Conflito. Sírios vão às urnas em pleno tempo de guerra

Conflito. Sírios vão às urnas em pleno tempo de guerra


Eleições foram limitadas a um terço do país e a 60% da população nas zonas controladas pelo governo de Bashar Al-Assad


Apesar de as eleições legislativas terem sido boicotadas pela oposição síria que as considera “ilegítimas” e uma “provocação”, os centros de votos abriram ontem na Síria em zonas controladas pelo governo de Bashar Al-Assad para eleger um novo parlamento de 250 membros.

Na Síria, as áreas controladas pelo governo correspondem a um terço do território do país onde vive cerca de 60% da população.

Além da oposição, também os líderes ocidentais demonstraram desagrado com estas eleições, afirmando que se tratam de uma farsa que pode ameaçar as negociações de paz e o cessar-fogo que já dura há seis semanas.

Numa altura em que mais de metade da população síria fugiu do país e uma grande parte do território do país está sob o controlo de vários grupos armados, estas eleições têm sido vistas por vários especialistas como uma farsa para que seja possível dar legitimidade ao presidente sírio e ao seu partido, Baath. Para os Estados Unidos, estas eleições são “ilegítimas”.

Segundo vários analistas, estas eleições não deverão ser muito diferentes das últimas, em 2012. Ou seja, naquela altura, pela primeira vez, vários partidos – além do Baath – foram autorizados a participar. No entanto, a maioria dos deputados eleitos pertencia ao partido de Assad.

Para a Rússia – grande aliada síria – e para Assad, estas eleições são “um fator de estabilização”. “É verdade que o terrorismo destruiu as nossas infraestruturas, que fez derramar muito sangue, mas não conseguiu atingir o objetivo de destruir a principal base da Síria que é a identidade nacional. É por isso que aqueles que apoiam os terroristas, com o pretexto da política, estão também a atacar a nossa identidade e soberania representada pela Constituição”, defendeu ontem o presidente sírio.

Espera-se que os resultados eleitorais sejam divulgados hoje.

Negociações de paz As eleições coincidem com o recomeço das negociações de paz em Genebra e também com a preparação de uma ofensiva com a Rússia para recuperar Aleppo, região síria nas mãos do grupo terrorista Estado Islâmico.

“A próxima fase das negociações de Genebra será crucial porque nos concentraremos na transição política, no governo e nos princípios constitucionais”, avançou na passada segunda-feira Staffan De Mistura, o enviado especial da ONU.

As negociações não serão fáceis com o governo e a oposição a acusaram-se mutuamente. Ainda assim, ambas as partes afirmam querer paz. “Estamos aqui em Genebra por um motivo: queremos tornar a vida da Síria e do povo sírio melhor”, avançou ontem um representante da oposição, Hind Aboud Kabawat, agradecendo ainda à ONU “que está a fazer tudo para a paz e por uma vida melhor para os sírios”.

Já o governo pede que a oposição arranje soluções que não sejam apenas derrubar o governo. “Não há pré-condições. Já negociamos com muitos grupos da oposição que estão fragmentados e não têm um programa unificado. Pré-condições podem significar o bloqueio do diálogo e o desejo de que estas novas negociações fracassem, como da última vez”, avisou o porta-voz do governo sírio, Bashar al-Jaafari.

Para a representante dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power, o aumento da violência em Aleppo ameaça não só as conversações como põe em risco o cessar-fogo, uma vez que o governo sírio quer recuperar a cidade.

Estas novas conversações – que se estima que durem 10 dias – acontecem três semanas depois do primeiro encontro para a paz na Síria do qual não saíram quaisquer conclusões.