Síria. Doadores abrem cordões à bolsa e denunciam destruição russa em Alepo

Síria. Doadores abrem cordões à bolsa e denunciam destruição russa em Alepo


Potências regionais e globais juntam mais de 10 mil milhões de dólares para enfrentar crise humana.


Ofuscada pela suspensão das negociações de paz patrocinadas pela ONU, a conferência de doadores para a Síria que se realizou ontem em Londres ficou marcada pelo discurso do primeiro-ministro turco, que acusa a Rússia de estar a agravar a crise humana em Alepo.

As palavras de Ahmet Davutoglu surgiram no dia seguinte ao maior bombardeamento russo na Síria que, com o apoio do exército sírio, atingiu as rotas de abastecimento entre a Turquia e a segunda maior cidade daquele país. “A minha mente não está em Londres, mas na nossa fronteira. Há 300 mil pessoas de Alepo a dirigirem-se para a Turquia neste momento”, disse o PM turco, acusando os “bombardeamentos aéreos” de um ataque que considera ser “uma limpeza e um crime de guerra”. Também ontem, a agência estatal da Síria divulgou imagens da cidade que comprovam o nível de destruição daquele que, antes da guerra, era o principal centro financeiro do país.

A intensificação das operações russas e do exército de Assad na região norte do país, que há mais de dois anos está sob controlo de grupos opositores, esteve já na origem da suspensão, até 25 de fevereiro, das conversações de paz que decorriam em Genebra, Suíça. “São um sinal claro de quem procura uma solução militar e não política”, comentou então o secretário de Estado norte-americano em referência à cooperação entre o regime sírio e a Rússia.

10 mil milhões A conferência que juntou potências regionais e mundiais em Londres fará com que “milhões de pessoas possam salvar as vidas ao receber alimentos, material de saúde e abrigo na Síria e na região”, disse no final o primeiro-ministro britânico, David Cameron. Os doadores conseguiram angariar seis mil milhões de dólares para 2016, havendo a garantia de outros cinco mil milhões serem investidos nesta causa até 2020. A Alemanha, que depois de receber um milhão de refugiados em 2015 investirá 2,5 mil milhões de dólares na Síria, lidera uma lista que conta ainda com contribuições significativas do país anfitrião e dos EUA, que com os 900 milhões prometidos aumenta para cinco mil milhões de dólares o seu orçamento humanitário para 2016.

Já os vizinhos da Síria aceitaram abrir vagas nas suas escolas para crianças sírias que não têm acesso à educação desde o início do conflito – mais de um milhão, segundo Cameron. E, em troca de acesso aos mercados europeus e a empréstimos de instituições internacionais, prometem uma abertura das suas economias que promova a criação de postos de trabalho.