Presidenciais: Costa ganhou em grande


António Costa ganhou por três razões fundamentais: a primeira chama-se Bloco de Esquerda;  a segunda, Partido Comunista Português; a terceira, oposição interna.


As leituras políticas do pós-presidenciais dividiram-se sobre os efeitos da cabazada de Marcelo Rebelo de Sousa à esquerda. No que diz respeito à liderança do Partido Socialista, houve quem visse em Costa um dos vencedores da noite: ou porque taticamente não se colou a nenhum candidato (o que lhe deu a oportunidade de não perder em qualquer cenário), ou porque Marcelo permite abrir canais que dão ao governo socialista a possibilidade de se manter em equilíbrio no trapézio parlamentar. Em sentido contrário houve quem, como o autor destas linhas, tivesse considerado Costa como um dos derrotados – afinal de contas, três derrotas em três atos eleitorais seguidos (regionais da Madeira, legislativas e presidenciais) não é coisa pouca para o homem que se candidatou com a missão dar ao PS muito mais do que resultados “poucochinhos”. Uns e outros estão certos com os argumentos errados. Está na altura de pensar outra vez sobre o assunto. No fim do dia, do ponto de vista estritamente partidário, só há um líder ganhador. Esse líder é António Costa. E porquê? António Costa ganhou por três razões fundamentais: a primeira razão chama-se Bloco de Esquerda; a segunda Partido Comunista Português; a terceira oposição interna.

Ora vamos por partes. Com o resultado de 24 de janeiro, o Bloco de Esquerda consolidou o seu lugar de partido liderante do arco da contestação. Consegue-o sendo apêndice de um projeto socialista de governo. O partido antipoder tem o seu melhor resultado de sempre em eleições nacionais precisamente quando está na órbita do poder. Paradoxal? Nem por isso. O BE está a gostar do sabor do poder. E são evidentes os sinais de que o partido quer o seu quinhão de lugares na máquina do Estado. Eleições é coisa de que Catarina Martins nem deve querer ouvir falar. O Bloco ganhou, Costa também. Tem Catarina no bolso. 

Quem também está aninhado no bolso de Costa, mas por razões opostas, é Jerónimo de Sousa. O seu PCP está gasto e a sustentação do governo socialista parece ter tido o efeito de condenar os comunistas à irrelevância eleitoral. O PCP deverá agora encetar uma reflexão interna que tente a recuperação do partido. Ter o BE à frente é um sapo muito difícil de engolir. Mas neste estado comatoso, uma coisa é certa, não há camarada que queira eleições. Os míseros 3.95% de Edgar Silva replicados nacionalmente em legislativas nem davam para que o PCP enchesse o táxi – um tuk-tuk chegava. Dito de outro modo, é do interesse de Jerónimo manter vivo o Governo de Costa até que melhores dias cheguem (se chegarem). O PCP perdeu, Costa ganhou. Tem Jerónimo no bolso.

Esqueça as ameaças de rutura, o discurso de punho erguido e o protesto-logo-existo tão típico da extrema-esquerda. É tudo encenação política para não criar orfandade no eleitorado. Porque não há nada que Bruxelas queira e que o PS precise, que BE e PCP não viabilizem, incluindo o Orçamento do Estado, seja qual for a versão final.

Terceira e última razão que fez de Costa um vencedor chama-se oposição interna – ou falta dela. É hoje claro, para mal do PS e da democracia portuguesa, que a esquerda moderada está reduzida a uma sala do Palácio Praia no Rato. É a esquerda de inspiração syrizante que domina o Partido Socialista. Uma esquerda que nunca conhece derrotas. Só avanços. É a esquerda da crença inabalável no seu projeto político de “viragem da página da austeridade”.

O problema, para o qual os portugueses começam a estar particularmente atentos, é que não se pode ser eleito batendo na austeridade para a seguir ir a correr aumentar impostos. Ou que se demonize a austeridade e depois se decrete o seu fim em aumentos de 0.90€ para as reformas de miséria. Mas o “fim da austeridade” para a esquerda radical era isto? Há qualquer coisa que não bate certo neste “outro caminho”. 

Apesar das muitas vitórias de Pirro de Costa e do seu governo, tenho a convicção de que o PSD fará calmamente o seu caminho de alternativa responsável e confiável na oposição. Caminho esse que só pode ser o de uma social-democracia pragmática, que contrastará a todo o tempo com o ilusionismo socialista e a demagogia da coligação das esquerdas.

A sobrevivência política de Costa depende hoje de vitórias cantadas sobre derrotas. A sobrevivência do seu governo seguirá o mesmo padrão. A aprovação do orçamento será uma vitória, tal como é uma vitória o fim da austeridade por decreto. Os portugueses, esses, é que não vêm onde está o ganho e estão cada vez mais preocupados

Escreve à quarta-feira


Presidenciais: Costa ganhou em grande


António Costa ganhou por três razões fundamentais: a primeira chama-se Bloco de Esquerda;  a segunda, Partido Comunista Português; a terceira, oposição interna.


As leituras políticas do pós-presidenciais dividiram-se sobre os efeitos da cabazada de Marcelo Rebelo de Sousa à esquerda. No que diz respeito à liderança do Partido Socialista, houve quem visse em Costa um dos vencedores da noite: ou porque taticamente não se colou a nenhum candidato (o que lhe deu a oportunidade de não perder em qualquer cenário), ou porque Marcelo permite abrir canais que dão ao governo socialista a possibilidade de se manter em equilíbrio no trapézio parlamentar. Em sentido contrário houve quem, como o autor destas linhas, tivesse considerado Costa como um dos derrotados – afinal de contas, três derrotas em três atos eleitorais seguidos (regionais da Madeira, legislativas e presidenciais) não é coisa pouca para o homem que se candidatou com a missão dar ao PS muito mais do que resultados “poucochinhos”. Uns e outros estão certos com os argumentos errados. Está na altura de pensar outra vez sobre o assunto. No fim do dia, do ponto de vista estritamente partidário, só há um líder ganhador. Esse líder é António Costa. E porquê? António Costa ganhou por três razões fundamentais: a primeira razão chama-se Bloco de Esquerda; a segunda Partido Comunista Português; a terceira oposição interna.

Ora vamos por partes. Com o resultado de 24 de janeiro, o Bloco de Esquerda consolidou o seu lugar de partido liderante do arco da contestação. Consegue-o sendo apêndice de um projeto socialista de governo. O partido antipoder tem o seu melhor resultado de sempre em eleições nacionais precisamente quando está na órbita do poder. Paradoxal? Nem por isso. O BE está a gostar do sabor do poder. E são evidentes os sinais de que o partido quer o seu quinhão de lugares na máquina do Estado. Eleições é coisa de que Catarina Martins nem deve querer ouvir falar. O Bloco ganhou, Costa também. Tem Catarina no bolso. 

Quem também está aninhado no bolso de Costa, mas por razões opostas, é Jerónimo de Sousa. O seu PCP está gasto e a sustentação do governo socialista parece ter tido o efeito de condenar os comunistas à irrelevância eleitoral. O PCP deverá agora encetar uma reflexão interna que tente a recuperação do partido. Ter o BE à frente é um sapo muito difícil de engolir. Mas neste estado comatoso, uma coisa é certa, não há camarada que queira eleições. Os míseros 3.95% de Edgar Silva replicados nacionalmente em legislativas nem davam para que o PCP enchesse o táxi – um tuk-tuk chegava. Dito de outro modo, é do interesse de Jerónimo manter vivo o Governo de Costa até que melhores dias cheguem (se chegarem). O PCP perdeu, Costa ganhou. Tem Jerónimo no bolso.

Esqueça as ameaças de rutura, o discurso de punho erguido e o protesto-logo-existo tão típico da extrema-esquerda. É tudo encenação política para não criar orfandade no eleitorado. Porque não há nada que Bruxelas queira e que o PS precise, que BE e PCP não viabilizem, incluindo o Orçamento do Estado, seja qual for a versão final.

Terceira e última razão que fez de Costa um vencedor chama-se oposição interna – ou falta dela. É hoje claro, para mal do PS e da democracia portuguesa, que a esquerda moderada está reduzida a uma sala do Palácio Praia no Rato. É a esquerda de inspiração syrizante que domina o Partido Socialista. Uma esquerda que nunca conhece derrotas. Só avanços. É a esquerda da crença inabalável no seu projeto político de “viragem da página da austeridade”.

O problema, para o qual os portugueses começam a estar particularmente atentos, é que não se pode ser eleito batendo na austeridade para a seguir ir a correr aumentar impostos. Ou que se demonize a austeridade e depois se decrete o seu fim em aumentos de 0.90€ para as reformas de miséria. Mas o “fim da austeridade” para a esquerda radical era isto? Há qualquer coisa que não bate certo neste “outro caminho”. 

Apesar das muitas vitórias de Pirro de Costa e do seu governo, tenho a convicção de que o PSD fará calmamente o seu caminho de alternativa responsável e confiável na oposição. Caminho esse que só pode ser o de uma social-democracia pragmática, que contrastará a todo o tempo com o ilusionismo socialista e a demagogia da coligação das esquerdas.

A sobrevivência política de Costa depende hoje de vitórias cantadas sobre derrotas. A sobrevivência do seu governo seguirá o mesmo padrão. A aprovação do orçamento será uma vitória, tal como é uma vitória o fim da austeridade por decreto. Os portugueses, esses, é que não vêm onde está o ganho e estão cada vez mais preocupados

Escreve à quarta-feira