O cabeça de lista do PS à Câmara da Batalha nas últimas eleições autárquicas foi acusado de “violência física e psicológica” pela mulher. Carlos Repolho, atual vereador naquela autarquia com os pelouros do Desenvolvimento Rural e do Ordenamento Florestal (perdeu as eleições para o PSD), terá ameaçado Nélia Cid de morte e matado os cães da mulher.
As ameaças terão começado em agosto do ano passado, quando Nélia Cid disse a Carlos Repolho que iria avançar com um pedido de divórcio. O engenheiro agrónomo “não reagiu bem à posição” da mulher e, segundo o relato que a GNR recolheu da própria, e a que o i teve acesso, terá começado “a maltratar com ofensas físicas e psicológicas” a mulher.
Primeiro foram as ofensas e os maus tratos psicológicos – com um primeiro episódio ainda no final de junho. Nélia Cid viajava da Batalha para Lisboa quando recebeu uma chamada do marido. A discussão terminou com insultos e a cena haveria de repetir-se.
Houve novos episódios na semana seguinte, dali a duas semanas e mais uma vez no início de agosto. Sempre com insultos.
Até que, no final desse mês, as ameaças passaram para outro nível. Depois de mais ofensas, quando regressava de uma caminhada – “galdéria”, “andas a mostrar-te aos outros”, “andas com amantes” –, o vereador “desferiu um pontapé, tendo atingido Nélia Cid na zona do rabo”. Depois, Carlos Repolho “agarrou-a e levou-a ao chão”, refere o relatório elaborado pela GNR.
Filhos assistem a violência Nessa noite de final de agosto, a intervenção do filho mais novo, que se colocou entre o pai e a mãe, deitada no chão, impediu que a situação se agravasse. Foram várias as vezes em que os filhos do casal (ambos menores de idade) assistiram aos episódios de violência entre o vereador e a mulher. O medo estava instalado. “A atuação do denunciado criou um sentimento de terror e de pavor constante junto do menor de 14 anos”, refere a queixa-crime apresentada pelo advogado de Nélia Cid, Jorge de Menezes. A engenheira diz que os menores “andam desorientados, desejosos de que tudo isto acabe de vez”.
O receio de ser alvo de novas agressões transformou-se num temor pela própria vida, sobretudo quando Repolho “ameaçou que tinha uma arma em casa”. As ameaças – inclusive as de morte – tornaram-se constantes nos últimos meses.
Foi isso que a fez falar agora. “Eu não posso estar sempre à defesa, não tenho roupa nem sapatos em casa porque ele mos levou, fico sem água porque ele deixou de pagar as contas que estavam em nome dele e se os meus filhos têm comida e água em casa é porque eu me esforço por dar-lhes essas condições”, desabafa.
Autoridades não atuam No início de setembro, Nélia Cid apresentou a primeira queixa na GNR da Batalha, onde descreveu todas as ameaças de agressões de que tinha sido alvo desde junho. Depois disso, voltou outras três vezes ao mesmo posto para relatar novos episódios de violência.
Numa dessas vezes falou com os militares para contar como, um depois do outro, os três cães que tinha em casa desapareceram sem deixar rasto. Nélia Cid também foi dando pela falta de bens de família que lhe tinham sido entregues (entre os quais uma salva de prata com um valor estimado em dez mil euros).
As noites serão outro tormento. Quando percebe que Carlos Repolho está a chegar, a engenheira agrónoma tranca-se no quarto “para evitar o contacto” com o ainda marido (o divórcio litigioso ainda corre em tribunal) e só volta a sair no dia seguinte de manhã. É assim que passa as noites, desde setembro.
Contactado pelo i, o advogado de Nélia Cid recusa comentar o caso. Mas alerta para a “grave falha de prevenção” das autoridades, face a situações desta natureza. Nélia Cid sente-se “desprotegida” e, apesar de sentir que a sua vida corre perigo, recusa a ideia de sair de casa.
A GNR foi chamada várias vezes para ir a casa do casal. Pelo menos numa situação foram feitas duas chamadas na mesma noite. Os militares chegam, falam com Carlos Repolho, falam com Nélia Cid, ouvem os relatos e voltam a sair. Não há quaisquer consequências.
O i tentou obter esclarecimentos do vereador por diversos meios, mas nunca obteve resposta às várias solicitações que fez.
Nélia Cid considera que as atitudes do marido (a violência, a recusa em conceder o divórcio) têm apenas uma explicação: “Ele quer ficar com a casa, com os bens todos que eu também me esforcei por conseguir.”