Os paraísos fiscais são um dos principais alvos do sistema financeiro bancário internacional e é comum a abertura de sucursais em offshores, assim como de contas. Sigilo aliado a baixos impostos é a fórmula de sucesso que conquista a banca, um pouco por todo o mundo. De acordo com a investigação Papéis do Panamá, cerca de 500 bancos terão criado mais de 15 mil empresas em paraísos fiscais e os dez maiores bancos europeus estão envolvidos no esquema de milhares de milhões de euros escondidos em offshores.
A criação destas empresas terá surgido através da Mossack Fonseca, a quarta maior empresa de criação de contas em paraísos fiscais. E nesta lista surgem bancos como o Crédit Suisse, HSBC, UBS e Société Générale, que lideram o ranking das instituições financeiras que mais pedidos fizeram para a criação de sociedades fictícias (offshores) a favor dos respetivos clientes (entre os quais se contam políticos, empresários, celebridades e organizações criminosas).
Só no ano passado, os ativos do sistema financeiro no Panamá alcançaram os 118,478 biliões de dólares, um montante histórico para este setor e que representa mais de 7% do produto interno bruto (PIB) do país. Este crescimento refletiu–se principalmente nos segmentos de hipotecas residenciais, de empréstimos ao consumo pessoal e de cartões de crédito.
Aliás, o sistema financeiro do Panamá representa um dos pilares da economia do país e é composto de uma centena de bancos que empregam mais de 25 mil pessoas.
Banca portuguesa não fica alheia O Banco Espírito Santo (BES) foi uma das instituições financeiras que ficaram mais conhecidas pelas suas ligações ao Panamá. O BES emprestou dinheiro secretamente à holding Espírito Santo International (ESI). A operação de financiamento da ESI, que detinha então 25% do banco, durou dois anos e aconteceu através de um pequeno banco no Panamá. Essas operações não foram declaradas e colocaram novamente a supervisão do Banco de Portugal no centro das atenções. Em agosto, aquando da falência anunciada do Grupo Espírito Santo (GES) e da criação do Novo Banco, o Banco de Portugal declarou que havia detetado “financiamento fraudulento” envolvendo empresas não financeiras do GES.
Mas não foi caso único. A Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem sucursais nas Ilhas Caimão e no “offshore de Macau”. O Novo Banco conta com sucursais em Nassau (Baamas), além das Caimão. Já o BCP tem presença nas Caimão, um exemplo que é seguido pelo BPI que, no relatório e contas de 2014, aponta três sociedades constituídas neste offshore. Também o Santander Totta refere, no seu relatório e contas do primeiro semestre de 2015, uma sucursal nas Baamas.
A verdade é que esta tendência acaba por ser reconhecida pelo próprio Banco de Portugal. De acordo com os dados divulgados, nos últimos dez anos aplicaram-se 6,2 mil milhões de euros em offshores e calcula-se que, este ano, esse montante tenha chegado aos sete mil milhões. Os paraísos fiscais – entre os quais se incluem as ilhas Bermudas, as Caimão, Gibraltar e Andorra, os mais usados pelos portugueses – representam 15% do investimento das empresas portuguesas no exterior.