Forças Armadas. Vasco Lourenço apela a recusa para substituir general demitido

Forças Armadas. Vasco Lourenço apela a recusa para substituir general demitido


A contestação a Azeredo Lopes sobe de tom. Há apelos para que nenhum oficial aceite ser chefe do Estado-Maior do Exército e já se fazem planos para protestos públicos, até nas comemorações do 25 de abril


As reações nas Forças Armadas contra o ministro da Defesa estão em crescendo. Hoje, a Associação 25 de abril vai tomar posição pública, criticando Azeredo Lopes e louvando a atitude do general Carlos Jerónimo, que se demitiu depois da reprimenda pública do ministro, na sequência das críticas de Azeredo Lopes a uma situação de alegada discriminação de alunos homossexuais no Colégio Militar. Vasco Lourenço, que remete para o conteúdo do comunicado que hoje será divulgado, expressa no entanto e desde já um desejo: que Azeredo Lopes não encontre um substituto para o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME).

“O desejável é que os generais que venham a ser convidados a seguir digam que não”, afirma o coronel ao i. “Infelizmente, isso não é o normal, vamos ver o que acontece”, diz ainda Vasco Lourenço, que tem estado envolvido na preparação das comemorações do 42.o aniversário do 25 de Abril. O ministro da Defesa terá começado na segunda-feira a ouvir quatro candidatos ao lugar, segundo noticiou o “DN”.

Em relação ao documento, e sem o querer antecipar ao i, Vasco Lourenço resume o que vai ser a tomada de posição da Associação 25 de Abril: “Vou felicitar a atitude do general Carlos Jerónimo, criticar a atitude do ministro, e não só, e manifestar preocupação.”

As circunstâncias em que aconteceu a saída de Carlos Jerónimo têm sido alvo de várias tomadas de posição pública (ver páginas 4-5) de oficiais das Forças Armadas. O CEME demitiu-se por “ter sido repreendido na praça pública, por causa de uma situação que exigiria reserva. Não é assim que se fazem as coisas nas Forças Armadas”, diz o coronel Manuel Pereira Cracel, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA).

Nos últimos dias têm também começado a tomar forma planos para uma reação dos militares. “Pode ser um encontro, pode ser um jantar, pode acontecer até nas comemorações do 25 de Abril”, diz um oficial das Forças Armadas ao i. Vasco Lourenço diz que já “tomou conhecimento” de pelo menos uma tentativa de organizar um protesto. Já o coronel Pereira Cracel considera “prematura” qualquer consideração sobre este assunto.

Demissão do ministro O apelo de Vasco Lourenço para que nenhum oficial aceite tomar o lugar de Carlos Jerónimo é partilhado por mais altas patentes da instituição militar, nomeadamente pelo general do Exército Ricardo Durão. “Felicito a decisão tomada pelo Chefe do Estado-Maior, como felicitarei os generais que recusem a nomeação para o substituir, enquanto for mantido em funções o atual ministro”, escreveu o general na página da AOFA.

Este texto é subscrito por Altino de Magalhães, general do Exército, Abílio Joaquim Patinho, coronel da Força Aérea, Joaquim Macias Vilão, Ramiro Alves Correia Oliveira e José Joaquim de Magalhães Pequito, coronéis do Exército.

Além do apelo aos oficiais para que não aceitem ocupar o cargo de Carlos Jerónimo, há um outro: o da demissão do ministro da Defesa. “É simples, é só mais uma substituição que contribuirá para a melhoria do elenco governamental”, ironiza o general Ricardo Durão.

Ontem, o ex-vice-chefe do Estado-Maior do Exército, general Garcia Leandro, escreveu no “DN” uma carta aberta a Azeredo Lopes, sugerindo também a sua demissão, no caso de “se voltar a repetir este procedimento com outros CEME”. Garcia Leandro também afirma que não há discriminação de alunos homossexuais no Colégio Militar, um argumento repetido por outros militares nos últimos dias.

Também Loureiro dos Santos veio criticar o ministro. O general considera que Azeredo Lopes foi “inábil”, elogia Carlos Jerónimo, dizendo que “o Chefe do Estado-Maior não pode sentir-se desautorizado” e “deve ter permanentemente o enquadramento e o apoio do chefe político”.

Comentando as várias tomadas de posição, o presidente da AOFA considera que os militares que se têm manifestado publicamente “refletem o sentimento generalizado após este infeliz acontecimento”. Pereira Cracel elogia o general, que se demitiu para “defender a honra da instituição”, ele que, no cargo, várias vezes tinha “mostrado preocupação com o bem-estar dos seus homens e denunciara a falta de condições para o exercício das missões confiadas às Forças Armadas”.

Na base da demissão do CEME está o pedido de explicações públicas do ministro Azeredo Lopes sobre a admissão de alegadas discriminações de alunos homossexuais no Colégio Militar. O pedido surgiu depois de, em entrevista ao “Observador”, o subdiretor do Colégio Militar, tenente-coronel António Grilo, admitir que a instituição aconselha as famílias de alunos que demonstrem “afetos” por outros alunos a retirar os filhos da escola.

O CEME terá sentido que a “reprimenda” pública o punha em causa. Demitiu-se e o pedido foi aceite na última quinta-feira pelo Presidente da República. Na mensagem de despedida que enviou aos militares do Exército, Carlos Jerónimo disse que se demitia “em defesa dos princípios da ética e da honra”. Vários militares puseram em causa que as declarações do responsável do Colégio Militar revelassem uma discriminação dos alunos homossexuais. O general Ricardo Durão diz que o ministro confunde “procedimentos inadequados passíveis de correção, sejam de caráter homo ou heterossexual”.  No caso do envolvimento sexual entre militares de sexos diferentes, o afastamento dos envolvidos é também o procedimento adequado, defende.

manuel.a.magalhaes@ionline.pt