A divulgação de alguns nomes que constam nas listas de clientes do escritório Mossack Fonseca e o sigilo sobre outros acabaram por gerar nas últimas horas teorias que se espalharam a grande velocidade na internet, em comentários de notícias e nas redes sociais.
Em Portugal, com o argumento de que só foi conhecido o nome de Idalécio Oliveira, um ilustre desconhecido no resto do mundo, porque ainda não se conhecem nomes de cidadãos americanos. Uma certeza foi já deixada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI), que investiga os documentos há cerca de um ano: em Maio, tudo o que há será tornado público.
Portugueses das offshores Idalécio é o único nome de um português conhecido entre todos os que constam nos dados da sociedade de advogados Mossack Fonseca. A lista quase interminável de clientes que usavam os serviços desta sociedade para esconder rendimentos – podendo grande parte ser oriunda de subornos, fugas ao fisco, tráfico de droga e armas e ainda fraudes financeiras – é considerada já a maior fuga de informação da história.
Nos chamados Papéis do Panamá existem pelo menos 34 portugueses ou residentes em Portugal (23 serão clientes daquele escritório) e 244 empresas sediadas em território nacional. Os seus nomes serão revelados já nos próximos dias pelo CIJI.
A divulgação dos dados foi planeada de forma que haja alguma organização no fluxo de informação, e essa é a razão que leva a que ainda não tenham sido publicados os nomes de portugueses, o que em Portugal deverá acontecer este sábado. Mas o i sabe que existem “pessoas relevantes na sociedade portuguesa”.
Ao longo de quase um ano de investigação, os jornalistas que integram este consórcio passaram a pente fino o nome de vários cidadãos nacionais que terão usado este esquema do Panamá para ocultar os seus rendimentos e património.
Parte da teia cruza-se com o chamado caso SwissLeaks, uma rede que teria como ponto central a filial suíça do banco britânico HSBC e que permitia aos clientes fugirem ao fisco dos seus países.
Então porquê só Idalécio? O nome do empresário de Vouzela foi publicado por jornais brasileiros, dado o seu envolvimento com a petrolífera estatal Petrobras – a peça central da megaoperação Lava Jato.
Tendo em conta o planeamento do consórcio internacional, os jornalistas brasileiros começaram a lançar os nomes dos naturais daquele país e dos que, não sendo naturais, estavam relacionados com assuntos relevantes. É aí que surge o português.
Idalécio foi uma porta de entrada da petrolífera brasileira em África, continente onde se move com muita facilidade e tem muitos conhecimentos. Durante anos terá sido diretor da petrolífera Chariot, que operava na Namíbia.
Mas as suas aspirações eram maiores, queria ter os seus negócios. Em 2011 era dono do Lusitania Group, que controlava a companhia CBH. E foi assim, por seu intermédio, que a Petrobras entrou na exploração do Benim – uma aposta que viria a revelar-se um fracasso.
Segundo a “Folha de São Paulo” noticiou na altura, a petrolífera brasileira comunicou ao mercado, em 2011, a compra de 50% do bloco exploratório número 4 com o objetivo de “buscar oportunidades em águas profundas e ultraprofundas na região”.
Negócio ruinoso O bloco estava dividido em partes iguais entre a companhia brasileira e a CBH até que chegou outro nome de peso: a Shell. A empresa comprou 15% da parte da Petrobras e 20% da da CBH.
Mas não foram sequer precisos cinco anos para que Petrobras e Shell abandonassem o projeto. Depois de algumas perfurações, o consórcio percebeu que não havia reservas de petróleo de grande dimensão.
A importância do português Segundo a “Folha de São Paulo” noticiou no final do ano passado, Idalécio Oliveira é suspeito de ter estado na origem de luvas pagas ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – do PMDB, que há dias deixou o partido de Dilma e Lula isolado no governo.
Segundo um dos denunciantes do esquema no Brasil, a Petrobras comprou a sua parte da área de exploração por 15 milhões de dólares, tendo metade deste valor sido desviado para subornos.
A Mossack Fonseca cruzou--se, por isso e não só, por diversas vezes com os investigadores brasileiros da Operação Lava Jato.
Os Papéis do Panamá Em julho do ano passado, o jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” teve acesso a 2,6 terabytes de dados (no SwissLeaks foram apenas 3,3 gigabytes). As informações envolviam nomes de 140 políticos de 50 países, vários ainda no ativo. Na prática era o resumo de 40 anos de história de uma sociedade de advogados que se dedicava à constituição de offshores (a Mossack Fonseca) e, consequentemente, uma rede que se suspeita agora ter como finalidade o branqueamento de capitais de grandes empresários, políticos, desportistas e artistas.
Depois de receber estes dados, o jornal entregou-os ao CIJI. No total estão envolvidos cerca de 300 jornalistas associados de vários países, incluindo os portugueses Rui Araújo (TVI) e Micael Pereira (“Expresso”).