Que expectativas tem para o mandato de Marcelo em Belém?
Grande parte da simpatia que hoje reúne a figura de Marcelo Rebelo de Sousa resulta do contraste com o seu antecessor. Cavaco defendeu que um milhão de votos ia para o lixo e que uma parte da representação popular, o BE e o PCP, não contava para a procura de uma solução política para o país, e assim excluiu a hipótese de uma solução à esquerda, do lado objetivo. E esse objetivo é uma forma de responder ao problema da direita, que é a crise no bloco central. Dizer que hoje existe é uma situação de polarização, de crispação, é uma forma de diminuir e deslegitimar até a solução política encontrada pelos partidos de esquerda.
Para o BE é claro que esta solução governativa também não seria a de Marcelo?
Marcelo Rebelo de Sousa está empenhado num certo regresso à normalidade do bloco central. E é sabendo isso que a esquerda vai ter de se relacionar com ele.
Foi por isso que o BE não aplaudiu o discurso do Presidente?
Das duas, uma: ou se vê a cerimónia da posse do Presidente como um puro espetáculo de protocolo, e aí todos temos de fazer o mesmo, como se estivéssemos num comício da Coreia do Norte, ou o discurso tem conteúdo. Se há conteúdo político, há lugar à discordância. O aplauso expressa concordância; o não aplauso, divergência. Nós não consideramos que a solução governativa atual seja expressão de uma polarização crispada do país, nem nos revemos nas referências a um certo nacionalismo mitológico que pontuou o discurso de forma quase obsessiva.
As alusões às políticas sociais não foram suficientes?
Não bastam as partes mais simpáticas e de preocupação social para festejar o discurso. Todas as preocupações de Marcelo vão ter de passar pelo crivo da prática. Quando Marcelo inicia o seu mandato no Bairro do Cerco, faz uma boa escolha. Mas nesse bairro vivem famílias sem luz porque a EDP lhes cortou a eletricidade. Quando for preciso dar um nome à empresa que o fez, vai ter a mesma frontalidade? Esperamos que sim.
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