O cerco


O PSD vai chegar a Espinho completamente cercado, com a perspetiva de se manter nessa situação por muitos anos


Passos Coelho pode ter tido 95% dos votos numa eleição solitária. Mas é evidente que o PSD vai chegar a Espinho completamente cercado, com a perspetiva de se manter nessa situação por muitos anos.

Em Portugal é muito raro o caso de um primeiro-ministro que se mantém como líder partidário depois de sair do governo. A única vez que isso aconteceu foi com Mário Soares que, depois de exonerado por Ramalho Eanes, liderou o PS na oposição durante seis anos até voltar a chefiar o governo. Mas Mário Soares é um político nato, que está à vontade em qualquer função, e não teve qualquer problema em vestir o fato de líder da oposição. Na altura até disse que, quando o demitiram, o tinham libertado da gaiola. Passos Coelho, pelo contrário, não está manifestamente à vontade nesse fato, dando a sensação de que todos os dias suspira de saudade pelos tempos em que chefiava o governo.

Só que António Costa está a fazer tudo para que os portugueses não sintam quaisquer saudades desses tempos. E mesmo que a sua governação esteja a ser irresponsável, se não houver um descalabro a curto prazo, é manifesto que o PS vai ganhar terreno ao PSD. E o PSD também passou a ser atacado à direita pelo CDS de Assunção Cristas, que já percebeu que é preciso descolar da recordação do governo anterior. Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa já demonstrou que não se esqueceu de ter sido apelidado de cata-vento por Passos Coelho e vai fazer-lhe a vida negra sempre que tiver oportunidade.

Passos Coelho quer levar o PSD para uma longa travessia no deserto, mas corre o risco de se perder nele.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa

Escreve à terça-feira

O cerco


O PSD vai chegar a Espinho completamente cercado, com a perspetiva de se manter nessa situação por muitos anos


Passos Coelho pode ter tido 95% dos votos numa eleição solitária. Mas é evidente que o PSD vai chegar a Espinho completamente cercado, com a perspetiva de se manter nessa situação por muitos anos.

Em Portugal é muito raro o caso de um primeiro-ministro que se mantém como líder partidário depois de sair do governo. A única vez que isso aconteceu foi com Mário Soares que, depois de exonerado por Ramalho Eanes, liderou o PS na oposição durante seis anos até voltar a chefiar o governo. Mas Mário Soares é um político nato, que está à vontade em qualquer função, e não teve qualquer problema em vestir o fato de líder da oposição. Na altura até disse que, quando o demitiram, o tinham libertado da gaiola. Passos Coelho, pelo contrário, não está manifestamente à vontade nesse fato, dando a sensação de que todos os dias suspira de saudade pelos tempos em que chefiava o governo.

Só que António Costa está a fazer tudo para que os portugueses não sintam quaisquer saudades desses tempos. E mesmo que a sua governação esteja a ser irresponsável, se não houver um descalabro a curto prazo, é manifesto que o PS vai ganhar terreno ao PSD. E o PSD também passou a ser atacado à direita pelo CDS de Assunção Cristas, que já percebeu que é preciso descolar da recordação do governo anterior. Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa já demonstrou que não se esqueceu de ter sido apelidado de cata-vento por Passos Coelho e vai fazer-lhe a vida negra sempre que tiver oportunidade.

Passos Coelho quer levar o PSD para uma longa travessia no deserto, mas corre o risco de se perder nele.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa

Escreve à terça-feira