Teve direito a elogios de Marcelo e de Ferro Rodrigues, mas ficou claro que está longe de ser uma figura consensual e que os índices de popularidade baixíssimos com que sai de Belém se traduzem nos aplausos ou na falta deles nas bancadas do Parlamento.
A primeira referência ao Presidente cessante veio no discurso de Ferro Rodrigues, que lhe dedicou um parágrafo para uma "saudação especial" pelo "espírito de serviço público que mais uma vez demonstrou, agora no exercício do cargo de Presidente da República".
"Dez anos Presidente de um forte partido do pós 25 de Abril – o PSD – e primeiro-ministro de Portugal, dez anos Presidente da República, Anibal Cavaco Silva é sem dúvida nenhuma um grande protagonista político da nossa democracia. Todos lhe desejamos a si e à sua família as maiores felicidades", disse o presidente da Assembleia da República, com os aplausos de pé de PSD e CDS e as bancadas de PS, BE, PCP e PEV em silêncio.
Também sem aplausos à esquerda ficou a referência de Marcelo a Cavaco. O novo Presidente deixou "uma palavra de gratidão" ao seu antecessor, com uma nuance que não pode passar despercebida sobre a "ótica" de Cavaco Silva.
"Ao percorrer, num imperativo exercício de memória, a longa e singular carreira de serviço à Pátria de Vossa Excelência – com uma década na chefia do Governo e uma década na chefia do Estado, que largamente definiram o Portugal que temos – entendo ser estrito dever de justiça – independentemente dos juízos que toda a vivência política suscita – dirigir a Vossa Excelência uma palavra de gratidão pelo empenho que sempre colocou na defesa do interesse nacional – da ótica que se lhe afigurava correta, é certo – mas sacrificando vida pessoal, académica e profissional em indesmentível dedicação ao bem comum", afirmou o Presidente.
Marcelo tem noção de que Cavaco não é popular e fez questão de se apresentar quase como uma antítese do seu antecessor. Num discurso marcadamente afetuoso, cheio de referências a questões sociais, dirigido a "pessoas de carne e osso", Rebelo de Sousa tentou em tudo deixar claro que será o anti-Cavaco, ao afirmar que a criação de riqueza não pode ser um objetivo dissociado de "mais justiça social" e "não se satisfaz com a contemplação dos números".
Se Cavaco foi sempre um tecnocrata, Marcelo quer ser um Presidente próximo dos portugueses.
A única marca que Marcelo recupera para estes próximos cinco anos em Belém é o mar, o "desígnio" escolhido por Cavaco Silva. O novo Presidente assume "o mar como prioridade nacional".