Elísio Summavielle é um homem de grandes consensos. Foi, aliás, diretor-geral do Património no governo PSD/CDS, convidado pelo secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas. Era uma personagem improvável para estar no meio do grande discenso, da gigantesca polémica, que envolveu a sua nomeação para presidente do Centro Cultural de Belém.
PSD e CDS foram duros com o ministro da Cultura, que esperou o dia todo de segunda-feira pela demissão de António Lamas – que tinha “pedido” na sexta-feira – e, como a carta não chegou, entregou-lhe em mão no Ministério o despacho de exoneração.
Mas não foram só PSD e CDS a criticar a nomeação. Também o Bloco de Esquerda defendeu que a forma deveria ter sido outra. José Soeiro, deputado do BE, afirmou que João Soares deveria ter aberto um concurso público internacional para substituir António Lamas. Apesar de ter considerado “normal, natural e sem drama” a saída de Lama e ter criticado o plano estratégico para o eixo Belém-Ajuda – “Era negativo, do nosso ponto de vista. Era um plano próximo da privatização, que não fazia sentido” – o deputado do Bloco não gostou da forma como João Soares nomeou Elísio Summavielle. “O que não é normal nem aceitável é que não haja concurso público internacional com a apresentação de um plano estratégico”, disse Soeiro.
O PCP foi mais simpático. “A escolha do presidente do CCB é da responsabilidade do ministro da Cultura. O presidente demissionário teve uma responsabilidade direta na definição de uma estratégia para Belém-Ajuda, como já tinha feito em Sintra-Monte da Lua, onde o relevante são as medidas de mercantilização da cultura, que é bom para os turistas estrangeiros e mau para os portugueses, tendo em conta os custos”, disse Jerónimo, para quem a troca de Lamas por Elísio Summavielle “é uma substituição positiva”. O secretário-geral do PCP ainda defendeu João Soares e criticou o PSD: “O ministro tem essa responsabilidade. Podemos discutir o processo, mas é um direito do titular da pasta. Fico impressionado por ouvir PSD e CDS tão crispados com o processo, esquecendo-se o que fizeram em quatro anos”
O PSD foi muito violento, considerando que João Soares fez um ato “prepotente”. “Tem havido uma pressão prévia junto da imprensa, onde são anunciadas pré-substituições de determinados cargos, e este da cultura é paradigmático, porque antes da audição parlamentar do ministro da Cultura, houve uma entrevista em que assumia uma necessidade urgente de substituição da administração do CCB”, disse o deputado Sérgio Azevedo, responsável pela cultura no grupo parlamentar do PSD. Segundo Azevedo, “há uma certa arrogância e prepotência” no modo como o governo PS está a fazer nomeações e que está a ser vista “com alguma preocupação pelo PSD”. Ignorando que Summavielle foi diretor-geral do Património no governo liderado por Pedro Passos Coelho, Sérgio Azevedo afirmou que João Soares nomeou demitiu António Lamas para fazer uma “substituição por uma pessoa de confiança”, aludindo ao facto de o novo presidente do Centro Cultural de Belém já ter trabalhado com João Soares na Câmara de Lisboa e agora no Ministério da Cultura.
O CDS também contestou a forma como o ministro João Soares atuou “do ponto de vista institucional e da normalidade e respeito pelas instituições”. Helder Amaral, deputado do CDS, defendeu que estes assuntos “devem ser tratados no recato dos gabinetes e fora do espaço público”.
“Não nos parece normal nem nos parece correto que um qualquer membro do governo discuta estas matérias na praça pública”, disse o deputado do CDS em declarações aos jornalistas, na Assembleia da República, em reação à nomeação de Summavielle e ao despedimento de António Lamas.