“Banda procura baterista para digressão de dois anos”. Hora de jogar ao adivinha e apostar cegamente que este foi o anúncio colocado na internet pelos dinamarqueses Efterklang em 2012. Com dez já se joga à bola ou reserva-se mesa para o cozido. Nesse grupo de candidatos destacou-se Tatu Rönkkö, finlandês que viria a ser a combustão de arranque destes Liima. “Ele deixou-nos maravilhados e esteve em digressão connosco durante dois anos. Quando esse tempo terminou achamos que seria bom continuarmos a tocar juntos, foi aí que um amigo nos convidou para tocar num pequeno festival, em modo residência, foi aí que os Liima começaram”, esclarece Casper Clausen, vocalista.
Liima é a palavra finlandesa para cola, a mais fácil para um dinamarquês pronunciar e sinónimo vago da música experimental, orgânica, eletrónica que rouba resina às árvores para ser substância de cheiro intenso, mergulho que para ser mergulho tem que ser a quatro, abaixo o indivíduo que se esconde entre eucaliptos caídos até atingir a loucura de fazer um disco. Dito assim porque “ii”, trabalho de estreia, foi feito em quatro latitudes distintas: Finlândia, Berlim, Istambul e Madeira. Culpa de um arranque de banda numa casa de férias no meio do nada, algures na Finlândia. “Estávamos focados, vivemos os quatro na cidade e nem sempre é fácil encontrarmo-nos para criar música, falta o tempo para nos sentarmos e pensar. Esta forma foi incrível por existir tudo isso a que não estamos habituados. Tornou-se claro, no meio disto, que afinal era uma nova banda e que queríamos continuar esta ideia de trabalhar em reclusão, em lugares que não nos eram familiares”, diz Clausen.
Amealharam os samples, beberam poncha, comeram dois ou três börek típicos da Turquia, agarraram-se à linha do horizonte que cada um destes locais lhes ofereceu e foram escrevendo. “Cada faixa que está no disco é muito relacionado com o local onde foi feito e com o nosso estado de espírito nesse momento. O ‘Amerika’ foi feito na Madeira depois de termos ido a uma festa onde um DJ tocou um beat que nos agradou bastante. Voltámos para o estúdio, estávamos no meio do Atlântico, mas, ainda assim, na Europa, tudo isso deu o mote para a música”, conta.
As quatro residências de quatro semanas deram nisto. E isto é sintetizadores, samplers de bateria, vozes, efeitos de pedais e um baixo, coisa simples que originou um disco em três dias no estúdio Vox-Ton, em Berlim, tudo sem overdubs nem artifícios, pois é essa a sua identidade. “Em Liima interessou-nos mais tocar música eletrónica de forma ambiental e orgânica, os samples foram essenciais neste disco, utilizamos um MPC nesse processo, posso dizer que não temos sons de máquinas, libertamos eletrónica através de um swing humano, de sons selvagens e em bruto”, contextualiza. A componente analógica como forma límpida – numas vezes – complexa e cheia de texturas sobrepostas – noutras.
Casper Clausen, apesar de nos falar ao telefone, é a mais recente aquisição de Lisboa no que aos músicos diz respeito. Vive junto à Sé. “Precisava de sol, é o resultado de quem vive em Berlim há muito tempo. Interessa-me Lisboa, parece existir um confronto entre música tradicional e uma nova geração de miúdos a querer fazer boa música e a reinventá-la. A nível de som parece diferente de qualquer outra e é uma cidade à qual tenho regressado várias vezes. Cansei-me de vir de passagem, é uma cidade misteriosa”, afirma. Legítimo, obviamente.