“Marcelo está empenhado no regresso ao bloco central”

“Marcelo está empenhado no regresso ao bloco central”


Jorge Costa, dirigente do BE, acredita que grande parte da popularidade do novo Presidente da República se explica pela comparação com o seu antecessor. Mas acha que para já pouco parece dividir Cavaco e Marcelo. E explica por que motivo os bloquistas não aplaudiram o discurso de tomada de posse de Rebelo de Sousa.


Que expectativas tem para o mandato de Marcelo em Belém?

Grande parte da simpatia que hoje reúne a figura de Marcelo Rebelo de Sousa resulta do contraste com o seu antecessor. Cavaco defendeu que um milhão de votos ia para o lixo e que uma parte da representação popular, o BE e o PCP, não contava para a procura de uma solução política para o país, e assim excluiu a hipótese de uma solução à esquerda, do lado objetivo. E esse objetivo é uma forma de responder ao problema da direita, que é a crise no bloco central. Dizer que hoje existe é uma situação de polarização, de crispação, é uma forma de diminuir e deslegitimar até a solução política encontrada pelos partidos de esquerda.

Para o BE é claro que esta solução governativa também não seria a de Marcelo?

Marcelo Rebelo de Sousa está empenhado num certo regresso à normalidade do bloco central. E é sabendo isso que a esquerda vai ter de se relacionar com ele.

Foi por isso que o BE não aplaudiu o discurso do Presidente?

Das duas, uma: ou se vê a cerimónia da posse do Presidente como um puro espetáculo de protocolo, e aí todos temos de fazer o mesmo, como se estivéssemos num comício da Coreia do Norte, ou o discurso tem conteúdo. Se há conteúdo político, há lugar à discordância. O aplauso expressa concordância; o não aplauso, divergência. Nós não consideramos que a solução governativa atual seja expressão de uma polarização crispada do país, nem nos revemos nas referências a um certo nacionalismo mitológico que pontuou o discurso de forma quase obsessiva.

As alusões às políticas sociais não foram suficientes?

Não bastam as partes mais simpáticas e de preocupação social para festejar o discurso. Todas as preocupações de Marcelo vão ter de passar pelo crivo da prática. Quando Marcelo inicia o seu mandato no Bairro do Cerco, faz uma boa escolha. Mas nesse bairro vivem famílias sem luz porque a EDP lhes cortou a eletricidade. Quando for preciso dar um nome à empresa que o fez, vai ter a mesma frontalidade? Esperamos que sim.

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