Passos quer voltar a ser primeiro-ministro. Só não sabe quando

Passos quer voltar a ser primeiro-ministro. Só não sabe quando


Passos Coelho apresentou ontem a recandidatura a líder do PSD. O regresso ao governo é o seu objetivo, mas diz não estar “ansioso” por ir a eleições


O presidente do PSD, que ontem à noite apresentou a sua recandidatura à liderança do partido, diz estar preparado para voltar a conduzir os destinos do país. Passos Coelho, porém, passa a mensagem de que não há pressa para cumprir essa ambição. “Não estou ansioso por ir a eleições. Mas estou preparado para voltar a ser primeiro-ministro”, disse ontem num encontro informal com jornalistas, no qual sublinhou que o seu lema “Social-Democracia Sempre” está longe de implicar uma mudança de rumo no seu PSD. “Fomos, somos e continuaremos a ser sociais–democratas”, reiterou. Porquê então o slogan? Precisamente para “afastar um não assunto e não estar sempre a discutir falsos assuntos”.

Partido renovado Passos vai já hoje andar pelo país a apresentar o seu programa de recandidatura a líder do PSD, tendo em vista o congresso de 1, 2 e 3 de abril – um congresso que marcará também uma alteração nos órgãos dirigentes. “Os ajustamentos na equipa são naturais”, disse, num partido que, além do mais, passou do poder para a oposição. “O PSD não irá cristalizar-se”, prometeu. Sobre o périplo pelo país, e como “um candidato ao PSD é sempre um candidato a primeiro-ministro”, a campanha interna será também uma campanha nacional, “voltada para o país”. A manutenção da coerência será uma marca do seu discurso de recandidatura. “Não introduzo mudanças artificiais ao sabor do vento”, promete Passos.

O ex-primeiro-ministro sabe, porém, que tem colada à pele a austeridade das políticas da sua governação. “A imagem ligada à austeridade resultou das circunstâncias e pode estar associada à determinação com que liderei o país”, conforma-se. Ainda assim, alimenta a esperança de que o facto de ter “feito aquilo que tinha de ser feito” o valorize aos olhos do eleitorado. Mas mesmo nesses tempos de restrições financeiras, Passos entende que continuou a ser um social-democrata. “Nas medidas de austeridade que adotámos fomos sempre sociais-democratas.”

Passos dispensa um regresso ao passado e descarta a imagem de homem disponível para tempos de exceção – leia-se para resgates financeiros. “Não vejo necessidade de o país voltar a passar pelo que passou.” Promete uma “oposição construtiva”, mantendo porém as principais bandeiras do seu partido, que julga continua a fazer sentido levantar numa campanha eleitoral para o próximo ciclo político.

“Apresentaremos propostas para o combate às desigualdades sociais, o problema demográfico; queremos um país mais atrativo, mais tecnológico, mais inovador, com menos desigualdades e com mais justiça social”, elencou.

Apesar da promessa de atitude construtiva, está longe de se identificar com a política de António Costa. “Não concordo com o programa deste governo nem com as suas prioridades”, disse. Salvaguarda, porém, uma atitude que nunca será a de uma “visão do bota-abaixo”. Passos, que foi criticado pelo PS durante a governação PSD/CDS por ignorar os socialistas, tem uma perspetiva diferente do que se passou. “Tentei várias aproximações ao PS durante os últimos quatro anos.”

Europa radical é ameaça Na conversa com os jornalistas (que durou mais de hora e meia) o ex-primeiro-ministro explanou o que entende serem as principais ameaças sobre a União Europeia. Há uma estratégia “populista e radical” que ameaça o futuro da UE e – à cabeça – os interesses nacionais, avisa. “Se a estratégia populista e radical que se está a instalar em alguns países europeus for bem-sucedida, Portugal será dos primeiros a serem prejudicados” – populismos que veem nos dois extremos do espetro político e atravessam o continente de norte a sul.

manuel.a.magalhaes@ionline.pt