Descaramento e desespero


António Costa deve estar bem ciente disto: se procura um “consenso” para safar a pele, não se atreva a chamar-lhe consenso


O PS continua fortemente empenhado na criação de uma realidade alternativa. Depois do Orçamento do Estado que “vira a página da austeridade” mas que, afinal, tem inscrita uma cobrança de impostos recorde; depois da errata ao precedente que, numa prova de boas contas, afinal “mantém” o que qualquer socialista jura que “baixou” (a carga fiscal); depois disto – já para nem sequer mencionar o milagroso multiplicador Centeno, que prometia quatro euros de retoma económica por cada euro de estímulos de políticas públicas -, eis que o primeiro-ministro se dedicou laboriosamente à produção cinematográfica. Sócrates chamava-lhe narrativas. Este governo chama-lhe nova estratégia de comunicação. Não há nada de novo nisto. É tudo um eufemismo para o estafado arremesso de areia para os olhos do povo. Só que os portugueses há muito que estão de pé atrás com a matemática socialista. Todos sabemos bem, por conhecimento aritmético e experiência duramente adquirida, que um mais um não podem ser dez.

As curtas de São Bento no YouTube têm a vantagem de mostrar ao mundo que, no essencial, o PS e o seu líder continuam a ter um problema muito mal resolvido com a realidade.

A saga de criação da realidade alternativa teve o seu auge na entrevista do primeiro-ministro ao “Expresso”. Ensaiando a pose de estadista, António Costa desafiou Passos Coelho para “consensos” e procurou fazer do PSD um “parceiro ativo”. Esta manobra é um sinal ou de descaramento ou de desespero – ou de ambos.

Quem chegou ao fim da entrevista sem ter ficado com o queixo colado aos calcanhares ainda se pergunta: por que raio quer Costa negociar com o PSD? Ele que esteve na linha da frente da demonização do PSD – ou da “direita”, como falaciosamente lhe chama. Ele que é o comandante de uma frente de esquerda revolucionária que faz constantemente alarde da sua autoritária autossuficiência parlamentar para reverter todas as reformas do executivo anterior. Ele que se esteve marimbando para as negociações com o PSD e o CDS quando lhe foi oferecida uma hipótese de integrar um governo amplo, reformador, de que Portugal tanto precisa. É esse António Costa, esse que apresentou a geringonça como “sólida, duradoura e credível”, que agora quer consensos? Como tudo em Costa, há uma tática bastante óbvia nas suas palavras: pintar o PSD como partido de bloqueio. Só que a jogada é demasiado descarada. O mais certo é que o bumerangue lhe acerte em cheio. Mas há mais do que descaramento nas suas palavras: há desespero.

O primeiro-ministro gosta de puxar dos galões de grande negociador. Tem–se na conta de mestre do xadrez político. Então sabe que negociar é ceder. Porque haveria Costa de ceder alguma coisa ao PSD quando o governo nem três meses tem? Não será certamente pelos olhos de Passos Coelho. Nem pelas eloquentes declarações sobre as virtualidades do “diálogo político”. Isto leva–nos a outro conjunto de questões: será que a sua base de apoio parlamentar está a fugir-lhe por entre os dedos? E quais são as grandes questões da governação em que os seus parceiros, aparentemente, já lhe roeram a corda?

A resposta a todas estas questões é demasiado óbvia. BE e PCP são cada vez mais oposição ao governo socialista. Basta ouvir os dois partidos. Jerónimo continua a dizer que o OE e o governo são só do PS, mantendo uma higiénica distância do poder. E Catarina Martins, falando sobre o negócio da TAP, não faz a coisa por menos: “O plano deste governo é pagar mas não mandar.” Se isto é um acordo de governação… O PCP e o BE comem a carne do lombo do governo (chantageando Costa com a introdução de medidas que satisfazem as suas clientelas), mas deixam o osso (o fardo das contas) para o PS. É uma coligação autofágica.

Quanto a Pedro Passos Coelho, o país sabe que o PSD é uma força política responsável, preparada para defender sempre o interesse nacional. Esse interesse é muito claro e nunca se confunde com o interesse do governo ou de António Costa.

Tudo bem ponderado, julgo que António Costa deve estar bem ciente disto: se procura um “consenso” para safar a pele, não se atreva a chamar-lhe consenso. Se procura consensos para o dia a dia da governação, tente à esquerda, que é o lugar onde se fez PM e onde sempre disse ao país que tinha apoio; se o seu interesse for um consenso político para reformar o país, conte com o PSD. Mas nesse dia, e para manter a ordem natural das coisas, deverá ser António Costa a consensualizar com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.


Descaramento e desespero


António Costa deve estar bem ciente disto: se procura um “consenso” para safar a pele, não se atreva a chamar-lhe consenso


O PS continua fortemente empenhado na criação de uma realidade alternativa. Depois do Orçamento do Estado que “vira a página da austeridade” mas que, afinal, tem inscrita uma cobrança de impostos recorde; depois da errata ao precedente que, numa prova de boas contas, afinal “mantém” o que qualquer socialista jura que “baixou” (a carga fiscal); depois disto – já para nem sequer mencionar o milagroso multiplicador Centeno, que prometia quatro euros de retoma económica por cada euro de estímulos de políticas públicas -, eis que o primeiro-ministro se dedicou laboriosamente à produção cinematográfica. Sócrates chamava-lhe narrativas. Este governo chama-lhe nova estratégia de comunicação. Não há nada de novo nisto. É tudo um eufemismo para o estafado arremesso de areia para os olhos do povo. Só que os portugueses há muito que estão de pé atrás com a matemática socialista. Todos sabemos bem, por conhecimento aritmético e experiência duramente adquirida, que um mais um não podem ser dez.

As curtas de São Bento no YouTube têm a vantagem de mostrar ao mundo que, no essencial, o PS e o seu líder continuam a ter um problema muito mal resolvido com a realidade.

A saga de criação da realidade alternativa teve o seu auge na entrevista do primeiro-ministro ao “Expresso”. Ensaiando a pose de estadista, António Costa desafiou Passos Coelho para “consensos” e procurou fazer do PSD um “parceiro ativo”. Esta manobra é um sinal ou de descaramento ou de desespero – ou de ambos.

Quem chegou ao fim da entrevista sem ter ficado com o queixo colado aos calcanhares ainda se pergunta: por que raio quer Costa negociar com o PSD? Ele que esteve na linha da frente da demonização do PSD – ou da “direita”, como falaciosamente lhe chama. Ele que é o comandante de uma frente de esquerda revolucionária que faz constantemente alarde da sua autoritária autossuficiência parlamentar para reverter todas as reformas do executivo anterior. Ele que se esteve marimbando para as negociações com o PSD e o CDS quando lhe foi oferecida uma hipótese de integrar um governo amplo, reformador, de que Portugal tanto precisa. É esse António Costa, esse que apresentou a geringonça como “sólida, duradoura e credível”, que agora quer consensos? Como tudo em Costa, há uma tática bastante óbvia nas suas palavras: pintar o PSD como partido de bloqueio. Só que a jogada é demasiado descarada. O mais certo é que o bumerangue lhe acerte em cheio. Mas há mais do que descaramento nas suas palavras: há desespero.

O primeiro-ministro gosta de puxar dos galões de grande negociador. Tem–se na conta de mestre do xadrez político. Então sabe que negociar é ceder. Porque haveria Costa de ceder alguma coisa ao PSD quando o governo nem três meses tem? Não será certamente pelos olhos de Passos Coelho. Nem pelas eloquentes declarações sobre as virtualidades do “diálogo político”. Isto leva–nos a outro conjunto de questões: será que a sua base de apoio parlamentar está a fugir-lhe por entre os dedos? E quais são as grandes questões da governação em que os seus parceiros, aparentemente, já lhe roeram a corda?

A resposta a todas estas questões é demasiado óbvia. BE e PCP são cada vez mais oposição ao governo socialista. Basta ouvir os dois partidos. Jerónimo continua a dizer que o OE e o governo são só do PS, mantendo uma higiénica distância do poder. E Catarina Martins, falando sobre o negócio da TAP, não faz a coisa por menos: “O plano deste governo é pagar mas não mandar.” Se isto é um acordo de governação… O PCP e o BE comem a carne do lombo do governo (chantageando Costa com a introdução de medidas que satisfazem as suas clientelas), mas deixam o osso (o fardo das contas) para o PS. É uma coligação autofágica.

Quanto a Pedro Passos Coelho, o país sabe que o PSD é uma força política responsável, preparada para defender sempre o interesse nacional. Esse interesse é muito claro e nunca se confunde com o interesse do governo ou de António Costa.

Tudo bem ponderado, julgo que António Costa deve estar bem ciente disto: se procura um “consenso” para safar a pele, não se atreva a chamar-lhe consenso. Se procura consensos para o dia a dia da governação, tente à esquerda, que é o lugar onde se fez PM e onde sempre disse ao país que tinha apoio; se o seu interesse for um consenso político para reformar o país, conte com o PSD. Mas nesse dia, e para manter a ordem natural das coisas, deverá ser António Costa a consensualizar com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.