Será que já se percebeu em Portugal o que é preciso fazer para nascerem mais crianças? O apelo de Cavaco Silva marcou o 10 de junho de 2007 e, embora se tenha agravado substancialmente desde então, o cenário pode estar finalmente a chegar a bom porto. No primeiro trimestre nasceram mais 1334 bebés em Portugal do que no mesmo período do ano passado. O aumento da natalidade é quase duas vezes superior ao que se registava no primeiro trimestre de 2015, ano em que, pela primeira vez desde 2010, houve uma subida no número de nascimentos.
Os números foram revelados ao i pelo Instituto Ricardo Jorge e têm os testes do pezinho realizados no âmbito do Programa Nacional de Diagnóstico Precoce como base. Este teste não é obrigatório mas, tendo em conta que a adesão é de quase 100%, este é considerado um indicador preciso da natalidade do país enquanto o Instituto Nacional de Estatística não divulga os dados oficiais, o que acontece com um maior desfasamento temporal.
Tendo então por base este indicador, ao todo nasceram em Portugal nos primeiros três meses do ano 20 992 crianças, mais 7% do que no primeiro trimestre do ano passado, em que se verificaram 19 658 nascimentos. De 2014 para 2015, o crescimento tinha sido de 4%. Os distritos de Viseu, Bragança, Leiria e Vila Real lideram a subida, com o primeiro a registar mesmo um aumento de 21% no número de nascimentos. Lisboa, Porto e Setúbal registam, como é habitual, o maior número de bebés, com aumentos entre os 4% e os 6%.
A confirmar-se esta tendência, 2016 pode ser o segundo ano consecutivo com mais nascimentos – o que, num país com a natalidade em queda acentuada desde os anos 60, salvo subidas pontuais, é algo que não acontece desde o final dos anos 90. Há 20 anos, aliás, iniciava-se uma curva ascendente que culminou no ano 2000 com 120 008 nascimentos, algo que não se tornou a repetir e tem sido atribuído à saída de muitos imigrantes no país. Em 2010 houve um ligeiro aumento da natalidade, mas o número não tornou a ultrapassar os 100 mil. No auge da crise, 2011/2012, passaram mesmo a nascer menos 10 mil crianças no país.
Mesmo que a taxa de aumento dos nascimentos se mantenha até dezembro – e tendo em conta que no ano passado nasceram 85 058 crianças –, dificilmente se regressará este ano aos valores anteriores à crise. A uma taxa de crescimento de 7%, pode esperar-se que os nascimentos voltem a subir para o patamar dos 90 mil. É imprevisível, mas no ano passado a subida não foi tão expressiva como nos primeiros meses. O ano terminou com mais 1958 nascimentos.