas.

Billy Paul nasceu Paul Williams, mas mudou de nome por sugestão do seu agente, que receava que o confundissem com o letrista Paul Williams. Natural de Filadélfia, era ainda menor de idade quando começou a atuar nas primeiras partes de grandes figuras do jazz. Por esta altura, e devido ao serviço militar, foi colocado numa base norte-americana na Alemanha onde estavam também Elvis Presley e Gary Crosby. “Dissemos que íamos fazer uma banda para evitarmos trabalhos mais pesados. Ainda tentámos convencer o Elvis mas ele queria ser condutor de jipes, por isso fiquei só eu e o Gary. Éramos os Jazz Blues Symphony Band”, disse numa entrevista em 2015.

Em meados dos anos 1960, os Beatles, e outros cantores como Bob Dylan, Paul Simon, Elton John e Carole King, inspiraram-no a aproximar-se mais do R&B e nessa altura passou da editora Jubilee para trabalhar com a a dupla Gamble & Huff, na Philadelphia International Records, depois de ter acidentalmente conhecido Gamble numa loja de discos em Filadélfia.

Os dois primeiros álbuns – “Ebony Woman” e “Going East” – não se revelaram grandes sucessos, mas tudo mudou com “Me and Mrs Jones”. A partir daqui, foi alternando entre as baladas românticas e temas politicamente engajados, como “I’m a prisoner”, “Am I black enough for you?” e “Bring the family back”.