Regresso. Seguro diz que não volta, mas lá voltou

Regresso. Seguro diz que não volta, mas lá voltou


No PS, quem quer regressar ao ativo escreve um livro e junta uma multidão de políticos. Ex-líder fê-lo ontem.


Dezoito meses depois de António José Seguro ter descido as escadas da sede do PS do largo do Rato, derrotado por António Costa, regressou à vida pública, com duas salas cheias de políticos – do seu e de todos os outros partidos, com muitas figuras proeminentes do centro-direita. Regressou à vida política? Há quem diga que nunca saiu e o próprio responde com um sorriso. Mas para os seus apoiantes, que compareceram em grande número, este foi mesmo o regresso que esperavam.

Francisco Assis, a única voz ativa de oposição no PS, voou de Bruxelas para um “reencontro, com todo o gosto”. E acha que o ex-líder não chegou a ter necessidade de voltar ao ativo. “António José Seguro nunca saiu da vida política”, disse Assis aos jornalistas, à margem da apresentação pública da tese de mestrado de Seguro, que é agora editada em livro, pela Quetzal de Francisco José Viegas, um editor ‘orgulhoso’.

A tese é “A Reforma do Parlamento Português”, uma análise académica do agora Mestre Seguro às alterações feitas às regras de controlo político do governo, numa reforma dirigida em 2007 pelo então deputado Seguro. O autor digamos que passa com distinção a reforma feita por si. “Oestudo mostra que o Parlamento pode auto-regenerar-se”, corroborou André Freire, que orientou.

A tese mereceu muitos outros elogios na apresentação da sua edição em livro, feita ontem numa sessão sobrelotada na Universidade Autónoma de Lisboa. Mas voltando ao regresso de Seguro à política, Viriato Soromenho Marques, que fez a apresentação da obra, diz que a resposta depende da pergunta que é feita. A dele foi esta: “Vivemos um tempo em que nos podemos dispensar de ter posição ativa na política?” A pergunta, que é algo retórica, foi recebida com muitos aplausos da assistência, com predominância de amigos e apoiantes políticos do ex-secretário-geral do PS. Seguro já voltou, portanto.

Já a resposta do próprio Seguro foi muito ao seu jeito habitual. No final, perante as câmaras de televisão, o ex-líder do PS, sempre sorridente, agradeceu aos jornalistas “por estarem a fazer o seu trabalho”. Mas às perguntas sobre o que pensa do atual governo, do novo Presidente da República ou da situação no PS, respondeu nada. Não era o momento.

Ainda assim, afastou claramente um “regresso à vida partidária”. Usando uma expressão segurista, nas suas escusas a falar de política, ou de um possível regresso, pairava no ar uma frase que em tempos usou repetidamente para não falar de um assunto incómodo. A frase: “Qual é a pressa?”. O assunto: um embate com António Costa.

Mas se dúvidas houvesse sobre o significado do encontro na UAL, o abraço que trocou com Francisco Assis (visto por uns como a face ativa do segurismo e por outros como o seu futuro) em frente às câmaras de TV foi o mais oportuno possível para ter sido um acaso.

Regresso em livro De resto, no PS há uma tradição bem sucedida de regressos que não são assumidos, feitos com a apresentação de um livro. Sócrates fê-lo também com uma tese académica (“A confiança no mundo”, sobre tortura), juntando centenas de pessoas no Museu da Eletricidade.  António Costa, por seu lado, reuniu um conjunto de crónicas de jornal, sob o título premonitório “Caminho Aberto”,  reunindo  meio PS na Estação do Rossio – e deixando Seguro ciente do que lhe viria a acontecer.

Seguro, que esteve 18 meses recolhido nas Caldas e em Peniche a escrever a tese, não ficou mal na fotografia comparativa. Ilustres da política não faltaram à chamada.

A presença de Ramalho Eanes foi a mais saudada, na altura do autor agradecer as presenças. “Partilhamos valores e princípios. Eu sou um seu admirador”, disse Seguro, interrompido com uma grande salva de palmas e gritos de apoio. O ministro João Soares e o secretário de Estado José Luís Carneiro (ambos seus apoiantes nas eleições internas), o presidente da AR, Ferro Rodrigues, Santana Lopes, Bagão Félix, Jorge Coelho, Luís Fazenda, Alberto Martins, António Filipe, Mota Soares também foram nomeados pelo autor.

“Perdoem-me, o erro quando começamos a citar é onde devemos parar”, brincou Seguro, deixando de fora Francisco Assis, Nuno Magalhães, Carlos Coelho, Ana Gomes, Álvaro Beleza, João Proença, Eurico Brilhante Dias, Ricardo Gonçalves, António Galamba ou o seu assessor Luís Bernardo. E o ministro Manuel Caldeira Cabral, outro colaborador do laboratório de ideias de Seguro que marcou presença na UAL.

Com tanta gente do Bloco Central presente, alguns dos aplausos a Seguro foram em causa própria. Seguro reformou o Parlamento para que o primeiro-ministro fosse obrigado a prestar contas aos deputados quinzenalmente (uma obrigação que António Costa já classificou como “uma das invenções mais estúpidas que a AR fez nos últimos anos”). E mostrou ontem o seu contentamento com o resultado da reforma. Uma reforma feita para proteger as minorias, disse, pois “sem minorias não há democracia”. A minoria agora no parlamento é de direita. E no PS é segurista.