GUIdance. O berço da nação é cada vez mais um berço de criação

GUIdance. O berço da nação é cada vez mais um berço de criação


A 6.ª edição do Festival Internacional de Dança Contemporânea arranca hoje com uma criação inédita de Victor Hugo Ponte.


A Gaivota”, de Anton Tchekhov, serviu de ponto de partida para a mais recente criação de Victor Hugo Pontes, “Se Alguma Vez Precisares da Minha Vida, Vem e Toma-a”, a obra que marca o arranque, hoje, do GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea, no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCFV), em Guimarães. O coreógrafo vimaranense quis dançar Tchekhov, respeitando as palavras, mas ainda assim retirando-lhes o foco, que passou para o movimento. “‘A Gaivota’ é uma história de amor e desamor, e tem a dimensão do espetáculo dentro do espetáculo, que me agrada muito. As premissas são respeitar o texto, mas não o dizer; pesquisar como os bailarinos ou intérpretes o podem dizer com o corpo; o que o resultado pode significar”, explicou.

Esta é já a 6.a edição deste festival que serviu de ponto de partida para a Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012 e se assume cada vez mais como uma espécie de património imaterial da cidade-berço da nação. “A cidade já é património mundial e falamos agora da construção do património imaterial, da construção da cidade no campo das artes. Guimarães está numa trajetória de afirmação enquanto cidade de criação, sobretudo nas artes performativas e na música. Esta é uma edição de afirmação”, explicou ao i o diretor do GUIdance, Rui Torrinha.

Dividida fundamentalmente pelos palcos do CCFV e da Plataforma das Artes e Criatividade, esta edição volta a apostar em criadores portugueses e internacionais, consagrados ou a dar os primeiros passos, em estreias absolutas e nacionais. Assim, por Guimarães, e até ao dia 13 de fevereiro, vão passar mais oito obras – além da criação de Victor Hugo Pontes. Logo no segundo dia de GUIdance sobe ao palco do Pequeno Auditório do CCFV “Hu(R)mano”, de Marco da Silva Ferreira, uma espécie de reflexão em busca do significado da dança. No sábado às 19h00 acontece a estreia nacional de “Hyperfruit”, uma peça de Ludvig Daae e Joanna Nordahl, que reflete como os novos meios de comunicação digital afetam as relações pessoais; já à noite, às 22h00, Miguel Moreira, da associação cultural Útero, leva ao palco do Grande Auditório do CCVF a estreia absoluta de “Maremoto”. A segunda parte do GUIdance, em termos de espetáculos, arranca no dia 10 de fevereiro e retoma justamente no ponto em que ficou: com uma criação de Miguel Moreira. Desta vez sobe ao palco a remontagem de “Parede”, uma peça de 2002 que se revelou vital no percurso da Útero. No dia 11, Akram Khan leva a Guimarães a muito aplaudida peça “Kaash”. Seguem-se ainda as criações da japonesa Kaori Ito, “Je dance parce que je me méfie des mots”, e de Luís Guerra, “Nevoeiro”. A fechar o GUIdance, Anne Teresa De Keersmaeker apresenta “Golden Hours (As you like it)”, uma espécie de fusão entre teatro e dança, um casamento entre William Shakespeare e Brian Eno.

Em paralelo com o cartaz de espetáculos, o GUIdance apresenta, mais uma vez, uma série de iniciativas paralelas das quais se destacam as ações formativas nas escolas. “A aposta na área da formação tem a ver com a vontade que temos de reforçar a relação entre a cidade e a criação. A formação é fundamental para fixar o conhecimento. Prova disto é que o próprio festival apresenta muitas coproduções e várias obras que resultam de residências artísticas que aconteceram aqui em Guimarães. A cidade definiu esta estratégia e sentimos que a linguagem do corpo e da dança contemporânea tem vindo a seduzir a população. Tudo isto poderá dar uma densidade invulgar a uma cidade de pequena dimensão”, conclui Rui Torrinha.

raquel.carrilho@ionline.pt