Black Mountain. Essa cena das sandes de queijo derretido

Black Mountain. Essa cena das sandes de queijo derretido


Depois de atuarem noTREMOR e no Hard Club, os canadianos passam pelo Musicbox. “IV”, o seu quarto disco, chega a 1 de abril 


Coisas. Bom, é que sabes. Espaço ainda para “Well, you know…things like that”. Há um risco do qual nunca estamos livres, sobretudo nesta profissão, aquele que diz que quando pedimos uma entrevista nunca sabemos quem vai estar do outro lado do telefone. E por isso, ou porque Plutão é o último planeta do sistema solar, somos sujeito a respostas mais curtas que uma bica italiana. E quando o tamanho não é tudo – porque, de facto, o comprimento pode bem ser algo inútil ou nefasto – os problemas passam a prender-se com o conteúdo. Não que este não exista, pelo contrário, chega a existir de tal forma que ganha corpo dúbio, abstraccionismo discursivo.

Atentemos na resposta de Steve McBean, líder dos Black Mountain, quando o interrogamos sobre a capa do disco. “Diria que a capa representa a morte do ‘rad future’, digo isto porque tens aquela imagem do Concord quase no espaço, a desafiar a velocidade do som, todas aquelas ideias que tens quando és criança e pensas em carros voadores, máquinas que cospem sandes de queijo derretido e afins. No fundo é uma brincadeira, uma espécie de gozo com essa ideia antiga do futuro com que já todos sonhámos”.

Bom, lá sonhador é Steve McBean, até porque não considerou sequer o facto de que talvez nem toda a gente tenha sonhado com um futuro onde máquinas espaciais cospem sandes de queijo derretido. Ainda assim, há muita gente que diria que sim só para poder ser cool como os Black Mountain, só para conseguir um bilhete para o concerto.

Estes canadianos, que ainda agora passaram pelo TREMOR, nos Açores, e depois pelo Hard Club, no Porto, estão prestes a editar “IV”, o seu quarto disco de originais que prossegue a tentativa de fazer do espaço um lugar habitável, ou, simplesmente idealizar uma banda sonora para quando for hora de inaugurar o turismo espacial, sete noites em Júpiter, regime tudo incluído. Este objeto que começou a ser idealizado no inverno de 2014: “Uns seis meses antes de entrarmos em estúdio começámos a falar mais disto, a envolvermo-nos com o disco, surgiram mais temas e começámos a ficar entusiasmados. É claro que alguns de nós apenas se sentaram à espera que resultasse, cada um tem o seu papel”, explica McBean, mais uma vez num tom profundamente satírico.

Diga-se que Steve McBean não fica a dever muito à seriedade – e aí de acordo, que a obrigatoriedade de ser cisudo e correto não traz nada de bom ao mundo – a não ser uma ou outra vez, quando lhe pedimos que fale do novo disco e da atmosfera, ou falta dela, que o pode ter influenciado. “Há pouco tempo fizemos uma reedição do primeiro disco, foi engraçado ouvi-lo com esta distância, bastante depois de o fazermos. Parece-me que fomos influenciados por isso, o ambiente do primeiro disco e aquele espírito de estreia, de quem ninguém te ouve, da inocência que se escuta no som. Isso e muitas coisas no geral, alguma banda que andássemos a ouvir ou assim”, explica.

“Wilderness Heart”, registo anterior, é de 2010, ou seja, os Black Mountain andaram a fazer outras coisas, como bandas sonoras para filmes, sobretudo para “Year Zero”, um filme de surf num cenário pós-apocalíptico, algo que parece ter sido feito propositadamente para os Black Mountain, ou por outra, não podia ter sido outra banda a compôr a música de um enredo como este, como se pode perceber nas linhas seguintes: “Nós ainda fazemos discos baseados no formato vinil. Daqueles com tempo para ir buscar um copo de vinho e fumar um cigarro enquanto se passa para o lado B, tem pausas entre, é quase um concerto. Gosto que a música seja visual, reflita uma estética”. E a estética de Black Mountain parece estar entre a Via Láctea e uma tosta de queijo. Melhor era impossível.