OPEP. Falta de acordo trava subida do preço do petróleo

OPEP. Falta de acordo trava subida do preço do petróleo


Irão não concordou com congelamento da produção. Preços do crude devem voltar às descidas


Seria um acordo histórico, o primeiro em 15 anos, mas as negociações falharam. Os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os não-OPEP não fecharam um acordo para congelar a produção de petróleo e permitir a subida do preço desta matéria-prima. A reunião que decorreu em Doha, Qatar, durante o dia de ontem não trouxe a conclusão que todos esperavam devido à tensão entre Arábia Saudita e Irão.

A reunião era um das mais aguardadas da OPEP, por reunir quer os membros da organização como seis países não membros, entre eles, Rússia, México, Colômbia e Cazaquistão.

Início promissor Ao início do dia de ontem vários participantes garantiram que o acordo seria firmado, mesmo sem a adesão do Irão. No entanto, o facto de o Irão não ter mandado uma delegação a Doha fez com que a Arábia Saudita acabasse por mudar de posição. O país alegou que ou todos congelam a produção de petróleo ou ninguém congela.

Como justificação para não estar presente, ao contrário do que tinha sido acordado, o Irão sublinhou que o tema da congelar a produção de petróleo não lhes interessa. Ainda assim, esteve presente o iraniano Hossein Kazempour Ardebilli, que faz parte do conselho de governadores da OPEP.

Fontes da “Reuters” asseguram que o Irão foi informado que apenas países dispostos a concordar com o congelamento da produção deveriam estar na reunião e, por isso, fez saber que não estaria interessado em participar. Até porque este país, que em março produziu 3,3 milhões de barris por dia, pretende aumentar a produção para quatro milhões até ao mês de abril do próximo ano.

“O encontro de Doha é para pessoas que querem participar no plano de congelamento da produção, mas, dado que não se espera que o Irão o assine, a presença de um representante iraniano não é necessária”, afirmou o ministro do Petróleo iraniano, Bijan Zanganeh, acrescentando ainda que “o Irão não vai, de modo algum, abdicar da sua histórica quota de produção”.

Mudança de posição Ainda de acordo com a Reuters, que cita fontes da OPEP, “os sauditas mudaram tudo durante a manhã”. Os países tinham já chegado a um entendimento e ficaria assinado o acordo que previa o congelamento da produção de petróleo até outubro deste ano.

O acordo previa ainda que fosse criado um comité de acompanhamento, que seria constituído por dois países da OPEP e por dois países não membros. Mas tudo mudou com a mudança de posição do Irão.

Agora, a Arábia Saudita insiste que todos os países têm de participar nas negociações. A mensagem é simples: ou todos chegam a acordo e congelam a produção ou nenhum país congela.

Cotações do petróleo Os países produtores de petróleo têm sofrido com a queda dos preços e com o excesso de oferta, mas a reunião de ontem evidencia a relutância em cortar na produção de forma a pressionar a subida do preço por barril.

A verdade é que desde que se tornou pública a existência de reuniões, em fevereiro, que o preço do barril começou um trajetória ascendente. Na semana passada, o preço do Brent atingiu o máximo do ano: cotou a 44,94 dólares.

Alguns analistas antecipavam até que, caso o acordo fosse conseguido ontem, o ponto mais baixo da desvalorização iniciada em junho de 2014 teria sido registado a 20 de janeiro deste ano – altura em que o preço do barril do Brent atingiu o mínimo de 27,10 dólares.

Agora, com o “desacordo”, a pressão será para a descida de preços. “Com o Irão fora das negociações e o mercado de futuros maioritariamente comprado, poderemos assistir a um ajustamento negativo do preço do crude nos próximos dias”, antecipa Steven Santos, analista do Banco BIG.

Há poucos dias a OPEP anunciou que a procura de petróleo vai aumentar apenas 1,2 milhões de barris por dia este ano, menos 30 mil barris do que estava previsto. A discussão sobre um acordo na OPEP para congelar a produção de petróleo só deverá retomada numa reunião agendada para junho.