A TAP foi privatizada em novembro do ano passado e desde a entrada do consórcio de Humberto Pedrosa e David Neeleman – que tem no Brasil a companhia aérea Azul – este mercado passou a ganhar destaque. Uma das novidades é a possibilidade de pagar as viagens em dez prestações, sem juros.
Em vez de pagarem 519 dólares (462 euros) para viajar, por exemplo, de São Paulo para Lisboa, os passageiros podem pagar prestações de 51,90 dólares (46 euros). Uma outra possibilidade é viajar do Rio de Janeiro para Barcelona por dez tranches de apenas 42,90 dólares.
No entanto, esta é uma estratégia que não será alargada a outros mercados. Ao i, a TAP explica que “não está previsto alargar esta modalidade de pagamento a outros mercados. Noutros mercados existem modalidades de pagamento com cartões de crédito que permitem a liquidação do valor em prestações, mas no âmbito da relação do cliente com a entidade bancária”. Nos destinos disponíveis até ontem estavam cidades como Madrid, Londres, Veneza, Roma, Barcelona e Milão.
“Guerra Séria” No meio das alterações anunciadas pela companhia aérea está a suspensão das viagens entre o Porto e Milão, Bruxelas, Barcelona e Roma, por serem rotas deficitárias. A decisão não foi vista com bons olhos pela Associação Comercial do Porto (ACP), que considerou lamentável o fim das rotas. Uma posição que contou com o apoio de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto. O autarca relembrou, no início desta semana, que “o governo disse que a razão fundamental de reassumir 50% da TAP é para que haja um ‘hub’ no Porto. É preciso um sinal, dando ordens à administração da TAP para que não sejam interrompidas as ligações”. No entanto, o executivo de Costa não vai interferir na decisão da TAP de suspender ligações do Porto a quatro cidades europeias. Até porque as decisões sobre as rotas da TAP são da comissão executiva, apesar de o executivo de Costa ter conseguido a recuperação de 50% da TAP, num acordo com os acionistas privados, Humberto Pedrosa e David Neeleman.
Para Rui Moreira, a decisão de suspender as rotas já em março é prejudicial para o norte do país. Para o presidente da Câmara do Porto trata-se de uma luta que tem de ser travada. Ontem, durante a reunião de câmara, Rui Moreira fez saber que admite mesmo apelar à população do norte do país que boicote a TAP. “Temos sido uns carneiros. Temo-nos deixado iludir com promessas sucessivas”, deixa claro, fazendo saber ainda que tem feito “contactos com outras companhias aéreas”.
O autarca vai mais longe e acusa a TAP de anunciar 16 voos diários entre Porto e Lisboa apenas porque existe “uma frota de aviões parada no Brasil (Azul, companhia de David Neeleman)”: “É o interesse da White que está a ser privilegiado”, acusa. Para o autarca, o interesse e a estratégia são claras: a ideia é tirar passageiros do Porto, sobrelotar o Aeroporto de Lisboa e levar à construção de um novo aeroporto, uma nova ponte e até “do TGV”.
Esta terça-feira, depois de o executivo de Costa ter ignorado os apelos de Rui Moreira, a Câmara do Porto acusou de novo a TAP de ter decido “discretamente” acabar com o voo da noite Lisboa/Porto, que servia para os passageiros que chegavam de voos de médio curso.
Recorde-se ainda que a TAP anunciou recentemente uma ponte aérea entre Lisboa e Porto, a partir do mês de março, altura em que prevê descontinuar vários voos de médio curso a partir do Aeroporto Francisco Sá Carneiro.
BE contra a suspensão No dia 1 de fevereiro foi apresentada uma moção na Assembleia Municipal do Porto, cuja versão final do documento foi aprovada por 31 votos a favor, 11 contra (do PSD) e 3 abstenções. “A intenção dos donos da TAP (após privatização), de suprimirem, a partir de 27 de março, voos para Barcelona, Milão, Roma e Bruxelas, de concentrarem todas as rotas para Estados Unidos, Venezuela ou Brasil em Lisboa e estabelecerem uma nova ligação Vigo-Lisboa, esvaziando o tráfego proveniente da Galiza, constitui um enorme ataque ao aeroporto do Porto, à economia e ao turismo da região Norte”, pode ler-se no documento, que sublinha ainda a “discordância pelos sucessivos aumentos de taxas e pela deliberada diminuição dos voos a partir do aeroporto do Porto”. O documento reclama ainda “a intervenção do governo e das entidades responsáveis pela aviação civil, para que adotem as medidas necessárias para assegurar o desenvolvimento do aeroporto do Porto e das suas ligações intercontinentais”.
Recorde-se que também a Associação Comercial do Porto (ACP) exigiu a António Costa o compromisso de serviço público na TAP. Numa carta dirigida ao primeiro-ministro, Presidente da República e grupos parlamentares, questiona o “empenho e determinação” de António Costa em assegurar às empresas e aos agentes económicos do Porto e do Norte, bem como aos cidadãos, uma TAP de serviço público.
Nuno Botelho, presidente da ACP, acredita que a decisão de suspender estas rotas acentua, “dramaticamente, o processo de desinvestimento daquela companhia na região do Norte”.
PS quer ouvir ministro O PS já fez saber que quer ouvir “com caráter de urgência” o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, sobre o acordo alcançado com o consórcio Atlantic Gateway para o Estado ficar com 50% do capital da TAP, por 1,9 milhões de euros.
Os socialistas querem ouvir as “implicações para o futuro da empresa”, já que se trata de uma das maiores empresas exportadoras. Até porque foi o ministro Pedro Marques que liderou todo o processo de negociação com os privados para reverter a privatização fechada pelo anterior governo. Um negócio que culminou com uma nova distribuição do capital da transportadora aérea, com o Estado a ficar com 50% do capital e voto de qualidade nas decisões que passem pelo conselho de administração.
No dia em que foi assinado o memorando de entendimento, os partidos da oposição manifestaram-se “muito preocupados” com os contornos da alteração do contrato da TAP, anunciando a intenção de requerer com urgência a ida do Pedro Marques ao parlamento.
Entre as vozes que já se levantaram contra este acordo está Pedro Passos Coelho, que sublinha que “afinal não são mais de 50% e os privados é que mandam”. Também Paulo Portas alertou que este acordo é “um convite à discórdia” e implica “um encargo superior” para os contribuintes.