Tunísia. O caos líbio já passou a fronteira

Tunísia. O caos líbio já passou a fronteira


Militantes islâmicos saíram da Líbia para atacar um quartel tunisino em Ben Gardane. Mais de 50 pessoas morreram mas o exército não perdeu o controlo da cidade.


Um ataque coordenado de dezenas de militantes islamistas na cidade tunisina de Ben Gardane, junto à fronteira com a Líbia, provocou ontem a morte de pelo menos 53 pessoas, incluindo sete civis. “Foi um ataque organizado sem precedentes, mas as pessoas do sul podem estar confiantes de que o exército e a polícia vão vencer a barbaridade ao longo da fronteira”, reagiu o presidente Beji Caid Essebsi.

“Muitos militantes apareceram ao amanhecer, correndo com kalashnikovs na mão. Diziam que eram do Estado Islâmico (EI) e que vinham atacar o exército e a polícia”, relatou à “Reuters” um residente de Ben Gardane. O ataque ao quartel da cidade matou dez polícias e um soldado, mas as forças tunisinas foram rápidas a reagir e horas depois os combates terminaram com 33 militantes caídos e seis sob detenção.

“Se o exército não estivesse pronto, os terroristas tinham conseguido erguer a sua bandeira em Ben Gardane e garantiam uma vitória simbólica”, disse por sua vez Abdelhamid Jelassi, vice-presidente do partido islâmico Ennahda, que depois de ter liderado a primeira fase da transição democrática tunisina é agora um dos membros da coligação governativa liderada pelos seculares.

A prioridade em evitar o caos provocado pelos dois grandes ataques terroristas de 2015 – primeiro no museu Bardo de Tunes depois nas praias de Sousse, a morte de 59 pessoas teve grande impacto no turismo do país -, foi visível na decisão de impor o recolher obrigatório em Ben Gardane, na mobilização de forças para proteger Djerba – destino turístico situado nos arredores. Assim como no encerramento de dois postos de passagem da fronteira com a Síria, local que desde fevereiro é protegido por uma barreira física.

Foi uma das medidas do governo liderado por Habib Essid para prevenir os efeitos internos do caos líbio – país vizinho que desde a queda de Muammar Khadafi, em 2011, se encontra num estado de anarquia, com dois governos rivais a serem incapazes de tornar o território num abrigo seguro do EI.

 Depois dos ataques de 2015, perpetrados por tunisinos que tinham sido treinados pelo EI, as forças de segurança do país têm tentado monitorizar os passos dos mais de três mil tunisinos que seguiram para a Síria após o início da guerra civil, em 2011. A “Reuters” citava ontem fontes dos serviços secretos para garantir que muitos desses jihadistas tunisinos desempenham hoje um papel de liderança nos grupos afiliados do EI na Líbia. Segundo informações dos Estados Unidos, serão mais de 6.500 os militantes do Estado Islâmico atualmente na Líbia.

E desde um ataque da força área norte-americana, que em fevereiro matou vários combatentes tunisinos num campo de treino na Líbia, que as autoridades de Tunes estavam em estado de alerta perante uma possível retaliação dos terroristas, o que terá ajudado à rápida resposta de ontem. “A maior parte dos tunisinos estão em guerra contra esta barbaridade, estes ratos”, garantia ontem Essebsi, para quem o objetivo do ataque “era provavelmente assumir o controlo da região e anunciar um novo califado”.

A cooperação em matéria antiterrorista já levou também as potências ocidentais a iniciar ações de formação a militares tunisinos, assim como a prometerem dar meios tecnológicos para reforçar a barreira de areia e água construída pelos tunisinos ao longo da fronteira. Equipamento eletrónico, incluindo drones, será usado para impedir a passagem de terroristas ao longo dos 200 quilómetros que separam a aventura democrática da Tunísia da anarquia líbia.