A vitória de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta das presidenciais deixa o PSD em estado de euforia contida. Na família social-democrata ninguém ousa chamar até si a vitória. “É uma vitória de Marcelo. Ponto final parágrafo”, arruma um alto dirigente do PSD. E que ninguém pense que ter o ex-líder do PSD no mais alto cargo da nação, a fazer de árbitro da vida pública nacional, se traduzirá numa lotaria para o agora maior partido da oposição. “O PSD não deve achar que terá em Marcelo um aliado. Isso seria iludir-se”, avisa outro dirigente do partido ao i.
Na reação à vitória do Presidente da República eleito (toma posse a 9 de março), Passos sublinhou a “autoridade política” que os portugueses conferiram ao ex-comentador. E mais não disse. O líder do PSD manteve-se a léguas da corrida presidencial, apesar de ter recomendado o voto em Marcelo e de, durante a campanha, ter apelado uma vez, em São João da Madeira (numa ação de campanha para as autárquicas intercalares), à vitória de Marcelo na primeira volta.
Marcelo também não pediu mais. Pelo contrário, pediu o menos possível do PSD na sua campanha. Depois de ter sido excluído da moção com que Passos venceu o último congresso do partido, em 2014 (Passos assumia que o próximo Presidente não poderia ser um “protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou um cata–vento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político”), Marcelo construiu a sua vitória – como quis – sem o aparelho e os barões do partido.
Em Belém, promete ser igual a si próprio. “Não abdicarei de seguir o meu estilo e de agir de acordo com as minhas convicções”, disse na noite eleitoral, no átrio da Faculdade de Direito, em Lisboa. “Ninguém perceberia que colocasse os interesses partidários acima do interesse nacional”, acrescentou em jeito de aviso (mais um) às gentes do seu partido.
É com estes dados que Passos e o seu partido vão ter de preparar os próximos meses de oposição a António Costa, depois de o ex-primeiro-ministro assegurar a sua reeleição no conclave social-democrata, a 1, 2 e 3 de Abril. Em entrevista à Renascença, o líder do PSD confessou não estar à espera que Marcelo seja um fator de instabilidade. Ou seja, que à primeira oportunidade dissolva o parlamento. Mas nem sempre foi assim. Mal Costa tomou posse, com o apoio do BE e do PCP, dirigentes sociais-democratas acusaram desconforto com a colagem do então candidato presidencial à esquerda.
Em vésperas de congresso, Passos regressa à estrada em campanha para as diretas do partido. A vitória de Marcelo não servirá de bandeira para animar as tropas, afastadas do poder depois da vitória do PSD nas legislativas. Nem Marcelo, em Belém, deixará.