Foi isso que foi fazer na entrevista à SIC, no dia em que apresentou a moção de candidatura à liderança.
"Não estou a fazer de conta que sou o primeiro-ministro", disse à SIC, passando o ónus da estabilidade política todo para o lado dos partidos que apoiam o Governo no Parlamento, mesmo antevendo problemas que advêm das diferenças de "estratégia económica" entre PS, BE e PCP e do "enquadramento europeu".
Esses problemas, acredita o líder do PSD, podem aparecer "o mais tardar em abril", quando for preciso entregar em Bruxelas o Programa de Estabilidade.
Passos está convicto de que a estratégia orçamental de António Costa vai mesmo obrigar a "novas medidas" além das que estão no Orçamento do Estado. Isso só não acontecerá, defende, se houver um milagre. "Ou há um milagre ou há consequências", frisa o ex-primeiro-ministro que critica a devolução de salários e pensões já este ano e não em quatro anos como defendia quando estava no Governo.
O social-democrata acha até que esta pressa na devolução pode indiciar que Costa percebe que o seu Governo não será para quatro anos.
"Passaria a defender o voto no PS, no BE e no PCP"
"Se pudéssemos sem dinheiro devolver salários, pensões e impostos, isso seria fantástico", atirou, admitindo com ironia que, se a receita de Costa e Centeno provar estar certa, passará a apelar ao voto nas esquerdas.
"Com certeza passaria a defender o voto no PS, no BE e no PCP", ironizou o líder do PSD, quando questionado sobre as ilações que tiraria caso a receita de António Costa corresse bem. "A minha pergunta é: por que é que o eng. Sócrates não se lembrou dessa estratégia?", atirou, para lembrar que só há duas alternativas, ou cortar despesas ou aumentar impostos. "Esse dinheiro terá de vir de algum lado".
Apesar de tudo, garante que a dívida pública nos 130% do PIB é "pagável", se "o Governo começar a pôr em prática políticas que não ponham em causa o pagamento da dívida".
De resto, Passos continua a não acreditar numa reestruturação da dívida, assegurando que a negociação possível já foi feita e defendendo que Portugal corre o risco de não ter parceiros europeus para começar esse combate em Bruxelas. "Não acredito que Itália levante essa questão", afirmou.
Apesar das divergências e de deixar claro que não irá dar a mão a António Costa em caso de crise governativa, Pedro Passos Coelho mantém a disponibilidade para um acordo em relação a um problema que considera prioritário, o da sustentabilidade da Segurança Social.
"Estou disponível, como sempre estive, para resolver os problemas do país", afirmou, anunciando que vai mesmo apresentar "propostas no Parlamento" sobre esse assunto, apesar de defender que a iniciativa deveria caber ao Governo.
O CDS precisa de crescer
Com o CDS também em contagem decrescente para o seu congresso, Passos Coelho acha natural que cada um dos partidos siga o seu caminho, mesmo que continue a acreditar que os centristas são o parceiro "preferencial" dos sociais-democratas para formar governo.
"O CDS precisa de crescer, o PSD precisa de crescer. Acho que a Dra. Assunção Cristas concorda", defendeu Passos, que não quis pôr "etiquetas" no espaço político que cada um dos partidos ocupa. "Prefiro dizer [do CDS] que é um partido de inspiração mais cristã, mais centrista".
Por agora, cada um segue o seu caminho. Depois de eleições, o mais certo é entenderem- se. "O CDS é um partido que não se confunde com o PSD".
"A Constituição não é ainda que nós gostaríamos"
Um tema que Passos deixou cair na sua moção ao Congresso do PSD é o da revisão constitucional. O líder social-democrata assegura que não mudou de ideias, mas prefere não insistir no tema numa altura em que seria impossível ter o apoio parlamentar necessário para alterar a Constituição.
"Não é ainda a Constituição que nós gostaríamos que fosse", reconheceu na entrevista à SIC, deixando o tema para outra altura e outro Parlamento. "Não podemos mudar a Constituição sozinhos e ainda bem".