O povo suicida


Há cem anos, Miguel de Unamuno escrevia que “Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida. 


A vida não tem, para ele, sentido transcendente. Querem viver talvez, sim, porém, para quê? Vale mais não viver.” E o autor aponta uma série de exemplos de suicídios de portugueses famosos, como Camilo Castelo Branco, Antero de Quental e Mouzinho de Albuquerque, chegando ao ponto de afirmar que o regicídio de D. Carlos e D. Luís Filipe tinha sido, no fundo, um suicídio de Manuel Buíça.

Se Unamuno escrevesse esse texto hoje, seria imediatamente trucidado na internet e nas redes sociais por graves ofensas praticadas contra o povo português. Foi o que sucedeu a Henrique Raposo que, tendo escrito um texto absolutamente inócuo sobre a dimensão do suicídio no Alentejo, foi imediatamente objeto de ataque de uma turba virtual, sendo obrigado a apresentar o livro sob proteção policial. Pelos vistos, há muita gente que não compreende o que a liberdade de expressão significa e acha que lançar uma fátua sobre um autor é a melhor maneira de fazer crítica literária.

Se me perguntassem sobre a dimensão do suicídio nos portugueses, eu diria que onde essa dimensão é maior é nos políticos. Desde Alcácer-Quibir até à guerra colonial, tem havido imensos suicídios políticos em Portugal, alguns com consequências trágicas para o país. Como exemplo recente, temos que a ex-ministra das Finanças decidiu utilizar uma seta global para se suicidar politicamente na semana passada. E parece que o PSD quer ir alegremente atrás dela.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa. Escreve à terça-feira 


O povo suicida


Há cem anos, Miguel de Unamuno escrevia que “Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida. 


A vida não tem, para ele, sentido transcendente. Querem viver talvez, sim, porém, para quê? Vale mais não viver.” E o autor aponta uma série de exemplos de suicídios de portugueses famosos, como Camilo Castelo Branco, Antero de Quental e Mouzinho de Albuquerque, chegando ao ponto de afirmar que o regicídio de D. Carlos e D. Luís Filipe tinha sido, no fundo, um suicídio de Manuel Buíça.

Se Unamuno escrevesse esse texto hoje, seria imediatamente trucidado na internet e nas redes sociais por graves ofensas praticadas contra o povo português. Foi o que sucedeu a Henrique Raposo que, tendo escrito um texto absolutamente inócuo sobre a dimensão do suicídio no Alentejo, foi imediatamente objeto de ataque de uma turba virtual, sendo obrigado a apresentar o livro sob proteção policial. Pelos vistos, há muita gente que não compreende o que a liberdade de expressão significa e acha que lançar uma fátua sobre um autor é a melhor maneira de fazer crítica literária.

Se me perguntassem sobre a dimensão do suicídio nos portugueses, eu diria que onde essa dimensão é maior é nos políticos. Desde Alcácer-Quibir até à guerra colonial, tem havido imensos suicídios políticos em Portugal, alguns com consequências trágicas para o país. Como exemplo recente, temos que a ex-ministra das Finanças decidiu utilizar uma seta global para se suicidar politicamente na semana passada. E parece que o PSD quer ir alegremente atrás dela.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa. Escreve à terça-feira