Diego Costa tem todo um passado de turbulência atrás dele, a persegui-lo. Mas antes-antes disso – e antes do topo que é o Chelsea e a seleção de Espanha – há uma biografia de resistência. Nasceu em Sergipe, na cidade pobre de Lagaro, no norte do Brasil, a 7 de outubro de 1988 e começou sua carreira em 2006 no Braga, em Portugal (leu bem, o Braga foi o seu primeiro clube). Isto depois de um período de empréstimo na II Divisão, onde rodou e deu nas vistas no Penafiel com cinco golos em 9 jogos, Depois, assinou pelo Atlético de Madrid em 2007, mas seria de novo emprestado aos bracarenses. Nove jogos e um golo fizeram-no voltar à Liga espanhola e andou emprestado pelos colchoneros ao Celta, Albacete, Valladolid e Rayo Vallecano – ao todo, nem 40 golos (foram 34) em mais 100 jogos. Até que chegou o Chelsea e com ele toda a violência acumulada.
É uma espécie de conto de fadas com uns murros, pontapés e dentadas pelo caminho (está no meio caminho entre Mike Tyson quando arrancou um bocado da orelha a Evander Holyfield e o músculo mandibular de Luis Suárez). Como foi o caso do último jogo do Chelsea, neste sábado, para a Taça de Inglaterra – os blues foram eliminados pelo Everton por 2-0 mas antes disso houve tempo para umas mordidelas. Costa pegou-se com Gareth Barry, agarrou-o, foi-lhe ao pescoço e foi expulso. Costa já veio negar que o tenha mordido e Barry disse que não foi uma mordidela. “Já vi e li muita coisa sobre o incidente entre mim e o Diego Costa. Para que conste, ele não me mordeu”, disse o jogador do Everton. O que se sabe é que foi um caos e em Espanha o selecionador Del Bosque dá mostras de um descontentamento pelos repetidos atos de indisciplina de quem optou pela nacionalidade espanhola preterindo a brasileira. O técnico espanhol divulga a lista de convocados amanhã para os particulares com a Itália e a Roménia e o nome de Costa continua a ser contestado. Há vozes na seleção roja que se levantam contra a aposta errada de ter escolhido o avançado para a equipa – Costa não rende em campo o que se esperava e é um risco muito elevado ir com ele a uma fase final como o próximo Europeu devido ao seu caráter incontrolado, apesar de só ter visto três cartões amarelos quando jogou por Espanha.
Este comportamento é normal para o jornalista espanhol Fran Guillen, que escreveu o ano passado uma biografia com o apropriado título “Diego Costa: A Arte da Guerra”. Aqui, os testemunhos de amigos e antigos colegas de equipa contam como passou de um jovem condutor de camiões a trabalhar com o tio no Brasil a um dos atacantes mais temidos da Premier League. E como Costa chegou à Europa como um adolescente de 16 anos bruto e violento (como um atleta de UFC, Ultimate Fighting Championship), pronto para a guerra. Mas tão terno e comovido como quando ficou devastado pela morte do seu Yorkshire Terrier, quando ele próprio o atropelou enquanto estacionava.
Ficou de rastos mas demorou só um mês a recuperar. E os episódios de indisciplina sucederam-se, como quando chegou com demasiado peso ao estágio de pré-época do Valladolid em 2010 e foi repreendido pelo treinador respondeu: “Culpem a minha mãe porque é uma excelente cozinheira”. Os treinadores desculpam-no, desde Mourinho a Guus Hiddink. “Os rivais pereseguem-no”. O treinador holandês recomenda até uma terapia: “Há um filme com o Jack Nicholson sobre isso [Terapia de Choque]. Talvez pudéssemos ver juntos”, respondeu quando lhe perguntaram como Diego Costa poderia controlar a sua ira. O jornalista Jose Antonio Martin Otin explica-o de outra forma: “É o típico futebolista de domingo que chega ao encontro pronto para três coisas: quer ir a jogo, quer marcar e está ansioso por uma boa briga”.